Doux faire Tous



Subi a serra neste fim de semana para participar do Festival Gastrônomico e levei comigo alguns livros de Elizabeth David. Pelo que podem ver estão todos bem marcados com fitinhas. Estes livros são bastante visitados por mim.

Para quem não sabe, Elizabeth David foi a responsável por mudar os hábitos alimentares da alta classe média britânica. Ela poderia esperar por isso ao publicar Mediterranean Food em 1950, mas não esperava que até os dias atuais seus livros, que misturam receitas culinárias com literatura, fossem tão consultados. Na verdade, além de misturar as receitas com literatura, as receitas são mais pitorescas do que práticas. Veja por exemplo, o Picti, que é um prato grego - um queijo de porco grego (?)

"Ferva uma cabeça de porco por horas em uma água fortemente aromatizada com folhas de louro e grãos de pimenta. Após o cozimento, parta-a em pedações grandes. Esprema 3 ou 4 limões ao caldo peneirado, despeje o caldo sobre o queijo porco, arrumado em grandes vasos de cerâmicas e deixe-o solidificar. Não é elegante, mas costuma ser muito bom"

Eu duvido muito que os leitores deste livro tenham se arriscado a confeccionar o queijo porco, tampouco tenham feito uso das instruções de como esfolar um polvo em uma outra receita.

Mas daí entram os méritos da autora que consegue mandar para bem longe o marasmo da vida inglesa daquela época; os ingredientes eram escassos, estavam em falta ou racionados, era necessário enfrentar filas e a frustração de não conseguir comprar o necessário para se comer durante uma semana. Os ingleses comuns, se não podiam comer como deveriam, comiam as páginas dos livros da Sra. David; receitas cozidas com vinhos, azeite, ovos, manteiga, cremes, aromatizadas com cebolas, alho, ervas e hortaliças meridionais de colorido "brilhante". Eu passo a entender o porque de hoje em dia, a culinária ter tanta platéia.

Com a publicação de seu segundo livro French Provincial Cooking, ela foi aceita como a maior escritora viva na área de culinária. O que se confirma em Omellete and a Glass of Wine, que é uma compilação de artigos publicados em jornal num período de 35 anos.

Para os candidatos a Chefs, como a Ludi, a leitura é prestante, simples, chegando a ser brusca em certas ocasiões. Reconhecemos que todo chef deve saber também da história do prato, da época em que foram criados, o porque do uso de certos ingredientes, além de outros detalhes que fazem do culinarismo uma ciência complexa, que envolve também os sentimentos e emoções humanas; e a poesia contida nos livros evoca uma ambiência exótica que apela para os sentidos da visão, do olfato e do gosto do leitor.

A Sra. David viaja por reminescências de lugares que conheceu, numa verdadeira literatura de viagem e disso também resultou o resgate de antigos folhetos impressos expostos em sua elegante loja de utensílios de cozinha em Londres.

De qualquer modo não é aconselhável ninguém começar a cozinhar por instruções impressas. Aprende-se a cozinhar observando outras pessoas e por tentativas e erro. Um bom livro não dá ao leitor informações sobre técnicas, mas trata de inspirá-los - mas veja que isso também pode não acontecer - as mais belas receitas, nem sempre inspiram o leitor mais receptivo a cozinhar - ou mesmo a comer.

Os livros de receitas que nos tocam o coração são aqueles que nos fazem retroceder no tempo, à cozinha da mamãe, às lembranças infantis ou mesmo à uma época mais antiga ou esplendorosa. O mais antigos dos sentimentos - a nostalgia - um desejo de passado mítico, em que a comida era fresca, não adulterada por conservantes químicos, intocada pela postura e afetação - onde imaginamos, recriamos odores e o recuperamos simbolicamente pelo simples ato de comer.

Mas não se fartem, heim?
Lembrem-se que os excessos (in)fartam.
Boa semana!
Beijus,

7 comentários :

  1. Luma
    Isso que eu chamo de um passeio frugal!
    bjs
    :)

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  2. Diga a verdade: eu sou um idiota!
    aehauheauiheaui
    ;*

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  3. Anônimo23:16

    Eu faço poucas coisas na cozinha, mas, o que faço, foi mesmo das receitas da Mamãe. Quanto as dicas desta senhora, este queijo de porco, talvez sob tortura!

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  4. Luma, que lugar bonito! Adorei essa foto!
    A Ursa ficou com água na boca com esse festival gastronômico :)) Eu só sei cozinhar o trivial e não me considero boa na cozinha. Beijos!

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  5. Oisssss
    Quanto tempo.... estou de ferias no Brasil....
    Como sempre, seu blog esta maravilhosooooooo!!!!

    Beijinhos... GI!

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  6. Anônimo15:05

    Luminha, sou muito chato com respeito a comida, para mim basta arroz, feijão e batata frita com salada de alface(da crespa).
    Tenha uma ótima semana!! Beijos!!

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  7. Anônimo23:56

    Olha só a literatura que essa mulher anda devorando O.o

    De culinária, só sirvo pra comer. Não sei nem fritar um ovo... qto mais um picti, hehehe. Mas taí a verdade: livros culinários servem pra inspirar, não ensinar.

    Ahhh... e me desculpe por minha ausência forçada da blogosfera. É que tem umas provinhas vindo aí, sabe?

    Beijão, Luma o/

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