Precisamos discutir o prazer

pensar

Desde o momento em que passamos a possuir a capacidade de pensar e sentir, se por um lado nos permitiram que construíssemos uma civilização e atingíssemos o nível que chegamos, por outro lado serviu para tornar as nossas vidas muito mais complicadas.

Na Idade da Pedra, por exemplo, a vida do ser humano era bem diferente. As reações do seu corpo e as expressões dos seus "instintos" ("disposição para fazer determinada coisa e agir de uma dada maneira sem ter recebido treinamento, ensinamento, experiência ou aprendizado prévio, ainda que por pura imitação"), se tornaram fundamentais para a sua sobrevivência e de toda a sua espécie. O homem não civilizado estava às voltas com a necessidade de adaptação à própria natureza e de a ela sobreviver, e menos preocupado em defender-se dos outros homens e em adaptar-se às regras por eles criadas.

Com a dita civilização e vida social, o homem "civilizado" precisou mudar drasticamente. Ele passou a se preocupar muito mais em adaptar-se às regras vigentes e a defender-se dos seus semelhantes e de si mesmo, esquecendo, contudo, do seu verdadeiro "eu", ou seja, das suas necessidades básicas. Isso sem falar de sua natureza. Esta inclusive está longe de ser lembrada e valorizada. Tanto os seus "instintos" quanto às reações do seu corpo (que da sua essência não se modificaram), sofreram uma adaptação a essa nova e avassaladora realidade.

Passou, então, a não dar mais livre vazão às suas reações anteriores. Ou seja, seus instintos teriam que ser sufocados e/ou mascarados e o seu corpo não poderia, nem deveria reagir conforme o que está sendo solicitado. O que antes era benéfico e protetor passou a ser desastroso, destrutivo, inadequado e indesejável.

Não que o homem civilizado seja menos sadio ou mais infeliz que o não civilizado, porém, seus mecanismos mentais são mais complexos, e mais complexo é o seu esforço de adaptação.



Pelo fato de vivermos em sociedade e precisarmos interagir uns com os outros foram estabelecidas uma série de normas, proibições e regulamentos que quase sempre contrariam nossos mais fortes desejos e impulsos, ainda que inconscientes. Isto quer dizer que, quanto mais "civilizado" for o ser humano, menos instintivo será o seu comportamento e maior carga repressiva atuará sobre ele.

Para se adaptar, então a essa nova situação o homem civilizado teve e continua tendo que fazer inúmeras concessões, ajustamentos e na pior e mais comum das hipóteses reprimindo a ferro e a fogo os seus reais sentimentos. O seu prazer. E é aí que mora o perigo.

As próprias regras do convívio social e da educação nos induzem e condicionam a reprimir a expressão física e verbal, do que sentimos. O choro é um exemplo disso. Quem já não se atreveu algum dia a dizer para alguém: - Não chore não! As pessoas não têm a mínima noção do quanto o choro é importante para a saúde, do seu papel excretor das impurezas da alma.

O que se observa é que vivemos no "fio da navalha" tentando nos equilibrar entre sermos o que realmente somos ou representando aquilo que a sociedade escolheu para nós. Temos que ter o melhor carro, a melhor roupa e, na maioria das vezes pagando um preço altíssimo por isso. As doenças psicossomáticas estão aí pra não me deixar mentir. Elas são a prova viva do poder do não atendimento das nossas necessidades.

Cabe a cada um de nós querer ou não pagar o preço; o prazer como procura de alguma coisa perdida, como fuga de uma realidade ou busca pela felicidade?

Este texto faz parte do encontro mensal "Tertúlia Virtual". 
Participe também! 

Beijus,
Luma

12 comentários :

  1. Luminha linda...
    se não for incomodo, gostaria de te pedir uma coisinha, piquititinha...
    é q ultimamente tenho lido tantas coisas no feminino q me incomodou um pouco ler tantas vezes "o homem" referindo-se a humanidade, ao ser humano... fica mais confortavel pra mim ler usando mesmo "ser humano" ou "humanidade" ou "as pessoas"...
    enfim...
    (mulher surtada essazinha aí né... eu...)

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

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  2. Anônimo16:27

    Prazer em ler sua postagem...

    Reflexão essencial a que você propõe, minha camarada de Tertúlia Virtual... concordo plenamente...

    Com amor,
    Gabriel Dread

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  3. Sempre bom passar por aqui minha querida.
    Parabéns pela bela participação nesta tertúlia minha linda! Beijos.

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  4. Agora sobre o texto mesmo...
    Eu estou em pleno processo de
    DESCIVILIZAÇÃO
    estou me sentindo muito bem em, na medida do impossível começar a cagar nas regras todas...
    Especificamente sobre o prazer, "acho" q sobretudo o prazer feminino está completamente esmagado... claro q o masculino tbm está, mas eles ainda estão por cima, e não saem... kkkkk...
    Enquanto uma única mulher ainda viver desconectada da sua liberdade e do seu prazer, estamos apenas vivendo em corpos femininos sem alma... e somos uma coletividade, temos de agir como tal... construir com urgência um sentimento de lealdade feminina... começa por aí, pra mim, claro, sou suspeita pra falar, mas sem isso, não avançamos...

    no início do ano eu criei um manifesto exatamente emcima disso, e de alguém... kkkkk...

    ei-lo:

    Manifesto Nana Odara

    A Via do Prazer

    Declaro
    solenemente
    à partir de agora
    que todos os seres humanos
    devem viver unicamente
    pelo e para o prazer...
    Esse é o meu manifesto
    talvez a minha grande contribuição
    para a humanidade...
    a via do prazer...
    Todas as mulheres
    tem o direito e a obrigação
    de viver em prazer...
    até pq a repressão do prazer da mulher
    é um dos pilares do patriarcado.
    Somente através do seu prazer livre
    e irrestrito a mulher pode
    ajudar a construir um
    novo modelo social
    melhor
    mais interessante...
    Para isso é necessário
    cessar já
    todas as formas de violência
    consentidas ou não
    silenciosas ou não
    punivéis por lei ou não
    todas as formas de violência
    contra a mulher
    contra todas as mulheres...
    O prazer
    subjetivo por natureza,
    o prazer de cada um,
    o prazer de todos...
    A um só tempo,
    emitido e recebido
    sorvido
    degustado deliciosamente devorado
    doravante
    por nós, integrantes desse manifesto,
    canibais do prazer,
    ou seja la qual for a alcunha
    que nos agraciará o futuro...
    O Prazer como antídoto social à violência
    Todo o prazer
    pelo fim de
    toda a violência...
    Segundo a Dianética,
    o Prazer é a força motriz que anula o medo.
    Portanto somente através do prazer
    podemos anular os efeitos todos
    da maior arma patriarcal
    fundamentado e sacramentado em medos,
    a violência.
    E nós, seres humanos,
    estamos naturalmente vocacionados
    destinados e aptos ao prazer,
    o prazer nos guia para a vida,
    enquanto todo medo é o medo da morte.
    Neste 2009 , divisor de águas,
    defina agora, de que lado vc está...
    Ou vc alinha comigo
    na Via do Prazer...
    ou definhará eternamente
    nos porões fétidos de um
    moribundo patriarcado...
    Eu, Nana Odara
    instauro a Era do Prazer!
    Sigam-me os bons
    (de cama, inclusive...)

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  5. é com muito prazer que passo por aqui e me deleito com seu texto, parabens!!

    bjocas

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  6. Prazer em ler seu texto!!
    Ah!! Maravilhoso seu blog... Adorei!!
    beijo

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  7. Nem um e nem outro...
    O prazer pelo simples prazer... porque o prazer é muito bom de ser vivido, ainda mais intensamente!!!
    Obrigado pela visita!!!

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  8. Texto excelente! Um convite para os demais. Parabéns!

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  9. Sabe o que é mais engraçado?
    É que justo hoje, um dia em que essas convenções sociais estão me sufocando por eu não poder falar/fazer o que quero, já é o terceiro texto relacionado a isso que vejo. :)
    Bjitos!

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  10. Oi Luma!
    Quanto mais civilizado, o ser humano se torna mais consciente de que os impulsos não podem comandar sua vida.
    Belíssimo texto.
    Bjo querida

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  11. Oiiie!!
    Recebi aquele texto por e-mail e confesso q falhei em sequer ter procurado na internet o autor. Deveria, pelo menos ter escrito "desconheço o autor".
    Agradeço o seu toque! E já dei os devidos créditos a autora, colocando o nome dela no post.
    Obrigada pelo carinho d sua visita e volte sempre q puder.
    Bjsssss

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  12. Luminha,
    Você que é um doce.Eu ando com preguiçaaaaaaa,rs...Adorei esse teu texto, pq ultimamente minha cabeça tá a mil, eu só penso "naquilo",rs..Ando rindo a toa.
    Saudades desse blog lindo.Mas, de x em quando venho aqui bisbilhotar e me deliciar.
    beijoooooooooooooo bem grandão e obrigada pelas suas doces palavras.

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