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Resgatando a capacidade de lembrar

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Quando visualizei a imagem ao lado, lembrei de um artigo que li tempos atrás (bem lá atrás) e queria lembrar o nome do autor - eu me lembrava do texto e não lembrava de todo o resto - Fui puxando o fio da memória, tentei lembrar o lugar onde estava, em que situação estava e tals. Foi um exercício mental; um exercício que deveríamos fazer todos os dias. Eh, não somente músculos atrofiam...

E hoje começam os debates televisivos. O Povo de São Paulo não deveria se empolgar com candidatos que apenas esquentarão a cadeira por dois anos para depois usarem-na como trampolim para candidatura à presidência do país. Sabemos de suas reais intenções, mas o povo... Povo iludido. E me contradiz ver resultados de pesquisas como abaixo e constatar que São Paulo, mostrará em cadeia nacional que essa eleição, antes mesmo de começar já está condenada. Eleições para manter quem está no poder? A não ser que o povo tome atitude e vote nos "outros"



Vamos ao artigo escrito por Lorenzo Andreotti

Vejo com muito pesar a amnésia brasileira. E o que é mais triste é que ela não é parcial. A exemplo de certas enfermidades fatais, é generalizada, se alastra, contaminando até os segmentos mais vitais. O retrato mais gritante vem da política. Digo gritante porque está aí para quem quiser ver. Políticos matreiros fazem bobagens há 30 anos e continuam sendo eleitos. São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, mostrou em cadeia nacional que sua Câmara estava condenada pela corrupção. Eleições e... 50% foram reeleitos.

Na cultura nem se fala. Talentos nascem e morrem no anonimato, outros chegam a ser vistos, mas são imediatamente esquecidos. Na política - que não é minha área -, posso fazer pouco (só disponho de um único voto). Porém a cultura é meu terreno fértil e, graças a Deus, tenho autoridade para lembrar o que foi esquecido, resgatar o que foi ignorado e é nesta condição que relembro (para quem esqueceu) e apresento (para quem nunca ouviu falar) o Barão de Itararé (1895-1971), pseudônimo de Aparício Torelli, o Aporelli, um dos maiores humoristas deste país.

Estamos tão embotados do humor sem qualidade do nível de Tom Cavalcante e Casseta & Planeta que vale a pena "desenterrar" o Barão com seu humor de cidadão livre e isento de preconceitos e compromissos ideológicos.

O Barão era um personagem. Nascido em São Leopoldo (RS), gostava de contar seu insólito nascimento. Grávida, sua mãe viajava em uma carroça. Lá pelas tantas, a carroça caiu em um barranco e quebrou a roda. Foi então que - como disse mais tarde - o Barão "saiu para ver o que estava acontecendo".

Em 1926, Aporelli, morando no Rio de Janeiro e já um jornalista conhecido, fundou o jornal "A Manha" (alusão ao "A Manhã", um dos maiores jornais da época). O periódico - um marco no humor brasileiro - era uma espécie de sátira da política nacional. Seu pseudônimo também tinha história. Em 1930, a Aliança Liberal, sob a liderança de Getúlio, iria travar uma batalha decisiva em Itararé. O combate não chegou a existir, mas Aporelli embarcou: veiculou na "A Manha" que ele próprio tinha participado da luta e, por seu destaque no campo de batalha, ganhou o título de "Duque de Itararé". Mais tarde, rebaixou o título para barão, "como prova de modéstia", acrescentou.

Engajado, o Barão participava ativamente da política nacional e, em 1933, lançou-se em campanha contra o integralismo. A princípio, disse, pensou em aderir, pois ouviu o lema "a Deus, Pátria e Família" e pensou que fosse "adeus, Pátria e Família". Por conta de ousadias como esta, foi preso diversas vezes. Mas o Barão não deixou por menos e, anos mais tarde, se referia a seus períodos de cárcere como "épocas em que me enclausurei para meditação e retiro espiritual como hóspede do Estado e com guarda permanente à minha disposição".

Na década de 40, seus chistes corriam de boca em boca, espalhando gargalhadas pela cidade. Dizia que sua experiência na política fez com que corrigisse a célebre afirmação de Augusto Comte "Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos". Barão retificava: "Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos". Máximas sobre a pobreza, como: "Pobre só levanta a cabeça para ver se vai chover!", "Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira cinco dedos"; Pobre só vai para frente quando dá topada"; "Quando pobre come frango, um dos dois está doente"? Pois é. Todas são do Barão.

O humorista também submetia antigos provérbios a saborosas distorções modernas: "Diz-me com quem andas e eu te direi se vou contigo"; "Em terra de reis, quem tem um olho é cego"; "Quem vê cara não vê que horas são". Também sabia filosofar: "O homem é um animal que pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário"; "Sabendo levá-la, a vida é melhor do que a morte". Viva o Barão!

Bom fim de semana!
Beijus,
Luma

...em quietude, sem solidão

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