"Acabo de receber um e-mail que originalmente foi postado por Vilma Piedade do Movimento de Mulheres Negras do Rio de Janeiro.
Ela envia o
link de um recente programa do Jô Soares onde ele entrevista um sujeito que atende pelo nome de Rui Moraes e Castro.
O tal foi no Jô sabe para quê? Para explicar a relação do penteado das mulheres negras de Angola com as suas vaginas", escreve Ranato Rovai, editor da revista Fórum no Brasil.
"Entre outras coisas o tal mostra um corte de cabelo, que segundo ele foi armado com bosta de boi e fala que aquela mulher quer mostrar que está "mais apertada". E diz, em resumo, o seguinte: "como o negro começa sua relação sexual com seis, sete anos e essa mulher já tem 20, 21 anos ela está velha, acabada, larga. Então ela fez uma operação no clitóris a sangue frio, com uma faca de sapateiro, e fica mais fechada. Com esse cabelo ela está dizendo ao homem que voltou a ficar fechada e que vai dar tanto gozo ao homem como uma garota de sete ou oito anos...".
"Sabe o que o Jô fez, divertiu-se a beça com a história. E continuou a entrevista com preconceitos e histórias horrorosas assim por mais uns cinco minutos."
Outros protestos referem que o "Jô Soares e sua equipe deveriam se informar melhor sobre a história pessoal de seus entrevistados e o conteúdo que supostamente têm a oferecer. Em sua ignorância o senhor Morais e Castro chega a afirmar durante a entrevista – entre outras coisas – que certa região de Angola situa-se perto “da fronteira com a África do Sul”. (!)
Ficamos nos perguntando no que aquele conjunto de impropérios, preconceitos, comentários jocosos e degradantes, absolutamente descontextualizados, vem contribuir para um projecto de sociedade mais justa, mais tolerante, mais equânime – projecto com o qual nos identificamos e para o qual temos trabalhado em nossas áreas de actuação profissional e de militância política.
A cena dantesca de dois homens “bem-sucedidos” e com acesso a uma rede de televisão com o poder da Globo (não só no Brasil, mas também em Portugal e em Angola) fere gravemente tanto a nossa constituição quanto o projecto – construído a duras penas – de uma sociedade brasileira aberta à compreensão e ao respeito pelos diversos grupos culturais que a compõem, suas práticas e sua história. A nosso ver, isto é o que torna a humanidade o que ela é: rica, porque diversa.
É impossível silenciar diante desta manifestação torpe de racismo e etnocentrismo. Esperamos como cidadãos e cidadãs uma retratação dos protagonistas deste circo dos horrores, para que possamos continuar nosso trabalho diário junto a jovens, educadores e crianças e reafirmar que o tempo de desqualificar o que não compreendemos e de tratar o diverso como animalesco já passou", escreve Mailsa Carla Passos e Aldo Medeiros.
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