Tu e Eu - Duas estações diferentes
Mudou a Estação, como não perceber? Algumas mudanças são imperceptíveis pois elas chegam lentamente - A Estação atual absorve a anterior que se dilui na mesma proporção. Quando muda a estação, a luminosidade que provoca mudanças na natureza, faz as cores se deslocarem e o nosso olhar fica cada vez mais agudo. Há quem sinta a necessidade de também mudar alguma coisa dentro de si.
Pode ser verão, outono, primavera ou inverno - Dentro de nós corre um rio que enche e transborda para depois ir diminuindo até se esvaziar - euforia ou tédio, depende de quem interpreta esse paralelo com o mundo externo - se lá fora tudo muda e se não há interpretação para o que acontece dentro de nós, deslocamos o olhar para algum canto ou alguma coisa que não sabemos o que é, mas que incomoda de alguma forma. Que seja mudar de posição na cadeira e até mesmo na cama... dormindo.
Inconscientemente nosso corpo muda acompanhando toda a dinâmica que acontece ao redor.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu,lipa
Eu,calipto.
Nada dura, nem mesmo o azul... e quando você se dá conta, o ano está caminhando para o seu fim... A estação acabou, o romance acabou... Então, você se põe a arrumar a sala, o escritório e todos os cômodos da casa. Começa em um lugar, passa para o outro sem finalizar tarefa alguma. Tira uma pilha de coisas de dentro do armário e troca de lugar. As ideias e novas tarefas se amontoam e a pilha mais uma vez é posta de lado e, na volta para a sala, resolve não mais fazer a mudança e pega a pilha e retorna para o escritório. Bagunçou a casa toda em vão e o escritório parece cheio. Você fecha os olhos na poltrona. Acabou o azul... e a urgência de mudanças! Onde estará aquela energia que lhe fez tirar tudo do lugar? Não tem tempo... Não é férias... Tudo em excesso, é desperdício.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
Escureceu e poderia dormir por horas, até que abrisse os olhos e novamente se deparasse com a promoção de tanta bagunça! "Por que fui começar isso, se o dia antes estava tão organizado?". A resposta parece simples, procuramos pelos excessos para acompanhar o tumulto da mente. Inquietude.
Na dúvida por onde começar a arrumação, procura por uma caixa e daquela pilha, pega um por um dos volumes e vai colocando no fundo da caixa. Cada volume encerra uma história que ficará guardada, inanimada... talvez esquecida.
Na dúvida por onde começar a arrumação, procura por uma caixa e daquela pilha, pega um por um dos volumes e vai colocando no fundo da caixa. Cada volume encerra uma história que ficará guardada, inanimada... talvez esquecida.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Na sede de novos romances, traz para casa um novo companheiro que logo será esquecido, adormecido no fundo no fundo da mente, no fundo da caixa. Por que preciso colocar tantos romances "em espera, em fila, em reserva"?
Talvez quando pinte carência, a disponibilidade de resgatar um velho romance soe bastante confortável:
-Não preciso investigar com o olhar sua aparência, nem correr os dedos para estimular meu tato, o meu olfato... Meu velho romance apático fica do meu lado, espreitando silenciosamente, na espera para satisfazer minhas vontades. Sem ânimo para aquele romance que foi explorado, sugado e lambido até ficar árido, tento resgatar alguma emoção e quem sabe levá-lo para um passeio, para um petisco que me satisfaça o paladar.
Talvez quando pinte carência, a disponibilidade de resgatar um velho romance soe bastante confortável:
-Não preciso investigar com o olhar sua aparência, nem correr os dedos para estimular meu tato, o meu olfato... Meu velho romance apático fica do meu lado, espreitando silenciosamente, na espera para satisfazer minhas vontades. Sem ânimo para aquele romance que foi explorado, sugado e lambido até ficar árido, tento resgatar alguma emoção e quem sabe levá-lo para um passeio, para um petisco que me satisfaça o paladar.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
Algum sentido em mim não ficou satisfeito, por que ainda estou presa nessa sala, nesse romance? Que me vale ter algo bom do meu lado que já não me satisfaz mais?
Levo meu romance para dançar. Exibo para toda a gente e vejo a admiração que se estampa noutros olhares. Cheguei a conclusão que necessito libertar o meu romance secreto, resenhá-lo, apresentá-lo para outras pessoas e intuitivamente satisfazer todos os meus sentidos - Vieram falar dele para mim e a minha audição sentiu cosquinhas de prazer, ao ponto de a certa altura chegar a sentir ciúmes.
Levo meu romance para dançar. Exibo para toda a gente e vejo a admiração que se estampa noutros olhares. Cheguei a conclusão que necessito libertar o meu romance secreto, resenhá-lo, apresentá-lo para outras pessoas e intuitivamente satisfazer todos os meus sentidos - Vieram falar dele para mim e a minha audição sentiu cosquinhas de prazer, ao ponto de a certa altura chegar a sentir ciúmes.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Já é tarde e não posso voltar atrás! Como explicar com exatidão sentimentos tão contraditórios? Não sabia mais o que sentia - O que esperava de um romance que estava morto dentro de uma caixa? Se posso mantê-lo "em espera, em fila, em reserva", é porque não me faz falta. Então, não devia tumultuar meus dias com romances obsoletos... Seria um cadinho de vaidade?
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
Mas é certo que não irei jogar no lixo tal romance que já me proporcionou tanto prazer. A agenda já existe dentro de mim, mas a alegria da descoberta passou e agora posso deixar que uma lágrima corra, desafogando meu rio.
Libertei esse romance para o azul dos dias, para que possa despertar outros prazeres, desprazeres ou seja lá o que for para quem o quiser. Que provoque, modifique, retire ou coloque sentimentos em mais alguém. Meu rio secou para ele!
- Não seja estúpida, chegou a chorar ao libertar seu romance e ficou lá, assistindo o que iria acontecer. Depois de alguns minutos uma moça apareceu e meio desconfiada se aproximou. Naquele bar, após poucos minutos de contato, ela se encantou, mesmo intrigada com tanto oferecimento.
Você viu aquela outra pessoa com os olhos brilhando de transbordamento - um rio se enchendo - Perfeito estado. E partiu também livre para viver um novo romance, entendendo que esse abandono foi apenas um ato de generosidade...
Os versos "Tu e Eu", destacados no texto são de Luís Fernando Veríssimo
Libertei esse romance para o azul dos dias, para que possa despertar outros prazeres, desprazeres ou seja lá o que for para quem o quiser. Que provoque, modifique, retire ou coloque sentimentos em mais alguém. Meu rio secou para ele!
- Não seja estúpida, chegou a chorar ao libertar seu romance e ficou lá, assistindo o que iria acontecer. Depois de alguns minutos uma moça apareceu e meio desconfiada se aproximou. Naquele bar, após poucos minutos de contato, ela se encantou, mesmo intrigada com tanto oferecimento.
Você viu aquela outra pessoa com os olhos brilhando de transbordamento - um rio se enchendo - Perfeito estado. E partiu também livre para viver um novo romance, entendendo que esse abandono foi apenas um ato de generosidade...
Os versos "Tu e Eu", destacados no texto são de Luís Fernando Veríssimo
O texto escrevi um dia após libertar um romance para o BookCrossing Blogueiro.
Livros "em espera, em fila, em reserva"... Quantos projetos de leitura... Irá mesmo retroceder e reler o livro que tanto guarda? Reveja se não está na hora de libertá-lo da clausura da estante... Participe da 10ª Edição do BookCrossing Blogueiro!
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Muito Bom! e bem sacado.
ResponderExcluirbeijogrande
Adorei !
ResponderExcluirBeijos Luma, para um excelente dia!
Maravilhoso texto entremeado com os versos de L.F.Veríssimo! bjs, lindo dia! chica
ResponderExcluirUm belo texto entrelaçado com bons momentos poéticos...bj
ResponderExcluirSeparação aempre magoa. Nem que seja com a dor nas costas provocada pelo transporte de um embrulho mais pesado,
ResponderExcluirOlá Luma, que texto tão bonito! que posso destacar dele? tanta coisa, também me encontro rodeada de necessidades de arrumação, desta casa e da outra e das varandas, e das roupas, e do carro, e do trabalho... mas também é conhecida a insatisfação que isso traz de transportar coisas de um lado para o outro, mas que desaparece quando partilhamos o que temos e o que sentimos, o que nos traz felicidade, será assim ?
ResponderExcluirfeliz dia amiga
Angela
Seus textos são maravilhosos,amiga!
ResponderExcluirPoesia e texto sempre fica lindo!!!!
Buscamos as mudanças para reencontrarmos a felicidade, e essa é a verdade humana!
Bjus
As diferenças nos fazem crescer e olhar além do horizonte!
http://www.elianedelacerda.com
Seus textos são ótimos e L.F.Veríssimo enobrece seu post de hoje!
Oi, Luma.
ResponderExcluirA estação mudou e a inspiração baixou com tudo, né?
Parabéns pela postagem (não só por essa, evidentemente).
Mudando de pato para ganso, vamos ver se alguma coisa muda com a manifestação prevista para o próximo domingo.
A conferir.
Beijos e até mais ler.
Oi de novo.
ResponderExcluir"Baixou" no sentido de incorporar, não no de diminuir, evidentemente.
Bjs de novo.
Perfeito Luma! Simplesmente perfeito! Bjks Tetê
ResponderExcluirOlá minha querida!
ResponderExcluirAs estações mudam e alguns sentimentos também!
Que seja uma mudança para encontrar a felicidade.
Lindo texto, belos versos!
Bjs, tudo de bom pra ti! ♥
Oi Luma,
ResponderExcluirAdorei o texto e o poema, não o conhecia.
Bjs
Muito lindo Luma! Parabéns! ^^
ResponderExcluirBeijinhos :3
Luma, combinação perfeita!
ResponderExcluirMe senti um pouco dentro do terceiro parágrafo do seu texto...
Bjooooooo.
Espero conseguir libertar algum livro.
ResponderExcluirBig Beijos
Lulu on the Sky
Parabéns pelo lindo texto e por ter se desapegado do livro.
ResponderExcluirÉ um atitude nobre e difícil, pois nos apegamos muito aos nossos livrinhos.
Abraços,
http://www.diegomorais18.blogspot.com.br/
Os versos de LF. Veríssimo (meu conterrâneo) se empoderaram com os teus versos que estão repletos de poesias, um complementou o outro.
ResponderExcluirBjs
Luma, o texto e mesmo interessante, porque fora do vulgar, o que prende muito o leitor. E o que se nos pode empolgar e preencher mais a nossa bagagem? O certo é nos acrescenta?
ResponderExcluirAbraços
Oi Luma!
ResponderExcluirDe tudo o que se depreende, é o desapego, a decisão de levar o romance para dançar, porque dele já sugaste todo o néctar ao folear ansiosa , as virgens páginas impregnadas de encantamento do romance, nem que para isso, corra o risco de chorar!
Sim, foi um ato de generosidade!
Beijos e bom fim de semana!
VitorNani & Hang Gliding Paradise
Belíssimas considerações, ótima crônica.
ResponderExcluirLuma, beijo!
Amiga Luma, as estações mudam e nós mudamos com elas.
ResponderExcluirÉ assim a vida uma constante mudança e renovação.
Os seus textos enriquecem-nos e revelam uma pessoa linda e culta, parabéns!
beijinho
Fê
Amei os versos de Luís Fernando Veríssimo e a forma como os introduziu em seu bem escrito texto. O desapego depene de exercício. Quando vemos o prazer de quem recebeu algo que guardávamos, percebemos a importância de distinguir o que nos faz falta e o que acumulamos sem justificativa razoável. Bjs.
ResponderExcluirO fim de qualquer coisa , geralmente, deixa sempre sensação de ruptura, que pode ser agradável ou não ou até só de alívio.
ResponderExcluirJá deixei mais um livro espalhado por aí, rrss
Bom domingo, linda !
"Tu e eu duas estações diferentes..." parabéns pelo blog. Bjs
ResponderExcluirAlgumas mudanças de estação são bem-vidas, outras não, porém inevitável
ResponderExcluirHá estações que desejaríamos que se prolongassem, mas tudo tem seu tempo determinado e o ciclo tem que se completar.
Acho que o tempo nunca foi tão efêmero, quando mal percebemos o início, já se encontra pela metade e assim transcorre.
É um belo texto, Luma!
Mudanças são necessárias, mas as vezes não temos coragem de faze-las, de sair daquela zona de conforto que nos acostumamos. É por isso que precisamos sempre aceitar as mudanças e evoluir com elas. Bjos Luma e um lindo fim de semana,
ResponderExcluirHoje estou de passagem para deixar
ResponderExcluirum beijo com muito carinho.
Desejar um feliz e abençoado Domingo.
Amigos é sonho e a realidade mais linda.
Um abraço minha saudade e todo meu carinho.
Ficou ótimo. bjs e bom domingo.
ResponderExcluirLuma,
ResponderExcluirVoce libertou seu texto e entrelaçou muito bem com os versos de LFV.
Muita sutileza para falar do tempo, da vida e as mudanças.
Bjs
Luma,
ResponderExcluirBom bom ler tudo que você escreve e nos trás.
É preciso ter coragem , abrir as caixas, tirar tudo de dentro, e colocar dentro, coisas novas. Devemos estar sempre abertos às mudanças.
Uma linda semana! Abraço
Gostei do texto, desse jogo de palavras em que o romance pode ser livro escondido ou relação em stand by, esperando a sua oportunidade. Assim o li !
ResponderExcluirBeijo da Nina
Olá Luma. Gostei muito do seu texto e da inclusão dos versos desse poeta.
ResponderExcluirBom domingo
Luma,
ResponderExcluirque entrelaçamentos primorosos, reflexão em uníssono aos versos tão bem entoados...Tu e Eu em meio as mudanças dos ritmos, envoltas no turbilhão azul que a tudo abrange e convida a rever, refazer, desfazer e novamente conceber...outono, tempo de claridades e rebuliços que amo fielmente.
Um domingo azulado e vibrante.Irei agora mesmo beber este azul que me filtra.
Bjos,
Calu
Muito interessante o seu texto Luma. Não conhecia o poema, mas o entrelaçamento ao texto e do poema é muito bom.
ResponderExcluirUm abraço e bom Domingo
Bom dia Luma.
ResponderExcluirSeus texto são excelentes, andei hoje lendo algumas postagem suas anteriores, gostei demais. Esse texto com as poesias de Luis Fernando Veríssimo ficou perfeito. Nada é para sempre, mudamos diariamente, a cada estação nós da um prazer diferente. Acho que nada deve ser acumulado, mas dividido, tem um imenso prazer em distribuir os livros que acabo de ler, geralmente entre familiares. Uma linda semana.
Abraços.
Oi Luma,
ResponderExcluirNossa adorei!
A mudança sempre é necessária e
o que foi bom guardamos em um relicário.
Uma excelente semana.
beijos
E quando se assusta neste eterno e continuo mudar de estações, o ano vem nos dizer que está agonizante. Linda sua inspiração com estas belas referencias ilustrativas.
ResponderExcluirMeu carinhoso abraço Luma
Bjs
Luma li e reli seu texto tão cheio de poesia e que resgata tanta coisa no nosso íntimo. Já selecionei 3 livros para libertar apenas esperando uma oportunidade que alguém me leve para registrar pq ainda não posso dirigir.
ResponderExcluirBjo e obrigada por nos presentear com cultura sempre. Te adoro.
Estou maravilhada com essa postagem, texto perfeito em paralelo com poesia....amei, parabéns!!!
ResponderExcluirO nosso corpo muda, a sociedade muda e dentro de nós, alma talvez, uma inquietude sempre nos provoca para depois se aquietar, ou melhor, se reajustar às mudanças, novos olhares e cores; porque o tempo passa queiramos ou não.
Libertar os livros e amores que nos trouxeram reflexões e prazeres é um ato de amor talvez infinito, um -felizes para sempre- continuo se nos desapegarmos.
Beijos!
Tudo é feito de estações, a natureza assim como a vida. Infelizmente algumas pessoas insistem em ignorar isso. E se fossilizam em uma estação, e perdem a chance de evoluir.
ResponderExcluirSim, Luma! Caril = Curry!
ResponderExcluirBeijinhos
Querida Luma
ResponderExcluirAchei muito interessante o paralelismo que estabeleceu. Assim como alternam as estações, também alternou o seu belo texto com os versos de Veríssimo, o que muito apreciei.
Neste momento, não tenho nenhum livro à espera. Quando compro, não descanso enquanto não leio tudo..Pareço uma criança, entusiasmada com o seu brinquedo novo!
Por agora, estou a adaptar-me ao outono.Depois de um verão quente, o frio chega e teimo em não usar um casaco mais quente, em não calçar logo meias...Sabe como é!!!...Mas os tons da Natureza estão belíssimos! Um verdadeiro encanto!
Bom fim de semana.
Um beijinho
Beatriz