A minha esperança mora - Quesadilla

No vento e nas sereias –
É o azul fantástico da aurora
E o lírio das areias.
Sophia M. B. Andresen



Bate o dia preguiçoso e gostoso
tarde preguiçosa e gostosa
preguiçosa e gostosa noite

Em dias e noites de preguiça, quem quer ir para a cozinha?

"Quando nos restaurantes digo – Quiero quesadillas de flores callabaza! – tenho a impressão de que estou recitando um poema e não pedindo um prato." México, Érico Veríssimo.

Mas que sei eu



"Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha"


Ruy Belo, in "Monte Abraão", Todos os Poemas - 2, 2ª ed., Assírio & Alvim, 2004.

...indo na cola das idéias do Allan [saiba +]

E o saber ocupa imenso espaço.

Abre aspas para Anton Tchékhov

Um transgressor das concepções literárias baseadas na tradição, um homem dramático!

“Um reloginho de parede tiquetaqueia timidamente, como que embaraçado diante do homem estranho”.

chekhovEdgar Allan Poe ao fazer uma resenha crítica dos "Contos de Hawthorne", apresentou a teoria onde defende a existência de gêneros "mais favoráveis para o exercício de talentos mais elevados” (Poe, 1974, p. 14) e de forma hierarquica, listou em primeiro lugar, a poesia rimada, em segundo lugar, o conto e em terceiro, a novela qualificada como “mera prosa”.

Quanto à isto, mesmo leigamente assinei embaixo, ao afirmar que a poesia consegue moldar consciências, perpetrar conhecimentos históricos e preceitos morais, no mais, as formas de poesia nos passam a idéia de beleza e o conto, maior veracidade desta beleza, neste as emoções e necessidades psíquicas são descritas com maior propriedade.

Novas possibilidades estéticas surgiram no cenário literário, onde os elementos retirados da realidade, são mais enfatizados, do que a própria caracterização dos personagens.

"O ar está silencioso, mas tão frio e enfarruscado que mal se podem ver até mesmo as luzes dos postes de iluminação. Debaixo dos pés a lama soluça”.

Anton Pavlovitch Tchekhov nasceu em Taganrog, uma pequena cidade às margens do Mar de Azov e foi nos últimos 24 anos de sua breve e sofrida vida, o símbolo da transição para o novo século e das grandes mudanças sociais que viria a testemunhar.

Este novo movimento dramático, justificado como necessário, por ser veículo de expressão de um mundo, em que as antigas formas de expressão já não satisfaziam. O universo nascido da Revolução Indústrial, encontrou no realismo de Ibsen sua arena de debate e no de Tchekhov sua mais consistente e poética investigação.

Uma infância pobre e uma indesejada independência aos 16 anos, quando ficou longe da família para terminar o ginásio, ensinaram o jovem a lutar pela vida, o que fez usando o seu sentido cômico para escrever contos, que começou a publicar aos 20 anos, e equilibraram as finanças da família, já que a sua produção era imensa.

Para a formação do que viria a ser seu verdadeiro caminho, nada foi tão significativo, quando escreveu para a "Revista Fragmentos", cerca de três centenas de colunas intituladas "Fragmentos da vida de Moscou", uma espécie de "A vida como a vida é", que lhe firmou definitivamente a preferência pelos deserdados e os sofredores.

Morando em Moscou, foi com surpresa que Tchekhov descobriu, indo em visita à São Petersburgo, que já era uma figura consagrada, ocasião na qual Dmitri Grigorovich aconselhou-o a não desperdiçar mais seu talento em tolices de revistas de humor, convidando-o a ser colaborador de uma séria publicação "Novos Templos". Pouco tempo depois, ele fez sua primeira e precária experiência dramática com "Platonov", logo depois, seguido de "Brincadeiras", em atos melhores e bem aceitos.

Tchekhov é um autor generoso e é quase impossível falar de toda a sua obra, do período que seguiu as idéias de Tólstoi, de sua carreira na medicina que logo se voltou para o atendimento aos pobres, ou da primeira constatação de sua implacável condenação à morte, pela tuberculose.

Tudo isto, mais a longa viagem à Sibéria para visitar colônias penais, pesa na visão do mundo que se manifesta em suas grandes obras; mas nada nele antevê tão claramente as exigências do mundo novo, quanto sua implacável retratação da inércia dos russos no final do século XIX, sua incapacidade para agir, seu eterno desperdício de tempo, esmiuçando em palavras problemas a respeito dos quais nunca faziam nada.

"Para um homem de bem, a indiferença pode ser uma religião"

Acredito que ser médico foi de grande importância, para o seu modo de encarar os fatos:

"O médico não odeia o doente, mesmo quando vê que a doença é fatal e tudo o que o paciente fez para chegar àquele estado"

A solidariedade humana permiti a Tchekhov captar e aceitar todo o encanto de seus personagens decadentes, sem deixar por um só momento de saber e de demonstrar que estão irrecuperavelmente condenados; eles estão vivendo como em outras épocas, incapazes de perceber que os tempos mudaram. A pedra de toque de tudo que seu imenso talento criou, foi a compaixão pela humanidade que erra e que sofre.

"Onde não estamos é que estamos bem. Já não estamos no passado, e então ele parece-nos belíssimo."

No início foi acusado de escrever um "teatro sem ação", com o tempo e o desaparecimento dos preconceitos da "peça bem feita", provaram que os caminhos indiretos e interiorizados de Tchekhov têm muito mais força e profundidade do que as superficialidades da intriga óbvia; verdadeiro segredo do poeta foi o da constatação, de que:

"a vida não é destruída por grandes confrontações trágicas mas pelos pequenos, porém dolorosos e desgastantes tropeços do dia a dia".

Em suas maiores obras dramáticas - sobretudo o quarteto que o consagrou: "A gaivota", "Tio Vânia", "As três irmãs" e "O Jardim das cerejeiras" - a vida real, os fatos, ficam fora de cena; no palco vemos apenas reações a eles, vemos apenas a inércia que impede as mudanças necessárias. É impressionante a consciência com que Tchekhov, em tramas e circunstâncias completamente diferentes entre si, nos apresenta sempre como condenados justamente os donos do sucesso fácil, os egoístas que se recusam a encarar a verdade para poder usufruir de previlégios de um tempo que corre vertiginosamente para o seu fim; já os fracassados, os momentaneamente derrotados, são em última análise os que contem as sementes do novo mundo, livre do auto-engano, feito de coragem e trabalho, que Tchekhov antevê quando morre.

Tchekhov é, sem dúvida, um dos poucos grandes e ninguém conseguiu atingir como ele, um realismo que não abdica do engajamento da imaginação do leitor platéia, que confia nessa imaginação para criar personagens complexas, multifacetadas, longe de um preto/branco empobrecedor; ninguém, como ele, soube criar uma forma realista que abranja toda a poesia do sofrimento humano. Nada mostra Tchekhov como o poeta de um novo mundo tanto quanto o que aconteceu com "A Gaivota", sucesso fenomenal naqueles tempos e se tornando atemporal nos dias atuais.

Eu botei reparo neste poeta! Saindo um pouco do sério - este homem além de tanto talento, não é bonito? A beleza física dele é bem atual e não sei se na época que viveu (1860/1904), as moças enxergavam isto - hum... deixa pra lá! Sobre as relações amorosas, destaco duas frases, ótimas:

"Um homem e uma mulher se casam porque não sabem o que fazer consigo mesmos."

"Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre".

Outro reparo que se pode fazer a esse desbravador do novo século é, na verdade, o de ser um talento tão grande e tão especial que não pode ter vários seguidores: sua visão é tão pessoal, seu talento tão aguçado, que o modelo de Ibsen é que foi seguido - na quase totalidade dos casos, com total empobrecimento da forma usada pelo norueguês.

Vez por outra, ouvimos um elogio supremo, alguém dizer que esta ou aquela obra tem "toques tchecovianos", mas o universo antevisto pelo magistral Anton Pavlovitch Tchekhov, tanto em forma como em conteúdo, ainda está a vir...

“Ele não bate, não grita, tem muito mais virtudes que defeitos, mas, quando ele sai de casa, todos se sentem mais leves e saudáveis.”

Para complementação da leitura, recomendo a postagem do Milton Ribeiro.

Em tempo real: o que falam de Anton Tchékhov no twitter.

imagens Answer

Noite fria

Em determinado momento do conto "Der Mauerspringer" (Os Saltadores do muro, 1982), de Peter Schneider, o protagonista se dá conta de uma singular mudança de paradigma: - nos mapas de Berlim Ocidental, o Muro é assinalado por um tênue traço rosa que divide a cidade e, nos mapas da parte oriental, o mundo termina em uma faixa negra além da qual só existe o nada.

"Moro em uma cidade siamesa", diz ele, que passa os dias em busca da própria identidade no confronto com histórias do cotidiano em dois Estados jovens, nascidos depois da segunda guerra, mas ideologicamente opostos.


Vídeo “Bridge the Divide” em comemoração ao 20º aniversário do Muro de Berlim, mostrando o trabalho de Above

Flores, lágrimas, risos e champanhe. Novembro de 1989. As imagens do Muro de Berlim apinhado de gente tomando porres, cantando, chorando de alegria e em cenas raras na Alemanha, de beijos e abraços entre pessoas que nunca se viram fazem parte da galeria dos momentos gloriosos do século XX.

Desespero, coragem extrema, perseguição e morte. Desde que a estranha construção de placas de concreto e arame farpado foi erguida por unidades armadas da República Democrática Alemã, na noite de 13 de Agosto de 1961, alemães orientais jamais desistiram de cruzá-la e muitos chegaram do outro lado, através de túneis subterrâneos pacientemente cavados, nadando pelos tubos de esgotos, em estranhos aparelhos voadores ou simplesmente pulando o muro - Para reencontrar a família dividida, amigos, a liberdade. Mais de 200 perderam a vida.

muro de berlim

165,7 quilômetros de concreto e arame farpado. 300 torres de observação com guardas armados dia e noite. Na parte interna do muro "Faixa da Morte", salpicada de minas e mecanismos que, ao menor toque, detonavam poderosos feixes de luz. Também no pé da parte interna do muro, pregos de aço de 12 centímetros literalmente prendiam os corpos em queda. Por entre as cercas elétricas dos canais subterrâneos, só o que passava era o cocô das duas partes da cidade.

O Muro da Vergonha. Para os berlinenses, é Die Mauer, uma entidade misteriosa e ameaçadora, parecida com o castelo de Kafka com 30.000 soldados orientais para manter vigilância constante. Para os comunistas, este "muro de proteção antifascista", se destinava a impedir o brain drain de técnicos que debandavam para o lado ocidental em busca de melhores salários.

A condição de cidade dividida ao longo de décadas, fez de Berlim um lugar particular, em que o ódio e ressentimento cresciam na mesma proporção que a indiferença e do desinteresse. Auseinanderleben é um verbo de difícil tradução: "viver cada um para um lado oposto". O que ocorreu com alemães ocidentais e orientais, marcados durante quarenta anos por ideologias, possibilidades e sonhos opostos.

Foi História em rítmo acelerado o que aconteceu naquela noite fria de 9 para 10 de Novembro, coroando um movimento de revolução pacífica na Alemanha Oriental - à qual o ocidente assistiu incrédulo - e esboroando o regime da Alemanha Comunista. A população saiu da sombra; o regime do líder Erich Honecker tombou empurrado pela pressão crescente da oposição, levando de arrastão o muro. O movimento popular começara em Agosto, com centenas de alemães orientais refugiados em Berlim Oriental, Budapeste e Praga.

"Nós somos o povo. Nós somos o povo". Tímido no início e cada vez mais forte, o refrão se repetia toda segunda-feira em Leipzig, depois na missa de São Nicolau, ecoando pelas principais cidades do leste.

Em 7 de Outubro, 40º aniversário da RDA, o líder soviético Mikhail Gorbatchov, profere a célebre advertência: "Quem chega atrasado é punido pela História" - no caso, o regime alemão oriental, que ainda fechava os olhos diante da fuga em massa de seus cidadãos através de países vizinhos.

A panela de pressão estourou! Egon Krenz, sucessor de Honecker, telefonou para Gorbatchov e este recomendou que a fronteira entre as Alemanhas devia ser aberta como válvula de escape, prevenindo uma rebelião que poderia pôr fim ao controle comunista.

O muro foi erguido por determinação de um líder soviético, Kruchov, e derrubado por ordem de outro. Sua queda espantosamente súbita marcou o fim da divisão do mundo em duas doutrinas, a comunista e a capitalista.

Na noite de 9 de Novembro, o porta-voz Günther Schabowski, membro do Politburo, lê um comunicado vago dizendo que os alemães orientais podem solicitar viagens particulares. Assombrados, nem todos os guardas de fronteira conseguem interpretar o enigmático comunicado. Nem precisam, já não dá para conter.

muro de berlim
Veja imagens históricas da queda do Muro de Berlim

Às 21h30m um jovem casal chegou à passagem da Bornholmer Strasse, apresentou o documento de identidade e atravessou para Berlim Ocidental. Em poucas horas, as massas forçam a travessia nos pontos de passagem, realizam o sonho de cruzar o muro sem perigo de levar um tiro, e são recebidos com euforia, fogos de artifício e batucada, e, melhor entre os presentes, 100 marcos, o cobiçado dinheiro alemão ocidental.

Em 1999, sentindo o preço da unificação dolorosamente em seus bolsos, os alemães ocidentais, desinteressados do destino de seus primos do leste, seguem suas vidas. Do "outro lado", independentemente da idade é preciso começar dramaticamente do zero. No lugar das "Paisagens Florescentes" imaginadas por Helmut Kohl, existia desemprego, desilusão e uma disparidade salarial ainda grande, comparada com o Oeste.

A divisão de Berlim foi, durante quase 30 anos, um marco de desesperança e se prestou a uma guerra de propaganda sórdida em que, entre mortos e feridos, ninguém se salvou, psicologicamente.

Os "restos" do muro ainda estão nas cabeças. São grandes os desafios para evitar que se concretize o vaticínio do final de "Der Mauerspringer": "Estes muros ainda estarão de pé quando não houver mais ninguém para passar por eles".

Em tempo: para participar da comemoração da queda do Muro de Berlim, você pode deixar mensagens, via twitter acrescida da hashtag #fotw sobre o evento, que aparecerão no muro virtual Berlin Twitter Wall, em diversas línguas. Mesmo que você não queira postar no twitter, super legal ler as mensagens, principalmente das pessoas que passaram por essa parte da História. Ah, a China bloqueou o acesso. Lógico!


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E naquela vibrante madrugada de quinta para sexta, do 9 para o 10 de Novembro de 1989, provou-se que nem tudo dura para sempre.

Leia algumas opiniões:
  • "Mas quando todas a fronteiras possíveis caíram, de repente ficamos com medo e constatamos que somos uma sociedade de mentalidade estreita, que não quer impulsos de fora"
  • ...a queda do Muro "levou uma multidão em direção à merda nacional": "O orgulho nacional reavivado e o desejo de ser alemão são cada vez mais consenso nacional"
  • "[Na Moldávia], de fato, tudo está como antes, não temos uma democracia de verdade"
  • "Antes era tudo proibido. Agora as pessoas pensam que democracia significa 'nós podemos fazer tudo', podemos até matar alguém. É uma interpretação muito estranha de democracia. E é assim, não só no meu país, como em diversas ex-nações soviéticas"
    Opiniões de Jovens dramaturgos do Instituto Goethe de Londres, que apresentam festival com peças da Polônia, Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Sérvia e Romênia, em busca da expressão artística para a queda do Muro e suas consequências. [leia matéria]
Muitos alemães dizem que o muro ainda é perceptível e outros, vão mais além, querendo-o de volta. O que você acha disso?

O enigma da maldade

Influência demoníaca, destino genético, má formação social, ausência de caráter, prazer, instinto adquirido, revolta ou livre arbítrio. Como definir a origem do mal?
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