Quando caminhamos por alguns centros históricos do Brasil, temos amostras do nosso patrimônio cultural representado por casarios, monumentos, igrejas, entre outras construções. Também constatamos ao passear por essas esquinas - o descaso e má conservação - mesmo com as esforços permanentes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (
IPHAN) que a mais de 70 anos fiscaliza, identifica, restaura e revitaliza, sítios e bens móveis do país.
A demanda é grande e por isso a parceria com instituições e empresas públicas e privadas para captar recursos, se valendo da
Lei Rouanet de incentivo à cultura.
Recentemente pude comprovar de perto as obras de restauro e revitalização do
Complexo Arquitetônico do Convento de Santo Antônio, no centro do Rio de Janeiro com o patrocínio da Petrobras e BNDES.
Estes patrocínios aumentam as chances da concretização de projetos e dá espaço para profissionais da área exerceram sua responsabilidade técnica - a mão de obra é intensiva e em plena expansão, atravessando fronteiras; como aconteceu com o arquiteto e urbanista Ronaldo José da Costa que obteve recentemente grande respeito no meio acadêmico português com o projeto de restauro da
Igreja Matriz de São Gonçalo e a convite das Universidades de
Lisboa,
Coimbra,
Évora e do
Porto, apresentou seu trabalho final de graduação para alunos e profissionais locais. Projeto este que já foi aprovado pelo arcebispo responsável e esperando captação de recursos para realização do trabalho.
Fomentando o turismo e a cultura também do interior fluminense, foi realizado um inventário de 130 fazendas do vale do café. Este programa de educação, valorização, conhecimento e proteção do patrimônio é voltado exclusivamente para a população local e proprietários de imóveis.
O trabalho é duro. Este inventário das 130 fazendas é apenas uma parte do processo - o primeiro passo para a avaliação do que merece ser tombado ou não. Além das fazendas, há também o pedido de tombamento por parte de outros proprietários que querem integrar seu patrimônio a um circuito cultural e turístico. Estes proprietários agora entendem que podem recorrer às leis de incentivo fiscal para restaurar e manter suas propriedades em boas condições.
O estudo da arquitetura rural fluminense do ciclo de café e o reconhecimento da importância histórica-sócio-econômica da região, traz informações além das que já existiam e que estavam pulverizadas em extensas bibliografias - a sistematização é importante para a instrumentalização de pesquisadores, no estabelecimento de políticas de produção de projetos e planos de financiamentos turísticos e de restauração.
Veja todo o material produzido pelo inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense, no Caderno de Conservação Preventiva e Preservação Arquitetônica das Edificações Remanescentes,
aqui.
Não somente o Estado do Rio de Janeiro entrou no circuito de restauração de patrimônios. O litoral paulista agora chama por um outro público, além das milhares de pessoas que descem a serra, atraídas pelas belezas de suas praias, algumas verdadeiros paraísos, pois ainda não perderam o encanto com a interferência do homem.
Favorecida pelo clima tropical, a região concentra uma das maiores biodiversidades do planeta, com espécies de fauna e flora, que podem ser aprecidas em
trilhas ecológicas, no meio da exuberante
Mata Atlântica.
A baixada santista ganhou um novo impulso, que agrega valor cultural às riquezas naturais já existentes: o
Circuito dos Fortes. Um roteiro criado para dar aproveitamento turísticos a patrimônios históricos, localizados em Bertioga, Guarujá, Praia Grande e Santos.
O passeio inclui visitas às fortalezas construídas entre os séculos XVI e XX, mostrando o que guarda cada patrimônio em um panorama resumido, dos aspectos históricos, construtivos, culturais tecnológicos e geográficos do país.
Em Praia Grande, a atração é a
Fortaleza do Itaipu, construída no início do século XX, em uma área ocupada por três sítios: Itaipu, Prainha e Itaquitanduva.
Em Santos, os interessados podem conhecer a
Casa do Trem Bélico - trata-se de uma construção do século XVII, que era usada para armazenamento de armas e munições e por isso, a única construção além dos fortes, que entrou no "Circuito dos fortes".
A imagem acima é da Bolsa do Café, atualmente
Museu do Café Brasileiro, também em Santos - que postei somente em protesto, pois não entrou no pacote de conservação de patrimônios.
O município de Santos ainda conserva a história do
Forte Augusto, também erguido no século XVII. A fortaleza foi construída em batalha, no fim do século XIX, dando lugar ao casarão, construído em 1908, que abriga o
Museu de Pesca (
veja imagem)
Em Guarujá, foram construídas quatro fortalezas, mas apenas três estão em condições de visitação. O município foi geograficamente desenhado pela natureza em forma de dragão. Na cabeça do animal está a
Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande e sobre a cauda, as ruínas do
Forte São Felipe, que formam um conjunto erguido no século XVI.
Também integram o roteiro da cidade, o
Forte dos Andradas, do século XX e o
Forte do Itapema (imagem abaixo), cuja primeira construção data do século XVI, localizada no Distrito de Vicente de Carvalho.
Em Bertioga, os visitantes têm a oportunidade de conhecer o local que abrigou a primeira fortaleza militar construída no Brasil, em 1532: o
Forte São João.
Você pode fazer esse roteiro do "Circuito dos Fortes" por via terrestre ou náutica, com agendamento prévio nas agências de turismo cadastradas nas respectivas localidades.
E hoje, começa a
SEMANA DE CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS, (15 a 18 de Dezembro) no
Museu Victor Meirelles em Florianópolis/SC em parceria com o
Museo Nacional del Prado – Madrid/Espanha e o
Museo Thyssen-Bornemisza – Madrid/Espanha, com oficinas teóricas: perspectivas da contemporaneidade, composta por um conjunto de oficinas teóricas gratuitas que têm como objetivo principal oferecer oportunidades de reflexão e de formação sobre a preservação e a conservação do patrimônio cultural numa perspectiva contemporânea e contará com a participação de autoridades em conservação e restauração da Espanha e do Brasil, com atuações destacadas e trabalhos reconhecidamente importantes [
veja programação]
A proveitando a oportunidade, gostaria de propagar a campanha do IPHAN que atenta a população sobre o
crime da compra e venda de patrimônio histórico -
Veja o filme da campanha e também a
lista e fotos dos bens procurados.
Se você, de Norte à Sul do país, quiser fazer um passeio pelos
bens materiais tombados na localidade onde mora ou na localidade mais perto, consulte o site do
IPHAN.
Não se esqueça que,
patrimônio cultural pode ser também imaterial, transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do ambiente, integração com a natureza e sua história, gerando sentimento de identidade e continuidade,
promovendo o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
Promova a cultura, prestigie nosso patrimônio!
Além de estar participando pessoalmente da semana de conservação dos bens culturais, este blogue traz este post também como parte integrante do
Tertúlia Virtual, com o
Tema: Brasil e que acontece no início da segunda quinzena de todos os meses. Como não haveria de ser, tratando-se de um tema que corre em paralelo, participa também da blogagem coletiva promovida por
Andréa Motta:
Coisas do Brasil II,