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Ecological Day [update]

Sr. Policarpo, major aposentado e pequeno fazendeiro paulista assentado ali pelas bandas de Bragança, nas imediações da divisa que coloca São Paulo de um lado e Minas de outro, esperava a chegada de seu vizinho José Ribeiro, mais conhecido como Zéquinha; por causa de umas vacas que o primeiro queria vender e o segundo comprar.

fazenda

"Você vai ver meu filho como é que um paulista passa um mineiro para traz"

- "Lá vem ele pai", diz o filho, apontando para um cavalheiro que vinha poeirando o caminho da fazenda, pela estradinha de terra. Dois minutos depois chegava Zéquinha, figura simples, homem comprido e fino, pescoçudo, caipira mesmo e bem diferente do vistoso major Policarpo.

- "Bom dia, moçada" cumprimenta o recém-chegado, enquanto amarra o cavalo num pau à entrada do alpendre.

- "Bom dia, Seu Zéquinha", responderam-lhe o major e o filho, com mal disfarçado ar de gato já abocanhando o rato.

Zéquinha sobe ao alpendre, assenta-se num banco, dependura o chapéu de palha na curva da perna cruzada, começa a picar o fumo e fala de tudo, menos do negócio que tinha vindo fazer. Não olha sequer para os lados do curral em que as vacas, em número de vinte, aguardavam o desfecho do negócio. E assim, no embalo de assuntos outros, o tempo ia correndo vazio do assunto principal, até que...

- "Seu Zéquinha", diz o major, "o senhor já fez um cigarro, já está no toquinho dele, quase queimando os dedos, mas ainda não disse nada sobre o nosso negócio..."

- "Nosso negócio?!"

- "Sim, a compra das vacas..."

gado mestico

- "Ah, as vacas...Que coisa, majó, eu vim aqui mode isso e nem se alembrava mais..."

Dá a explicação, levanta-se do banco, encosta-se preguiçoso no parapeito do alpendre e aponta para o curral, com a súbita segurança de quem já assuntara tudo com o rabo-do-olho: "Dou 50 mil naquela curacuzinha de chifre mochado"

caracuColhido pela rapidez do outro, o major localiza a vaquinha caracu e responde, meio enfezado, que "50 mil, Seu Zéquinha, é até desaforo!"

- "Não é desaforo não, sô Majó, pois ela já está bem na terceira cria e tem a bandeira do rabo cortada. Mais vou aliviá o desaforo e dou 60 mil"

Depois de alguns ragateios, o preço empacou nos 70 mil e a vaquinha passou para o curral do lado, agora destinado às vacas vendidas.

- "E aquela mestiça de cobra com tatu, Seu Majó, quanto é que vacê está pedindo nela?"

O major pede 80, o mineiro quebra a oferta no meio, cede mais 10 mil e nada mais, e o animal acaba passando para o curral das compradas por 50 mil. E assim por diante, até a décima vaca, quando então Zéquinha diz que não compra mais nenhuma.

- "Como é que não compra mais nenhuma!" - grita o major, com a espinha do susto atravessada na goela do grito. "Então o senhor me compra a cabeceira do meu gado a preço de leitão magro e me deixa com o refugo!?"

- "Comprá eu não compro não, Majó, mas concordo em fazê uma trança"

- "Trança...que trança?"

- "Nóis envereda pelas braganha. Pra começo de causo, dou aquela mascarada e vacê me dá a girolanda que está ali meio refugada do lote. Quanto é que vacê vorta?"

Essa proposta despertou no major a esperança de recuperar algumas vacas boas, e com isso foi mais ou menos generoso. Voltou 5 mil. E depois, nas demais braganhas provocadas pelo mineiro, as voltas giravam em torno desse mesmo valor.

Uma certa preocupação, entretanto, já tomava conta dos gestos do major, que parecia estar de pulga atrás da orelha, e o mineiro notou bem este detalhe.

- "Carece coisa, Majó, que você ainda não está muito de bem com o negócio. Pois eu vô lhe fazê uma proposta, como diz o cantadô Luiz de Castro, de arrancá pica-pau do ovo. Estou disposto a lhe vendê o meu gado na base de 40 barão por cabeça"

nelore

- "Que seu gado?"

- "Uai, as minhas déis ali no currá!"

- "Negócio fechado!" - replica o major, com a pressa de quem teme o arrependimento do outro, pois 40 mil não era preço para ragateio, mesmo em se tratando de vacas piores. E repete: "Negócio fechado!"

Seu Zéquinha confere as anotações que fizera durante as negociações e entrega tudo ao major. Meia hora depois regressava para a sua fazendinha levando a barriga bem forrada pelo cafezinho com mistura que lhe fora servido pelo filho do major - e mais 55 mil no bolso, de lucro, sem ter comprado uma única vaca do major Policarpo.

Na crônica acima, qualquer semelhança com fatos reais, não é mera coincidência! Lá pelas bandas de Minas, escutamos muitos 'causos' como este.

Este post faz parte do encontro mensal idealizado por Sônia Mascaro, que impossibilitada de participar, pediu a amiga blogueira Elma Carneiro que desse continuidade ao encontro.

Você está convidado a participar deste dia ecológico, venha com a gente!!

*texto revisado, onde se encontra termos típicos de curral, que para uns pode parecer estranho e para muitos, sabem de 'um português regional' que não há acordo que dê suporte.

[update] Gostaria de pedir a todos que ao fazerem comentários, usassem o sistema do blogger. Não sei o que está acontecendo que desde sexta-feira, os comentários feitos no haloscan, alguns não são visíveis para vocês. Quem comentou, não se preocupe que li estando logada no sistema. Obrigada!

Boa semana!
Beijus

Apetite Insaciável

Estou lendo esse moço que diz que escreve para saber o final das histórias.

Ele simpatiza muito com o Brasil, viveu e tem parentes por aqui.

Conhece bem a alma do brasileiro.

Sempre causa muita polêmica com alguns comentários que faz.

Já afirmou que o Brasil é colônia


Cidadão de três continentes; sua mãe é brasileira, o pai é português e JOSÉ EDUARDO AGUALUSA nasceu em Angola. Junto com Mia Couto (Moçambique) e J. M. Coetzee (África do Sul) formam a tríade africana dos escritores mais festejados da atualidade.

Seus personagens saltam de um livro a outro, como se fossem de uma única história - Nessas histórias, o fantástico coexiste harmoniosamente com a crítica social emprestando sua voz àqueles que não possuem meios de se fazerem ouvir.

Acredita que a internet tem o poder de quebrar ditaduras, de transformar utopias em realidades, de aproximar os povos, independente das classes sociais - cita como exemplo crianças de aldeias indígenas - por que não, num futuro trocando idéias e experiências com os filhos de Bill Gates? A informação disponível aos pobres e ricos de forma igualitária - Isso é democracia.

Estou lendo "O Ano em que Zumbi Tomou o Rio", anteriormente li "O Vendedor de Passados" que uma amiga de Luanda me mandou - uma estréia! Lerei a obra completa, com certeza!

"O Ano em que Zumbi Tomou o Rio", parece que é obrigatório no curso de Letras - Quem faz Letras poderia confirmar - Apesar de ser ficção, o livro retrata bem a realidade do Rio de Janeiro. Mostra-nos que dia a dia invadimos fronteiras e mesmo assim, outras barreiras são erguidas. Temos medo da violência, dos estranhos e por isso reprimimos tudo que é diferente.

A Minha alma é carioca!



Mas o meu coração sempre se volta para o verde das montanhas de Minas!

O Pablo pensa que sou "Cariocasssss" e muitos da blogosfera também pensam assim. Na cidade onde moro pensam que sou "do sul".

Sou mineira, uai! Mas não falo o mineiro de Belo Horizonte - nem o mineiro do sul de Minas, onde nasci. Misturei os vários sotaques dos lugares que vivi. Verdade, penso que não tenho sotaques, mas não fujo de vez ou outra dar umas escorregadelas.

Na minha cidade contamos a história de uma pessoa que veio morar no Rio e receoso de ser chamado caipira ou de desagradar os cariocas (sei lá o que pensou), prestou-se a falar o carioquês. Em dado momento de um "pelada" de futebol e na eminência do parceiro de time finalizar um gol, ele gritou: "Carcanha, carcanha!!" - que não era um termo usado como usam atualmente no futebol, queria dizer apenas; chute! Chute! hehehe e ele se entregou.

Essa história ilustra um modo de ser do mineiro, que é fazer piada da própria desgraça. E sobra tempo para proseá, seja de janela, no portão, na beira do fogão ou numa mesa de bar.



O DEBA - Desafio Enviado para Blogueiros Amigos pede para falarmos daquilo que é usual em nossa terra. Acho que isso é invenção do próprio Pablo.

O modus vivendi do mineiro depende da região que ele habita. O Estado é grande e sofre influência das fronteiras de outros Estados. Algumas coisas são inerentes ao mineiro, como o orgulho de ser mineiro.

Dizem que só a mineira consegue encantar sem encarar os olhos e Joaquim da Mata, o Velho Quincas, filósofo dos cafundós de Minas, compara o jeito de ser de uma mineira com o de outra mulher e afirma que a "deferença" está no preparo.

"Que a Mineira não mente, conta lorota.
Não menstrua, fica úmida.
Não paquera, espia.
Não fica bonita, já nasce formosa.
Mineira não usa tênis, enfeita as alpargatas
Mineira não curte um som, ouve música.
A mineira não segue moda: faz moda"

Procure entender o modus vivendi do mineiro ou o modus cogitandi do nosso homem do campo e entenderá somente se habitar por lá. Se não puder, leia a narrativa da raiz de nossa História em Sagarana de João Guimarães Rosa.

Há 36 anos o "Clube da Esquina" reuniu músicos de Minas que não precisaram ir à São Paulo ou Rio de Janeiro, para fazerem aquilo que mais gostavam e conseguiram inovações harmoniosas e rítmicas, reunindo em um disco de vinil, vários estilos musicais, passando pelo erudito, gregoriano e há quem diga até pelo pop britânico. Tanta pluralidade para ecoar suas vozes, sufocadas pela repressão política.

Hoje são mais de 80 músicos que representam mais de três décadas desta História e celebrada com direito a jornal; O "Ponto dos músicos" que tem como editores Ronaldo Bastos, Milton Nascimento...e muitos outros. Consta por lá, o prefácio do livro de Márcio Borges, escrito por Caetano Veloso que fala muito desse modo de ser mineirinho - Os sonhos não envelhecem...


Foto site Clube da Esquina

O atual mineiro está bem diferente daquele de outrora e uma das características que mudou foi em relação a sua religiosidade. Antes o Barroco mostrava que a religiosidade para o mineiro tinha características humanas e agora no futuro, constatamos que o movimento dos inconfidentes só contribuiu para intimidar essa religiosidade e a intelectualidade mineira que à época era o berço da nação. Alguns culpam a teogonia de José. Será?

Mudamos também quanto à política. Credo, nem vou falar disso!

"Regressamos sempre aos velhos lugares aonde amámos a vida.
E só então compreendemos que não voltarão jamais todas as coisas que nos foram queridas.
O amor é simples e o tempo devora as coisas simples"

(José Eduardo Agualusa, "O Ano em que Zumbi Tomou o Rio")

Ser mineiro, é ser simples e direto. Como diz minha mãe "não estranhe a palavra minha filha, são coisas de velha e de mineira" Vai saber!

Gostaria muito de ler sobre o modo de ser de muita gente por aqui. Sei que nem sempre agregamos valores de onde nascemos e sim, somos o resultado de tudo aquilo que vivemos. Por hora deixo a tarefa para a Meire (Ribeirão Preto/Itália), Márcio Pimenta (Salvador/Chile), Júnior (Curitiba/São Paulo), Yvonne (Rio de Janeiro/Guarapari) e Tina Blue (São Paulo com pensamento em United Kingdom).

Estou no lugar onde sempre quis estar. Amanhã posso mudar, quem sabe? Porém os meus valores permanecem intactos, sempre serão os mesmos.

...em quietude, sem solidão

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Algumas coisas não têm preço

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