Paixão e suor
...Mais cruel, mais bonita
que sincera
E pelas informações que recebi
Já vi
Que essa ilustre visita era você
Porque não existe nessa vida
Pessoa mais fingida
Do que você
(Só Pode Ser Você - Noel Rosa)
Não, este não é um post sobre Noel Rosa...
As comemorações do centenário de Noel Rosa não param de acontecer no Rio, mesmo que o ano de 2010 tenha sido o que completou o ciclo. Interesssante ver que a riqueza que este filósofo do samba deixou, contraria a máxima de outros setores da nossa cultura, que insiste em dizer que o brasileiro não tem memória. Constatei pessoalmente a inspiração da artista plástica Sonia Madruga que pintou com águas de chuva de Vila Isabel o quadro intitulado “Feitiço da Vila”, uma das composições de Noel Rosa. Retratos da paixão pela arte e pela música!
Representante da nova geração do samba, a cantora e compositora Teresa Cristina, homenageia Braguinha e Noel Rosa no Teatro Rival Petrobrás/Cinelândia e Nelson Sargento, também sobe ao palco acompanhado por gente de responsabilidade: Wander Fontana, Márcio Almeida, Pedro Lima e Ronaldo Mattos, para interpretar composições próprias e de Noel Rosa no Centro Cultural Light/centro. Evento gratuito.
São eventos isolados - longe de serem eventos grandiosos, como muitos shows pirotécnicos que a mídia insiste em apresentar como música brasileira - que a nossa música de raiz sobrevive. Releituras de mestres como Cartola, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho e Tom Jobim movimentam Belo Horizonte, tendo à frente grupos da cidade, músicos, intérpretes e compositores que defendem nossos clássicos, buscando arranjos diferenciados que agradam aos fãs.
Folgo em dizer aos pessimistas que a música brasileira não morreu, ela respira com dificuldade, sem incentivo das gravadoras ou governamental e fazendo milagres! Tanta força de vontade, não posso deixar de demonstrar a minha admiração por Bibi Ferreira, que este ano completa 70 anos de carreira e que tendo o palco como a sua forma de expressão maior, essa diretora e também cantora, com seus 88 anos de idade em Março, saí em turnê pelo país. Grande fôlego e exemplo para os mais novos! Quem ainda não conhece o trabalho musical da artista, pode conferir no seu recém lançado disco: "Bibi Ferreira Brasileira – Uma suíte amorosa" - repertório homenageando Adriana Calcanhoto, Cazuza, Noel Rosa, Tom Jobim e Pixinguinha.
Às favas aqueles que dizem vivemos de passado! Uai, temos história musical e precisamos reforçar as nossas bases de criação para que não haja prejuízo por causa das influências negativas de culturas extras-brasileiras.
Tenho lido e escutado muito música "antiga", como sempre fiz em toda a minha vida. Algumas pessoas estranham o meu gosto pela música retrô brasileira, em contraponto ao que tenho de modernices na minha biblioteca musical.
A música popular brasileira é das mais bem-humoradas do mundo. Pode ter seus momentos de romantismo, de nostalgia e até de fossa, mas nem nessas horas mais sérias resiste a uma boa piada. Há de se ver com bom humor Antônio Maria, eleito pelo pessoal da bossa nova o símbolo maior do infortúnio universal, costumava cantar assim a sua dor-de-cotovelo: "Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire...", vai dizer que não é muito engraçado!
Muito antigamente, para cada seresta lacrimosa de Orestes Barbosa, existia uma charge carnavalesca delciosamente gozadora de Noel Rosa ou Lamartine. Durante a bossa nova, se Vinícius era capaz de implorar: "crava as garras em meu peito em dor e esvaí em sangue todo o amor...", ele próprio podia mandar todo o mundo pra a "Tonga da mironga do cabuleté".
E hoje, se ainda há quem cante muito bem os males de amor, há também quem lembre que "a gente é igual a Garrincha e Aleijadinho: Ninguém precisa consertar".
É isso, humor: humor e definição. Se o brasileiro é um pianista vocacional, o humor que lhe serve de matéria-prima é mesmo definidor. Ou melhor, um humor judaico, autocrítico, inspirado na própria desgraça: "Deus é um cara gozador e adora brincadeira, pois pra me jogar no mundo tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado de me deixar cabreiro: na barriga da miséria, nasci brasileiro..."
Nossos maiores craques da lírica popular podem ter aquilo que Paulo Mendes Campos chamou de "inexplicável orgulho de ser brasileiro", mas, na hora de se autorretratar, não fazem por menos: "Me dizem que sou demodê, saudosista, blasé, retrô, me acusam até de ser um malandro-cocô... e eu sou!".
Nossa música de carnaval morreu (?) (legal ver a Ivete Sangalo tentando ressuscitar as marchinhas), mas foi nela que o brasileiro começou a revelar sua filosofia de vida: "A mulher é um jogo difícil de acertar, e o homem, como um bolo, não se cansa de jogar..."
Tomemos a caso da paixão nacional pelos contornos glúteos femininos e engana-se quem pensa que tal gosto só se fez música nessa rebolativa era do Tchan - Na folia de 1934 já se cantava: "Na minha fantasia de diabo só falta o rabo... vou botar um anúncio no jornal: 'Precisa-se de um rabo para brincar carnaval...'"
O brasileiro é maledicente por natureza: todo político é desonesto - conclusão que não chegou por acaso - todo médico famoso é charlatão, todo grande cantor desafina, todo poeta-maior é analfabeto, todo Pelé é meio perna-de-pau. Mas se o bem-sucedido morre, cessam-se os poréns. O que já estava nos proféticos versos de um samba sessentão: "Meus inimigos, que hoje falam mal de mim, vão dizer que nunca houve pessoa tão boa assim..."
Somos o país do jeitinho, do barnabé e da maria-candelária, personagens de canção. O país do bêbadoa e do equilibrista. Da pobreza e das barricadas em favor dela: "O samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, são coisas nossas..."
O país da violência transformada em metáfora: "Meu cartão de crédito é a navalha..."
O país que vende o que tem para pagar dívidas do que não tem: "Comparo o meu Brasil a uma criança perdulária, que anda sem vintém e tem a mãe que é milionária..."
O Brasil do coqueiro que dá coco também dá poetas musicais que sabem como cantá-lo.
"É o meu Brasil brasileiro" e sua música que também expressa a "Cabeça do brasileiro"
Nossa escolha musical, aquele cantor(a) preferido(a) tem muito a ver com os nossos momentos. Qual é o fundo musical da sua vida?
que beleza esta crônica musical ... uma aula de mpb ... parabéns ... adorável mesmo ... viajei por aqui ...
ResponderExcluirbjux
;-)
E viva a música brasileira de qualidade. Viva os grandes poetas, artistas que cantam, encantam e interpretam com emoçãoa verdadeira poesia!!
ResponderExcluirBeijos linda!!^^
Ter um fundo musical ? dificil é a resposta considerando o universo musical brasileiro . Mas para prestigiar uma canção de um genial compositor brasileiro vou de "paratodos" do Chico Buarque : "...Fume Ari, cheire Vinícius
ResponderExcluirBeba Nelson Cavaquinho
Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto
Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista"
Música popular brasileira é tão boa, fora aquelas com as particularidade de cada grande região (boi bumba, a música dos cancioneiros do nordetes -esqueci o nome especifico- e por ai vai...
ResponderExcluirFique com Deus, menina Luma Rosa.
Um abraço.
Maravilha fe texto,luma e um belo passeio musical...
ResponderExcluirA minha trilha atualmente está mais pra musiquinhas de crianças,rsrsrs...
beijos,lindo dia e gostei de te ver recnhecida também na Eliane...chica
E salve a música Brasileira!
ResponderExcluirÉ a que mais curto e ouço.
E o fundo musical da minha vida, não poderia deixar de ser Roberto Carlos em "Detalhes".
A gente vive sempre esperando que "aquela pessoa" nunca consiga nos esquecer.
Ou estou errada?
rs
Muito bom dia,Luma cheguei aqui por indicação da Elaine que aponta seu Blog hoje.
E percebi que ela é realmente uma mulher de que sabe das coisas.
Parabéns pela sua página e pelo destaque.
Bjos
Passando aqui para te desejar um bom Domingo e para te deixar um beso!
ResponderExcluirAh... a indicação da Elaine hj é o teu blog!
Tá bem na fita heim amiga?
besos
Olá, Luma!
ResponderExcluirNão conhecia seu blog, vim através duma indicação da Eliane Gaspareto. ela tem toda razão, seu blog é muito bom, parabéns!
Bjs!
Rike.
Voltando de férias, aonde era obrigada a ouvir letras do tipo: "levanta a mãozinha, bate palminha e abaixe a bundinha" 24hr por dia,foi uma delícia ler o seu texto.
ResponderExcluirBjs e feliz 2011.
Luma,
ResponderExcluirFico feliz em divulgar seus escritos. Vejo tantos blogs por aí, e muitos deles não acrescentam nadinha... acho mesmo que ummblog bem feito, e feito por uma pessoa bem feita, precisa ser divulgado. Também é minha forma de agradecer. Por coisas que você talvez nem imagine que me ensinou...
Enfim, muito obrigada.
Vida longa ao Luz!
Beijosssss
Oi Moça!
ResponderExcluirEm primeiro lugar fica registrado o desejo de que possas fazer deste 2011 um belo e feliz ano!!!
O trabalho, e a falta de inspiração me fizeram andar meio "distante", mas agradeço as visitas!
Adorei o post, eu nunca fui muito de música, existem músicas que marcam algumas situações da minha vida, mas em geral sou mais de filmes - por isso acho que não vou saber escolher um fundo musical, mas "meditar eu irei".
Grande abraço!
Vi um documentário sobre Noel Rosa que passou faz algum tempo na GNT, vc viu?
ResponderExcluirTudo que é bom é para sempre...
ResponderExcluirBeijo Lisette.
Texto fantástico.
ResponderExcluirBeijo.
Luma, que texto maravilhoso sobre a MPB!!
ResponderExcluirO fundo musical de minha vida é tão variado amiga..rs
Mas, na verdade, o que importa é a música.
A boa música!!
Que não há de morrer jamais...
Luma, quero tb. te agradecer as palavras tão gentis no balanço.
Fico honrada de verdade com sua presença por lá. :)
Super beijo
Luma
ResponderExcluira música entrou na minha vida pelo meu querido pai.
colocava aqueles lps na "eletrola" cor de laranja e dançava pela cozinha
Emilinha Borba, Angela Maria, Nelson Rodrigues, Francisco Petronio, foram alguns que me acompanharam pela adolescencia e até hoje me lembro.
Lendo o seu texto, percebi que não sou tão "musicalizada" assim.
Quase não ouço uma boa música.
quem sabe agora, naão enfeite mais a minha vida, com suas ricas sugestões.
taí, boa ideia que você me deu.
rsrs
beijos viu... minha mineirinha.
rsrs
100 anos já?! Como vc diz Luma, comemoraçãoes discretas sem shows pirotécnicos e exposição escancarada da mídia. Cultura genuína é assim no BR. Se vivemos no passado é porque o presente não é melhor que ele.
ResponderExcluirOi Luma,
ResponderExcluirEu adoraria ver a Bibi atuando, nunca vi. Será que esta vai ser minha chance?
Bjkas e uma ótima semana para vc.
http://gostodistonew.blogspot.com/
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLuma,
ResponderExcluirQue belo post. Adoro mpb e não sei se tenho um fundo musical na minha vida...devo ter vários. Mas Cazuza cantando Nelson Sargento é imperdível. "Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida" seria outro.
Alias a poesia tem endereço certo, hehehehe.
Te desejo uma semana de muitas alegrias, musicas e paz.
Beijos
Eu não ouço as músicas de hoje porque me cansam e causam azia. sério mesmo. Não aguento as bobagens que são ditas. Claro que tem algumas que se salvam, mas dentre tantas.
ResponderExcluirVou dormir abraçada com Tom, Chico e Elis, amanheço com Clara Nunes e sua morena de angola e me divertir com a malandragem do Chico quepede para deixar a menina passar. E visto minha fantasia porque de repente a gente não sente a dor que a gente finge que sente. Então se é assim "mar e lua" vai nos trazer uma forma de amar enluarada. rs
E depois disso vou cnatar vários sambas de uma nota só. Essa é a música brasileira que me diz muita coisa sobre essa gente que parece se ressentir da Ditadura Militar. Sei lá, esse regime fez surgir gente criativa pela necessidade de fazer arte para rasgar a dor que deveras sentiam. aff
Bacio
Muito vom seu texto.
ResponderExcluirAmo música brasileira.
Minha trilha sonora é enorme: Elis Regina, Djavan, Nando Reis, Cássia Eller, entre tantos outros...
bj
Um post espetacular.
ResponderExcluirFalar da MPB brasileira não é para qualquer um Luma, precisa deste teu conhecimento e primor.
Obrigada por mais esta aula.
Bjs no coração!
Nilce
Lembro que quando eu ouvia, era bem eclética. Acho que há boas e péssimas músicas em qualquer gênero ou época.
ResponderExcluirExcelente post.
Beijo na alma, Luma!
Zeca Pagodinho já o homenageou há alguns anos, com a minha preferido do Noel Rosa, "Jura"
ResponderExcluirBoa semana
bj
Luma, gosto de música boa, de batida leve, sou romântica...
ResponderExcluirLetras de dor de cotovelo me comovem e vivo a situação descrita, mesmo nunca tendo me dado mal na vida amorosa. Mexe comigo.
O fundo musical da minha vida é a música de qualidade, que dá e deixa um recado.
beijo!
Você toca num ponto de extrema importância. Veja como a qualidade da música brasileira - que encantou o mundo todo - caiu assustadoramente. Um festival de obviedades, mediocridade galopante e bun8as substituindo vozes com uma proficiência assustadora.
ResponderExcluirSe pensar assim é viver no passado; "manda ver" que eu vou pegar esse bonde.
Oi,
ResponderExcluirLuma,
menina! Muito massa!!! Beleza de post para os fãs e apaixonados por Noel. Beijão no seu coração, brigadão por compartilhar,