O enigma da maldade
Influência demoníaca, destino genético, má formação social, ausência de caráter, prazer, instinto adquirido, revolta ou livre arbítrio. Como definir a origem do mal?
Nada mais humano que a maldade. Só o homem, entre todos os animais, é capaz de torturar, humilhar e matar, para além do instinto de sobrevivência. Crianças exterminam gatos a pauladas, explodem sapos com cigarro aceso, furam olho de passarinho. Pais violentam os próprios filhos. E jovens bem educados e bem nutridos colocam fogo em mendigos. Exemplos de pequenas e grandes crueldades não faltam na história da humanidade. A cada episódio, a velha questão volta a incomodar: Qual a origem de tanta maldade?
Qualquer tentativa de resposta é sempre controvertida e costuma dividir as opiniões de filósofos, religiosos e cientistas. Culpa do demônio, simplificam uns. Da educação ou da família, respondem outros. Tão antiga quanto o sentimento que a motiva, a discussão começa a ganhar novos contornos com os recentes avanços da genética. São estudos ainda precários para que se possa determinar uma sentença final. Mas uma coisa é certa: o enigma da maldade nunca será esclarecido por completo. E a tentativa de decifrá-lo pode ser tão cruel quanto a sua essência.
O caminho mais perigoso é certamente o da genética, porque pode levar a conclusão de que a maldade é inata. O que significa que nada poderia ser feito para mudá-lá. E tentador, porque explicaria sem necessidade de maiores reflexões atos de uma crueldade tão gratuita que parecem incompreensíveis.
Como explicar, por exemplo, o que levou a professora carioca Edilva Maria dos Santos, viúva de classe média, dois filhos adultos, que aceitou criar o filho de quatro anos de uma ex-empregada, a torturá-lo de forma brutal durante meses a fio até o garoto aparecer morto, com os dentes arrancados, a língua sem um pedaço, marcas de cinto e mordidas de rato por todo o corpo? Ela foi examinada por um psiquiatra que não encontrou nenhum sintoma de distúrbio mental e acreditou ser apenas uma vazão de sentimentos que estavam a muito tempo represados dentro dela.
Quem nunca se flagrou imaginando esganar o chefe, mesmo que de mentirinha? Sabemos que entre sonhar em fazer o mal e fazer o mal, há uma grande diferença. Mas porque alguns vão adiante? O freio para esses impulsos seria a formação da personalidade. Algumas pessoas são mesquinhas, invejosas e reagem mal às frustrações.
Se um geneticista examinasse o caso, a interpretação seria mais alarmante. Diria que o fator genético e comportamento humano está completamente ligado com a violência e a maldade. Alguns já nascem mais agressivos e a chave dessa agressividade seria a Serotonina – um neurotransmissor responsável pela difusão de mensagem de um neurônio para o outro, tais como: humor, desejo sexual, sono, depressão, ansiedade, medo e ira. Citando apenas alguns sentimentos e sensações.
Mas a genética não é destino e não pode ser usada como desculpa para qualquer atitude social. Algumas pessoas têm maior potencial para a agressividade mas cada um desenvolve essa tendência de forma diferente. Tudo depende de uma escolha pessoal ou do ambiente em que vive.
Jean-Jacques Rousseau, iluminista do séc. XVIII, acreditava que o homem nascia livre para escolher e predisposto à virtude. O homem em seu estado puro seria inocente e pacífico. Viria depois, o rancor, inveja, malícia e agressividade. Os outros é que pervertiriam e destruiriam sua inocência.
Voltaire, também tinha horror à idéia da maldade nata. Porque então haveria tanta gente contaminada pela maldade?
Se Voltaire pudesse visitar áreas miseráveis de países como o Brasil, iria identificar muitos focos dessa doença. Lugares onde a maldade é corriqueira e o livre arbítrio para escapar dela quase uma ficção.
A criança é um produto do meio, se ela vive em um ambiente em que a violência rende dividendos e a faz respeitada, é estimulada a ser cada vez mais agressiva. E muitas vezes essa agressividade começa dentro de casa. A sociedade é parcialmente culpada por episódios de violência, a culpa seria da falta de valores éticos e morais.
Veja o caso desses políticos envolvidos no "Valerioduto/1998”; eles podem lesar o patrimônio do país em milhões, prejudicar a vida de meio mundo e nem por isso ser considerados contraventores sociais. Eles serão punidos como? Irão para a prisão ou farão tratamento psicológico? A idéia de crime vem depois da organização social? (o STF se reuniu para julgar apenas o senador Eduardo Azeredo porque ele é o único dos acusados com foro privilegiado. Os demais estão sendo julgados pela Justiça comum - 04/11/09)
Existem famílias extremamente condescendentes com os erros dos filhos. Fazem tantas concessões, que correm o risco de tornar os filhos ineducáveis. E a ausência de valores é certamente uma das origens da maldade. Quando o lado mais perverso é exacerbado, é porque está faltando atenção e carinho.
Por mais que a ciência avance, ela jamais será capaz de explicar o motivo pelo qual um mero instinto de agressividade se transforme em requintados atos de maldade.
Vale ressaltar que a agressividade instintiva é um recurso saudável, que ajuda o sujeito quando ele está ameaçado, na manutenção da espécie e luta para a sobrevivência. Mas o humano detém a capacidade de montar estratégias e manipular a agressividade para atingir o outro. Um animal ataca na hora e não guarda rancor, não manipula...não guarda mágoas...
Esta foi a minha contribuição, meu elo nesta corrente entre os blogues, para podermos refletir, agir dentro de nossas casas, de nosso ambiente de trabalho, entre amigos e conhecidos.
Finalizando com Clarence Darrow:
"Os homens não constroem para hoje. Não constroem para o amanhã. Constroem para os séculos, para as idades"
Nada mais humano que a maldade. Só o homem, entre todos os animais, é capaz de torturar, humilhar e matar, para além do instinto de sobrevivência. Crianças exterminam gatos a pauladas, explodem sapos com cigarro aceso, furam olho de passarinho. Pais violentam os próprios filhos. E jovens bem educados e bem nutridos colocam fogo em mendigos. Exemplos de pequenas e grandes crueldades não faltam na história da humanidade. A cada episódio, a velha questão volta a incomodar: Qual a origem de tanta maldade?
Qualquer tentativa de resposta é sempre controvertida e costuma dividir as opiniões de filósofos, religiosos e cientistas. Culpa do demônio, simplificam uns. Da educação ou da família, respondem outros. Tão antiga quanto o sentimento que a motiva, a discussão começa a ganhar novos contornos com os recentes avanços da genética. São estudos ainda precários para que se possa determinar uma sentença final. Mas uma coisa é certa: o enigma da maldade nunca será esclarecido por completo. E a tentativa de decifrá-lo pode ser tão cruel quanto a sua essência.
O caminho mais perigoso é certamente o da genética, porque pode levar a conclusão de que a maldade é inata. O que significa que nada poderia ser feito para mudá-lá. E tentador, porque explicaria sem necessidade de maiores reflexões atos de uma crueldade tão gratuita que parecem incompreensíveis.
Como explicar, por exemplo, o que levou a professora carioca Edilva Maria dos Santos, viúva de classe média, dois filhos adultos, que aceitou criar o filho de quatro anos de uma ex-empregada, a torturá-lo de forma brutal durante meses a fio até o garoto aparecer morto, com os dentes arrancados, a língua sem um pedaço, marcas de cinto e mordidas de rato por todo o corpo? Ela foi examinada por um psiquiatra que não encontrou nenhum sintoma de distúrbio mental e acreditou ser apenas uma vazão de sentimentos que estavam a muito tempo represados dentro dela.
Quem nunca se flagrou imaginando esganar o chefe, mesmo que de mentirinha? Sabemos que entre sonhar em fazer o mal e fazer o mal, há uma grande diferença. Mas porque alguns vão adiante? O freio para esses impulsos seria a formação da personalidade. Algumas pessoas são mesquinhas, invejosas e reagem mal às frustrações.
Se um geneticista examinasse o caso, a interpretação seria mais alarmante. Diria que o fator genético e comportamento humano está completamente ligado com a violência e a maldade. Alguns já nascem mais agressivos e a chave dessa agressividade seria a Serotonina – um neurotransmissor responsável pela difusão de mensagem de um neurônio para o outro, tais como: humor, desejo sexual, sono, depressão, ansiedade, medo e ira. Citando apenas alguns sentimentos e sensações.
Mas a genética não é destino e não pode ser usada como desculpa para qualquer atitude social. Algumas pessoas têm maior potencial para a agressividade mas cada um desenvolve essa tendência de forma diferente. Tudo depende de uma escolha pessoal ou do ambiente em que vive.
Jean-Jacques Rousseau, iluminista do séc. XVIII, acreditava que o homem nascia livre para escolher e predisposto à virtude. O homem em seu estado puro seria inocente e pacífico. Viria depois, o rancor, inveja, malícia e agressividade. Os outros é que pervertiriam e destruiriam sua inocência.
Voltaire, também tinha horror à idéia da maldade nata. Porque então haveria tanta gente contaminada pela maldade?
Se Voltaire pudesse visitar áreas miseráveis de países como o Brasil, iria identificar muitos focos dessa doença. Lugares onde a maldade é corriqueira e o livre arbítrio para escapar dela quase uma ficção.
A criança é um produto do meio, se ela vive em um ambiente em que a violência rende dividendos e a faz respeitada, é estimulada a ser cada vez mais agressiva. E muitas vezes essa agressividade começa dentro de casa. A sociedade é parcialmente culpada por episódios de violência, a culpa seria da falta de valores éticos e morais.
Veja o caso desses políticos envolvidos no "Valerioduto/1998”; eles podem lesar o patrimônio do país em milhões, prejudicar a vida de meio mundo e nem por isso ser considerados contraventores sociais. Eles serão punidos como? Irão para a prisão ou farão tratamento psicológico? A idéia de crime vem depois da organização social? (o STF se reuniu para julgar apenas o senador Eduardo Azeredo porque ele é o único dos acusados com foro privilegiado. Os demais estão sendo julgados pela Justiça comum - 04/11/09)
Existem famílias extremamente condescendentes com os erros dos filhos. Fazem tantas concessões, que correm o risco de tornar os filhos ineducáveis. E a ausência de valores é certamente uma das origens da maldade. Quando o lado mais perverso é exacerbado, é porque está faltando atenção e carinho.
Por mais que a ciência avance, ela jamais será capaz de explicar o motivo pelo qual um mero instinto de agressividade se transforme em requintados atos de maldade.
Vale ressaltar que a agressividade instintiva é um recurso saudável, que ajuda o sujeito quando ele está ameaçado, na manutenção da espécie e luta para a sobrevivência. Mas o humano detém a capacidade de montar estratégias e manipular a agressividade para atingir o outro. Um animal ataca na hora e não guarda rancor, não manipula...não guarda mágoas...
Esta foi a minha contribuição, meu elo nesta corrente entre os blogues, para podermos refletir, agir dentro de nossas casas, de nosso ambiente de trabalho, entre amigos e conhecidos.
Finalizando com Clarence Darrow:
"Os homens não constroem para hoje. Não constroem para o amanhã. Constroem para os séculos, para as idades"
Pensar sobre a origem do mal me assusta... "Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você" (Nietzsche)
ResponderExcluirEssa postagem faz pensar...
Bjs.
Nossa, perfeita tua abordagem sobre o assunto. Seja qual for a origem, q as pessoas busquem livrar-se da maldade q causa estragos diversos.
ResponderExcluirAbraços, bom fim d semana.
Luma, achei ótimo esse tópico. A origem da maldade, dos diversos tipos de violência, é mesmo um enigma, uma combinação de uma série de fatores. Um que acho importante é a perda cada vez maior dos valores ditos "humanistas": ética, solidariedade, respeito etc.
ResponderExcluirHoje em dia, 90% das notícias são sobre crimes, corrupção, tráfico de drogas, assaltos, destruição do meio ambiente...
Beijos da Ursa
ResponderExcluirO MAL se contrapõe ao BEM.
O Bendito versus o Maldito.
O que não é BOM, não é necessariamente MAU.
Não seria o correto dizer que
"quem não pratica a bondade, pode estar fazendo uma maUdade..."?
Mas eu fui ao dicionário e descobri que
não existe "maudade", só existe maldade!
Que pecado!
Bem, mas existe saudade... bom, seria o mal da idade??
Quanto à maldade só nos homens, é uma abordagem tanto demagógica, tendenciosa...
Eu já vi gato torturar rato, "brincando" com a comida. Se tinha consciência disto ou não, isto é outra história; pois afinal, até hoje se discute se os animais pensam ou não (pessoalmente não tenho dúvida que sim).
Se o Homem foi feito à imagem e semelhança de Deus,
o Demônio/Diabo foi certamente inventado à imagem e semelhança do Homem!
Acho que Rousseau e Voltaire nunca tiveram e educaram filhos, senão pensariam diferente. rsss
Também tenho convicção que a Sociedade (=civilização, convívio social) foi estabelecida com regras (informais ou leis) como conseqüência natural para conter a maldade humana.
Portanto, sou favorável à censura, comedida e sem exageros, pois liberdade sem responsabilidade é anarquia/caos.
Se o homem é incapaz de se auto-impor essa responsabilidade, é preciso que ela seja lhe dita e policiada por outros.
Da mesma forma é preciso que se fiscalize os censores, os legislativos e executores, pois também são humanos.
O grande trunfo da Humanidade é seu talento, inteligência e sensibilidade.
E, ironicamente, a sua salvação está em seus defeitos.
Olá Luma!
ResponderExcluirÓtimo o tema abordado por você, atual, preocupante, sem falar que, como você mesmo o coloca, sem resposta precisa para o que de fato leva o ser humano a praticar maldades cada dia de formas mais cruéis e assustadoras. Eu, que trabalho com a Educação Infantil, tenho me assustado muito com o que vejo como comportado em minha turminha de apenas quatro anos de idade. Em minha salinha tenho casal de namorados, que juram de morte o outro por ciúmes - "Vou trazer o revolver de meu pai e vou lhe matar." Ao ouvir isso de um aluno, busquei por sua mãe do por que, o que a mãe me disse estar namorando e o pai fala pro filho (a criança), que ira matar a mãe se ela continuar com o namorado. Enfim, é muito triste ver isso ser dito por uma criança de apenas 4 anos, mas ao mesmo tempo além fator da genética, o que tem me preocupado muito, é o meio em que essas crianças estão sendo criadas, o excesso de informações negativas que elas recebem e absorvem no dia a dia. Acho que tudo isso tem contribuído pra distúrbios de comportamentos cada fez mais preocupantes nesse quesito “MALDADE HUMANA”. Mas, sejam lá quais forem às razões, é algo preocupante e que temos que fazer o que você faz, questionar, levar o assunto pra ser discutido e quem sabe assim encontrarmos não somente repostas como também saídas, soluções para questões tão negativas a nossa sociedade.
Parabéns pelo Post!
Abraços!
Seus textos podem ser discutidos em aula de sociologia. São muitos bons.
ResponderExcluirCom carinho Monica
Luma, logo que entrei aqui e vi o gato lembrei do filho de uma amiga que colocou o dele dentro do microondas e foi o quanto deu tempo dela salvar. Ele tinha problemas com drogas.
ResponderExcluirA Lenise Toledo falou bem o que eu penso e acho que as drogas fazem piorar a situação.
Ah! Aquela flor que perguntaste o nome eu não sei. Tiro fotos de tudo quanto é flor que vejo para o meme de domingo, às vezes consigo descobrir o nome, mas daquela não.
Bjim, cosquirídia.
Oi Luma!
ResponderExcluirPedindo desculpas por estar em falta contigo. Ando muito atarefada om o final do ano. Inventou zil~oes de coisas para fazer e presentear que fico toda atrapalhada. E de quebra tem o casameto do filho mais velho. Então já viu, gostaria que o dia tivesse mais uma cinco horas.
Esse tema que você chega a me amedrontar. Pois vivemos essa violência a cada instante de nossas vidas. Aqui em minha cidade tá difícil e preocupante. Tinha baixado o nível de violência mas não se sabe por que tudo voltou. As autoridades já estão em alerta.
Vivemos em mundo por demais violento, a começar entre famílias onde a paz deveria reinar.
Seu texto me informou muito e esta perfeito.
E os comentários merecem uma bela postagem.
Beijos minha linda e que Deus te abenço e te guarde, só por Deus mesmo!
Excelente texto, sobretudo para refetir e examinar o que pode ser feito. Vejo a questão como causa e efeito, ou seja, olho por olho, dente por dente. Praticou o mal, então tem que pagar com a mesma moeda e que se dan os direitos humanos.
ResponderExcluirBjs.
Janeisa
Bom o texto está brilhante. Acredito que a origem do mal venha da falta de amor...
ResponderExcluirabraços de paz,
Hugo
Luma,
ResponderExcluirSeu blog foi selecionado para o Deslinks da Semana [7]. http://migre.me/aR9i.
Parabéns pelo ótimo post!
Abs!
Luma, acho que a genética influi e que alguns nascem mais propensos que outros para a agressividade que pode se tornar maldade. Aí interfere o meio no qual a pessoa vive, a educação que recebe, e em função dela esta agressividade pode ser canalizada em energia para o bem ou para o mal. O problema é que parece que hoje em dia a bondade é sinônimo de fraqueza e o que vale é a "lei da selva"...como você disse, é preciso uma revisão de valores.
ResponderExcluirBeijos e um bom fim de semana.
Hoje é meu aniverario. Reli o seu texto e continuo achando que és profissional.
ResponderExcluirCom carinho Monica
Pesquisas científicas revelaram que cerca de 3% a 6% da população mundial é composta de psicopatas. Num universo de bilhões de pessoas, vemos que é um número expressivo.
ResponderExcluirA maldade é intrínseca ao ser humano. Tomos temos demônios vivendo em nós. Apenas o nosso senso de ética e nossas convenções culturais e sociais nos impedem de dar ouvidos a eles.
Olá, procurei a história dessa professora que vc citou, Edilva Maria dos Santos e não achei nenhuma referência. Poderia citar alguma?
ResponderExcluirObrigada!
Olá, procurei a história dessa professora que vc citou, Edilva Maria dos Santos e não achei nenhuma referência. Poderia citar alguma?
ResponderExcluirObrigada!