Carimbador Maluco
...na tentativa de resolução de assuntos profissionais.
Mas, que stress...que burocracia!
ÊTA!! CARIMBADOR MALUCO!!
Durma-se com o barulho, de tanta gente carimbando!!
Uma notícia perdida num canto do jornal causou um arrepio: O Brasil fabrica 2,7 milhões de carimbos por mês. Quase 3 milhões de carimbos! Isso significa que, a cada mês, um em cada cinqüenta brasileiros ganha um carimbo. E há quanto tempo isso vem acontecendo? Anos, décadas, talvez séculos. Some essa montanha de carimbos e olhe ao redor: Somos uma nação de carimbadores. Milhões de nós passamos o dia carimbando ou sendo carimbados.
Dependendo do sujeito na escala burocrática, ele disporá de um suporte de carimbos, com vários carimbos pendurados, cada qual de um tamanho ou formato e, creio, com funções e dizeres diferentes. Daquele cabide de carimbos, ele tirará o carimbo ou carimbos adequados, porque, como se sabe, é raro o documento que não exija diversas carimbadas para seguir o seu curso nas mesas da burocracia. O fato de um sujeito controlar inúmeros carimbos não quer dizer que ele não seja o responsável pela carimbada defiinitiva, aquela que liberará seu documento na direção final.
Assim como os rios correm para o mar, todos os carimbos conduzem à um guichê. Ou deveriam conduzir. Mas, como certas empresas têm terror a fazer pagamentos, muitas vezes um documento adormece em uma gaveta, deixando de receber as carimbadas parciais que o encaminharão ao derradeiro carimbo e, daí, ao caixa. E, sem essas carimbadas, neca. Por isso, há quem pense que o pior inimigo do assalariado ou do prestador de serviços é o carimbo. Mas é uma injustiça: o carimbo não passa de um bode expiatório, um alvo fácil e inocente em quem jogar a culpa. Por trás do carimbo, há sempre (ou, no caso, deixa de haver) uma mão humana.
A não ser que tenha sido obrigado a isso pela burocracia superior, ninguém jamais mandou fabricar um carimbo com boas intenções. Fabrica-o para retardar uma ação, uma decisão, um pagamento. Daí ser assustadora a idéia de que, de trinta em trinta dias, esse absurdo de carimbos é despejado em território nacional.
São praticamente 100 mil carimbos por dia! E carimbos novos, que não invalidam a população de carimbos preexistentes. Se cada burocrata carimbar uma vez por dia durante as oito horas do expediente normal – e se usar apenas o seu carimbo novo – só aí já serão 900 mil carimbadas por dia no país. Mas é claro que qualquer burocrata carimba muito mais que isso. Donde o número final de carimbadas/dia não caberá em nenhuma calculadora.
Durma-se com tanta gente carimbando. Você não vê carimbos? Alguém carimbou pra você!
Há alguns anos, num desses governos anteriores, criou-se um ministério dedicado a exterminar carimbos: o da desburocratização. O titular era Hélio Beltrão. De uma penada, ele dizimou milhões de carimbos, condenando-os à cesta de lixo dos escritórios. A depender de Beltrão, não restaria um carimbo nesse país. Mas, com sempre, não o deixaram terminar o serviço. E, assim que ele virou as costas, os carimbos voltaram triunfantemente e estão aí até hoje, reproduzindo-se como coelhos.
Diz o recorte de jornal que há três mil pequenas empresas no Brasil para fabricar os quase três milhões de carimbos. Como cada carimbo é um produto personalizado, essas empresas não sofrem a concorrência dos importados e, por isso, vão todos muito bem de vida.
Outra coisa: elas fabricam carimbos para qualquer um, menos para o governo. Para isso, teriam de entrar em licitações “complicadas” e, mesmo que ganhassem, o governo demora pra pagar.
Porque o governo demora a pagar? - Carimbos demais na administração pública. Mas é desculpa! Quem presta serviços ao governo sabe da clausula de pagamento até o 5º dia útil, porém eles atrasam sempre o percurso da carimbada - as notas rodam pra lá e pra cá, até serem liberadas. Enquanto o tempo passa, você paga o pato, se não quiser levar a fama de mau pagador!
P.S. Este texto já foi publicado no "Luz de Luma" no dia 29.o8.2005 e como sempre faço quando republico, mantenho os comentários originais. Saudade!! Muita gente não bloga mais! Veja se você já frequentava o "Luz"!
Lembrei deste texto ontem. Nossa!! Que país burrocrático!!