Homenagem ao Cronista Maior
Não sei se Rubem Braga chegou a ter alguma de suas crônicas ilustradas por J.Carlos. Se teve, nada mais adequado.
Aquele fino traço do grande desenhista, associado à caricatura leve e brejeira a emotividade lírica, correspondia com exatidão ao texto do grande cronista.
J.Carlos era, com exatidão, o Rubem Braga do desenho, assim como Rubem Braga, também com exatidão, seria o J.Carlos da crônica, em condições de dar ao texto breve a luz, a cor, o movimento, a graça, emocionando, fazendo sorrir, sem lhe falhar sequer a concordância de uma singularidade específica que os tornava inconfundíveis.
Querem a prova? Vejam, na coleção do Para Todos, de O Malho e de Careta, as ilustrações de J.Carlos. Leiam em seguida as crônicas de Rubem Braga com sua arte de reter a atenção do leitor, o tempo que vai fluindo, a impressão, a anedota, o perfil de breves traços, pretexto para uma prosa irretocável.
Quem tem experiência profissional da revista e do jornal, sabe que há dois estilos de crônica: um, ajustado à revista; outro, ajustado ao jornal. Este, mais próximo da flagrante essencialmente poético em que Rubem Braga era o mestre incomparável.
Um velho crítico francês, Sainte-Beuve, estudando uma das obras-primas da cultura literária universal, a Introdução à Vida Devota, reconheceu que bastava que seu autor, São Francisco Sales, terminasse de escrevê-la, para que seu período estivesse perfeito. Nada mais que o ato de levantar a pena da folha de papel. Não precisava retocá-lo. O que tinha de dizer estava dito. E no tom que individualizava o texto, ajustado à assinatura do escritor.
Assim também o nosso Rubem Braga.
Convém assinalar ainda outro traço distinto do grande cronista: sua crônica, ao começo ao fim da vida de seu autor, não precisou descrever uma linha evolutiva. Surgiu como devia ser. Com um tom próprio. Com um modo de ser que imediatamente a individualizava. Plenamente amadurecida.
Por vezes, se a crônica volvia aos velhos temas, sempre encontrava recursos novos, sem deixar de ajustar-se ao molde perfeito, que vinha de suas origens.
Aquele fino traço do grande desenhista, associado à caricatura leve e brejeira a emotividade lírica, correspondia com exatidão ao texto do grande cronista.
J.Carlos era, com exatidão, o Rubem Braga do desenho, assim como Rubem Braga, também com exatidão, seria o J.Carlos da crônica, em condições de dar ao texto breve a luz, a cor, o movimento, a graça, emocionando, fazendo sorrir, sem lhe falhar sequer a concordância de uma singularidade específica que os tornava inconfundíveis.
Querem a prova? Vejam, na coleção do Para Todos, de O Malho e de Careta, as ilustrações de J.Carlos. Leiam em seguida as crônicas de Rubem Braga com sua arte de reter a atenção do leitor, o tempo que vai fluindo, a impressão, a anedota, o perfil de breves traços, pretexto para uma prosa irretocável.
Quem tem experiência profissional da revista e do jornal, sabe que há dois estilos de crônica: um, ajustado à revista; outro, ajustado ao jornal. Este, mais próximo da flagrante essencialmente poético em que Rubem Braga era o mestre incomparável.
Um velho crítico francês, Sainte-Beuve, estudando uma das obras-primas da cultura literária universal, a Introdução à Vida Devota, reconheceu que bastava que seu autor, São Francisco Sales, terminasse de escrevê-la, para que seu período estivesse perfeito. Nada mais que o ato de levantar a pena da folha de papel. Não precisava retocá-lo. O que tinha de dizer estava dito. E no tom que individualizava o texto, ajustado à assinatura do escritor.
Assim também o nosso Rubem Braga.
Convém assinalar ainda outro traço distinto do grande cronista: sua crônica, ao começo ao fim da vida de seu autor, não precisou descrever uma linha evolutiva. Surgiu como devia ser. Com um tom próprio. Com um modo de ser que imediatamente a individualizava. Plenamente amadurecida.
Por vezes, se a crônica volvia aos velhos temas, sempre encontrava recursos novos, sem deixar de ajustar-se ao molde perfeito, que vinha de suas origens.
Daí a unidade expressional da obra de Rubem Braga. Sobretudo mestre da crônica de revista, que exigia a paz do fim de semana para ser lida e relida. A ponto de fazer da falta de assunto o seu assunto - sem que Rubem Braga experimentasse jamais aquela terrível sensação vivida por Eça de Queiroz quando dizia que, para escrever a crônica, ficava com a pena a apontar para o papel, sentindo que estava a espremer um limão seco.
Rubem Braga jamais viveria esse momento. Sempre fluente. E lírico. Mesmo diante do drama ou da tragédia. Com o poder de dar expressão à banalidade da vida corrente, insuflando-lhe admiravelmente o rigor e a duração da obra de arte.
A crônica, por sua própria natureza, é um gênero que se desfaz com o passar do tempo. Mudam os temas, mudam os assuntos, a própria vida se modifica. É natural que a crônica, espelhando os momentos fugidos, também passe, levando consigo os velhos cronistas.
No caso de Rubem Braga, não será assim. Ele soube dar perenidade ao texto que deveria ser efêmero. Guardando a beleza antes que o momento seguinte a desfizesse. Mesmo quando o cronista assumia o tom grave de um profeta do Velho Testamento, para invectivar o bairro ameaçado: "Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera do seu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas"
Outros cronistas passaram, Rubem Braga não passará. Não nascera para o conto ou para o romance. Menos ainda para o ensaio. Toda a sua inspiração o acompanhava. Bastava-lhe debruçar-se de uma sacada de janela, olhando o mar, a rua, a praia, a árvore, a alameda, um casal de namorados, um banco de jardim, um menino com uma peteca, a meninazinha que aprende a andar de bicicleta no dia de Natal, para que o transe poético da crônica o dominasse.
Ainda bem que nos ficou o consolo de que, em cada texto de Rubem Braga. Ninguém mais presente que ele, em tudo quanto lhe fluiu da pena. Basta-nos, para isso, reabrir um de seus volumes. Ao acaso. Ei-lo, diante de nós, vivo, singular, único - tal como Deus o fez para aplauso e afeto de seus contemporâneos. Daqueles que tiveram o privilégio de vê-lo e ouvi-lo. Ainda que só uma vez. O suficiente para reconhecer que ele soube dar perdurabilidade ao seu tempo. Diluindo na poesia de seu lirismo todas as amarguras.
Rubem Braga jamais viveria esse momento. Sempre fluente. E lírico. Mesmo diante do drama ou da tragédia. Com o poder de dar expressão à banalidade da vida corrente, insuflando-lhe admiravelmente o rigor e a duração da obra de arte.
A crônica, por sua própria natureza, é um gênero que se desfaz com o passar do tempo. Mudam os temas, mudam os assuntos, a própria vida se modifica. É natural que a crônica, espelhando os momentos fugidos, também passe, levando consigo os velhos cronistas.
No caso de Rubem Braga, não será assim. Ele soube dar perenidade ao texto que deveria ser efêmero. Guardando a beleza antes que o momento seguinte a desfizesse. Mesmo quando o cronista assumia o tom grave de um profeta do Velho Testamento, para invectivar o bairro ameaçado: "Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera do seu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas"
Outros cronistas passaram, Rubem Braga não passará. Não nascera para o conto ou para o romance. Menos ainda para o ensaio. Toda a sua inspiração o acompanhava. Bastava-lhe debruçar-se de uma sacada de janela, olhando o mar, a rua, a praia, a árvore, a alameda, um casal de namorados, um banco de jardim, um menino com uma peteca, a meninazinha que aprende a andar de bicicleta no dia de Natal, para que o transe poético da crônica o dominasse.
Ainda bem que nos ficou o consolo de que, em cada texto de Rubem Braga. Ninguém mais presente que ele, em tudo quanto lhe fluiu da pena. Basta-nos, para isso, reabrir um de seus volumes. Ao acaso. Ei-lo, diante de nós, vivo, singular, único - tal como Deus o fez para aplauso e afeto de seus contemporâneos. Daqueles que tiveram o privilégio de vê-lo e ouvi-lo. Ainda que só uma vez. O suficiente para reconhecer que ele soube dar perdurabilidade ao seu tempo. Diluindo na poesia de seu lirismo todas as amarguras.
Texto irretocável, Luma. Gostoso ver esse reconhecimento que um dos cronistas de que tanto gosto tem vindo de pessoas de cujos textos gosto de ler. Não tem jeito. Bons textos atraem bons leitores. Você é prova disso.
ResponderExcluirLinda homenagem a dois grandes Mestres . Parabens!
ResponderExcluiradorei muitoo!!!
ResponderExcluiradoro crônicas
fez muito bem na postagem
bem interessante
beijos
Não conseguiria escrever uma mensagem para cada um, mas querendo que receba meu carinho e gratidão por mais esse ano de amizade e convivência deixo aqui meus desejos
ResponderExcluirQuisera
neste Natal
armar uma
árvore dentro do
meu coração e nela
pendurar, em vez de
presentes, os nomes de
todos os meus
amigos. Os amigos de longe e
os de perto. Os antigos e os mais
recentes. Os que vejo a cada dia e os
que raramente encontro. Os sempre lembrados
e os que as vezes
ficam esquecidos. Os
constantes e os intermitentes.
Os das horas difíceis e os das horas
alegres. Os que sem querer magoei ou,
sem querer me magoaram. Aqueles a quem
conheço profundamente e aqueles que me são
conhecidos apenas pelas aparências. Os que pouco
me devem e aqueles
a quem muito devo. Meus
amigos humildes e meus amigos
importantes. Os nomes de todos os
que já passaram pela minha vida. Uma
árvore de raízes muito profundas, para que
seus nomes nunca mais sejam arrancados do
meu coração. De ramos muito extensos, para que
novos nomes, vindos de todas as partes, venham juntar-se
aos existentes. De sombra
muito agradável, para que nossa
amizade seja um momento de repouso,
nas lutas da vida. Que o natal esteja vivo em cada dia
do ano novo que se inicia, para que as luzes e cores da vida
estejam presentes em toda a nossa existência e concretizem, com
a ajuda de Deus, todos os nossos desejos. Feliz Natal!
Feliz Natal!
Feliz Natal!
Feliz Natal! Feliz Natal!
QUE A HARMONIA, O SENTIMENTO DE SOLIDARIEDADE E COMPAIXAO, O RESPEITO E AS ALEGRIAS DESSA ÉPOCA DO ANO SE SOLIDIFIQUEM NO MAIS PURO AMOR, ENCHENDO DE LUZ TODOS OS CORAÇOES...
E QUE ESSA LUZ ALCANCE TUDO E TODOS... MUITA PAZ!
Com amor
Regina
Grande Rubem Braga. Imaginar que ele foi apaixonado pela Tonia Carreiro. Que tempo interessante. Que passa, e se tornam cronicas de uma epoca. Ainda assim como diz voce, ele soube dar perdurabilidade ao que escreveu. Talento fica.
ResponderExcluirBeijao querida!
Luma, obrigado por visitar o blog "Na Janela com Gadomski" nesse ano de 2011. Agradeço seus comentários e visualizações. Um feliz e santo Natal para você e sua família. Muita prosperidade em 2012. Um abraço!
ResponderExcluirUm belo texto em que você homenageia o grande cronista Rubem Braga e ao desenhista J. Carlos de fino traço em suas ilustrações.
ResponderExcluirLuma
Agradeço a ua amizade e desejo a você e a sua família um Natal de muita Luz e um ano de 2012 de muita Pazs.
Beijos.
Olá. Seu blog é muito bom, sem palavras para descrever...
ResponderExcluirSigo já faz algum tempo.
Se não for incomodo gostaria que desse sua opinião sobre meu blog!
Adoro a criatividade que você tem aqui e seria uma honra para mim poder compartilhar com vc os meus textos e meu espaço!
Bjo grande
Obrigada
Feliz Natal
Gosto muito deste escritor e poeta. Tenho no blog algumas de suas ccomposições por considero-o, como vc, imortal.
ResponderExcluirbjs
Feliz Natal e boas festas.
Que belo post, Luma!
ResponderExcluirGuardei uma crônica do Rubem Braga falando de velhice com muito humor. Chama-se Conversa de velho, para não pensar muito. Foi publicada do Estadão de 29/7/89. Ela é comprida, mas vou copiar um trecho: Uma das coisas que o velho não deve fazer é combater ao mesmo tempo em duas frentes. Se ele respira melhor hoje, convém tolerar, por exemplo, algum mal-estar no estômago, e assim por diante. (...) Nada de alongamentos ou malhações - seja delicado consigo mesmo. Com o tempo a gente descobre que andar com duas pernas apenas é uma grande proeza da evolução, mas um tanto incerta e até perigosa. Andar de quatro é muito feio; uma boa bengala sempre poderá fazer o papel de terceira perna; assim o seu peso estará mais bem distribuído(...)
Pego a letra de Tom e Vinícius e tento fazer uma adaptação:
Olha que coisa mais triste
Coisa mais sem graça
É esse velhote que vem e que passa
No passo cansado, caminho do bar...
É melhor ficar por aqui.
PS: Também passei minha infância me esbaldando de comer jaboticabas.
Beijos!
Apesar de não conhecer tanto a obra do Rubens Braga, parabenizo pela homenagem em um texto perfeito.
ResponderExcluirBig Beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHomenagem linda.
ResponderExcluirHoje passo para desejar umas Festas Felizes e um Ano 2012 pleno de saúde e projectos!
beijocas
Ei minha Linda! HO, HO, HO!
ResponderExcluirFeliz Natal querida, que seja uma noite feliz, de paz, tranquila e cheia de amor! ;) Muito obrigada pela linda cia durante o ano! :)) Adoooooro! :D
Beijo, beijooooo!
She
Olá Luma! Eu também adoro Rubem Braga e achei as ilustrações excelentes. Tem razão, ele continua vivo em cada uma de suas linhas! Um beijo! Feliz Natal!
ResponderExcluirNão quero constranger quem não leu o texto e acha que homenageei Rubem Braga. O homenageado é J. Carlos, o cronista do lápis como era chamado. Um dos grandes design gráfico que o Brasil teve e por culpa dele existe o personagem Zé Carioca, que a Disney criou depois que J. Carlos recusou um convite para trabalhar naquele reinado. Agradeço aos que passam por aqui sem pressa.
ResponderExcluirOi Luma querida
ResponderExcluirEu li o texto e entendi sua homenagem a J. Carlos, mas eu não o conhecia. Fui no link para saber um pouco mais.
Não comento sem ler, inclusive porque seus textos são excelentes.
Ás vezes temos uma intenção e acabamos tendo outras repostas por fazermos associações.
bjs
Eu sei que o homenageado foi o cartunista, mas ele nao nao conheço e gosto tanto do Rubem Braga...Que alem de tudo foi amigao do meu padrasto. E assim soube dele mais de pertinho.
ResponderExcluirNao me ative ao titulo. Leio cada virgula do que voce escreve.
Beijao!
Olá, querida
ResponderExcluirUm santo e abençoado Natal junto aos seus queridos!!!
Que o Menino Deus esteja em seu coração plenificando-o de ternura!!!
Bjm natalino
Estou viajando pelos links e grata surpresa sobre o Zé Carioca. Quando era criança, sempre que ouvia algo do Brasil, vinha acompanhado deste personagem. Pesquisando agora pela web, constatei que a família de J.Carlos nunca exigiu nada da Disney.
ResponderExcluirO papagaio de J. Carlos fumava charuto, vestia um colarinho e usava bengala. Pouco depois disso, surgiu o Zé Carioca, que também fumava charuto, vestia colarinho e usava um guarda-chuva para se apoiar.
Seleções Reader's Digest escreveu "Em Alô Amigos, Disney criou um novo personagem - o Zé Carioca, um papagaio inspirado num desenho do inesquecível caricaturista brasileiro J. Carlos, que Disney tentou levar para Hollywood para trabalhar em seus estúdios. O Zé Carioca de J. Carlos até hoje pode ser visto na Disneylândia"
Fiquei sabendo um pouco mais da história dos quadrinhos brasileiros e de quebra da cultura das melindrosas brasileiras. Elas não mostravam o bumbum.
Luma, eu LI o texto todo, como sempre o faço e gostei das imagens, conforme citei. Bela homenagem. Apenas citei que eu gosto do Rubem Braga (bem mais do que das imagens). Eu SEMPRE leio os posts e talvez não tenha olhos tão aguçados para os ilustradores e me perdoe por isso, é uma falha.
ResponderExcluirQuerida Luma; adorei o texto e a homenagem foi bem merecida.
ResponderExcluirFELIZ NATAL, querida! Que ele seja de saúde, paz, realizações e fé.
Beijos
Luma:
ResponderExcluirObrigada pelas informações aqui postadas.
Só conhecia Rubem Braga e agora sei do J. Carlos.
Beijos.
Anny.
Que linda crônica. Voce fala de Rubem
ResponderExcluirBraga com muita sabedoria.
Linda homenagem
Bjs