Fim de ano: Epidemia de solidão

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Uma pessoa dá entrada no hospital se queixando de uma série de problemas que exame algum é capaz de confirmar. Em plena época de festas de fim de ano, essa pessoa parece ansiosa por prolongar sua estada com os médicos. Conversando, essa pessoa acaba contando que é viúva há 20 anos, que todos os filhos moram em outros países, que "fica sozinha o tempo todo e há muitas horas num dia". E em seguida a pergunta: "Existe remédio para a solidão?"

Essa história foi contada por uma médica na "Revista Lancet", uma das mais importantes revistas médicas do mundo, e se refere a uma experiência vivida pela médica nos anos de residência. Diante da perspectiva de passar o período de festas sozinha, a pessoa em questão preferiu a companhia da médica.

A epidemia da solidão é um problema crescente, sobretudo entre a população mais idosa, devido ao aumento da expectativa de vida. Todos nós, um dia seremos idosos e faz necessária uma mudança cultural na relação com os idosos.

A solidão é um problema real da sociedade moderna. Nossas vidas são cada vez mais atarefadas, viajamos para locais distantes de nossas famílias para arrumarmos empregos, muitas vezes do outro lado do país ou mesmo no exterior. A sociedade moderna dá uma grande ênfase ao sucesso material e às necessidades do indivíduo. Embora não haja nada fundamentalmente errado com essa noção, problemas como a solidão aumentam quando isso ocorre às custas de importantes laços com a família e a comunidade.

Na análise dos especialistas, no período do fim do ano, marcado pelas celebrações do Natal e do Réveillon, o problema se agrava, bem como em épocas de outras festividades emblemáticas.

O Natal é, tradicionalmente, um período em que amigos e parentes se reúnem para celebrar. Por isso, as pessoas que estão sozinhas sentem a solidão de forma mais acurada neste período do que em outras épocas do ano, em que não há grande ênfase na ideia da reunião. Mas os períodos em que as pessoas serão mais vulneráveis à solidão vão depender dos ciclos culturais dos diferentes países.

Hospitais são refúgios de última hora

Há pessoas que mesmo tendo parentes próximos vivem em profundo isolamento. Segundo o artigo citado acima, algumas famílias enviam seus idosos aos hospitais públicos mesmo quando eles não têm nenhum problema de saúde. O hospital é o refúgio de última hora para as famílias quem não conseguem ou não querem lidar com os idosos ou problemáticos emocionais.

A solidão não é propriamente uma doença. E não está necessariamente relacionada à depressão. Pessoas que não são clinicamente deprimidas podem se sentir solitários. A Organização Mundial de Saúde (OMS), define saúde como um estado de bem-estar físico, mental e emocional.

A solidão não é uma doença como pneumonia, por exemplo, mas, se olharmos para a definição da OMS, eu diria que se alguém está solitário, não está completo emocionalmente. A solidão tem a ver com as circunstâncias, sim, mas a maioria das condições tem, em maior ou menor grau. Trata-se de um problema de saúde pública, a ser encarado pelos governos.

Algumas responsabilidades recaem sobre o setor público, embora muitas das políticas devam ser implementadas junto com a comunidade. É preciso que haja uma infraestrutura adequada na comunidade, por meio de serviços sociais e planejamento por parte dos governos locais e nacional para que os mais velhos possam levar suas vidas plenas e ativas. Algumas cidades mantém núcleos de atividade física e interação, porém há de ter também planos de incentivo.

Entretanto, numa sociedade "viciada em juventude", uma mudança cultural profunda é necessária para a superação do problema. É preciso mudar a maneira, muitas vezes negativa, pela qual os mais jovens veem os mais velhos.

Amigos e parentes também têm responsabilidades para os que estão próximos a eles, e mesmo os vizinhos podem exercer um papel-chave para o bem-estar da comunidade como um todo. Deveria haver uma ênfase cultural maior no relacionamento de pessoas de todas as idades. Precisamos de uma solução. Pessoas que têm família não podem acabar num hospital.

Ofereça o seu carinho e solidariedade. Lembre-se que nos melhores momentos de sua vida, você não estava sozinho. Compartilhar faz somar os momentos, nos trazendo conforto futuro. Se você mora sozinho, procure um abrigo de idosos ou crianças e doe-se. Se você tiver uma festa em família, divida-a com aquele amigo que está sozinho e chame-o para festejar com vocês. Por mais que lhe ensinaram que você deve se bastar, não se iluda. Ninguém é feliz sozinho!

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!!