Homem deseja sem amor, a mulher deseja sem amar

Pelo vidro da cafeteria vejo uma dessas pessoas que vivem de reciclagem de lixo, puxando uma carrocinha de madeira – será que ela se interessaria pela afirmativa da frase-título?

A vida corre em paralelo com os anônimos, "semi anônimos", conhecidos e "quase desconhecidos", sem que os dramas de cada um interfiram na vida do outro. Não está acontecendo nada, mesmo que um bonitão pare do outro lado do vidro e te dê um tchauzinho quase esfregando a mão no vidro. Com pensamento longe, dou um sorrisinho enviesado e olho rapidamente seus sapatos – discretos no estilo Village – e na minha eficiência comunicativa, devolvo o tchauzinho. Ele olha a cadeira ao lado e indico que está reservada. Coração reservado. 

O moço vai embora passando a mão pelos cabelos, como se fizesse propaganda de xampu e atrás dele vem um outro rapaz com o ouvido trancado em seu iPod. Ambos ultrapassam duas velhinhas que andam de braços dados. O mundo não está perdido – as pessoas têm ambições e inventam jogos de vida. Traçam Destinos.

A frase-título desse post é fascinante e escandalosa, assim como o seu autor Nelson Rodrigues. Ela faz parte de sua última peça “A Serpente”.

Começa a tocar uma balada de John Coltrane e releio mais uma vez, a citação de Victor Hugo, enviada por um amigo: “As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade” - As palavras têm o mesmo peso de quem as profere.

Tem quem não goste de... Encarar as palavras.