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"O que parece ser a decadência da cultura é o seu puro caminhar em direção a si mesma" — T.W. Adorno

Republicando - Da série: nada mudou.
Texto escrito originalmente em 23.03.2005

Hoje no finalzinho da tarde, resolvi sentar em um quiosque com amigos para tomar um chopinho. Nada como uma brisa do mar pra refrescar a alma, as idéias e espantar o calor. Papo vai, papo vem, cai o assunto BBB. Quem vai ficar com o milhão? Me senti como um espectador de partida de ping-pong. Não assisto ao programa e parece que a partir de agora, tenho por obrigação assistir. Senão fico fora da conversa. O Brasil inteiro assisti BBB?

Fiquei a pensar, enquanto ouvia ecos; Jean...Jean...Jean e de vez em quando; Pink...Pink...Pink e que se transformaram em Jean-ping e pink-pong...

Parece que a televisão aboliu de vez o tênue limite entre o real e o virtual. Todos os candidatos abrem mão de sua privacidade e a TV é autorizada a transgredir a privacidade alheia e os espaços físicos e psicológicos são invadidos. Tudo isso quando somado a uma hollywoodização do cenário, dando a ilusão ao telespectador estar tendo acesso ao "mundo real" dos outros como se fosse o "mundo verdadeiro". Qualquer ingênuo sabe que há algo de teatralismo histérico e exibicionismo dos participantes, já que todos sabem que estão sendo filmados, mas um quantum de gozo é obtido em ver. O voyerismo banal e compulsivo do telespectador certamente é maior que qualquer interesse científico ancorado na Psicologia Social, Antropologia ou Sociologia, até porque os personagens são uniformes.

Por sua vez o voyerismo é o oposto do exibicionismo, o indivíduo não interage com o objeto. No caso dos Reality Shows o termo é usado por extensão, não tendo que ter necessariamente contexto sexual como forma particular de prazer. A ação é substituída pelo olhar.

Alguém pode ressuscitar uma hipótese que diz que o reality show está se apropriando das pulsões perversas voyeristas do público que assiste aos programas, há um público faminto de intimidades alheias. Com a "tv realidade", o voyerismo saiu do universo vergonhoso; saiu da psicopatologia social e ganhou um espaço industrializado, publicamente aceitável e lucrativo.

Os programas de realismo show foram inspirado nos experimentos do Psicólogo Social, P. Zimbardo, décadas atrás e filmados primeiro em laboratório e depois reprojetados em uma casa montada, foram filmadas a maior parte das situações e depois levadas pela tv com a autorização dos participantes. Aqui passou no GNT, em 3 partes, com o nome de Zoológico Humano, onde o interesse parecia ser mais científico que comercial.

Mas antes deste experimento, o voyerismo já era um dos instrumentos básicos do cinema. Ainda na época do cinema mudo, Hitchcock e outros diretores afirmavam que quando se filma um close-up do ponto de vista de alguém, vincula-se o público aquela experiência. É a única forma de arte em que se exibe a mesma informação ao espectador e personagem simultaneamente.

Hitchcock com “Janela Indiscreta”, Kiestowsky com “Não Amarás” e Brian de Palma com “Dublê de corpo”, capturavam imagens de uma janela na ânsia do descobrimento de cenas inquietantes.

Por que o cinema e a televisão se utilizam do voyerismo?
“Padrões internos de prazer impõem a masculinidade como ponto de vista” (Mulvey) Isto posto, uma sociedade que se diz tão moderna, os mais velhos achando uma indecência tal conjunto de situações. Regredimos? A sociedade continua machista?

A mulher na cultura ocidental encara o “ser olhada” e por isso sua imagem é constantemente associada, na publicidade, à venda de produtos. A tela escala os homens como detentores do olhar e as mulheres como espetáculo – no caso em questão, a mulher se transforma em um bem de consumo.

UP! DATE! * A foto acima, foi só pra contrariar. O Mundo deixando de ser machista e os meninos, bens de consumo...
Pablo Espósito mostrando bumbum

Dinheiro compra dignidade?
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...em quietude, sem solidão

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