Mania de Arquiteto

Se o bilionário americano John D. Rockefeller Jr. não tivesse doado o imenso terreno em Nova Iorque que abriga a Organização das Nações Unidas (ONU), é posssível que a instituição nascida em 1945 fosse sediada em outro lugar, provavelmente na Europa, como queriam os governos daquele continente.

A generosa oferta do herdeiro de uma das maiores fortunas dos EUA de certa forma determinou que, no dia 24 de Outubro de 1949, as obras de construção da sede da ONU - que até aquele momento funcionava em instalações provisórias - se iniciassem ao longo do East River, em Manhattan, entre as ruas 42 e 48. Ocupando uma área internacional de sete hectares dentro de Nova Iorque, sem no entanto, pertencer à cidade e sim aos países membros.

O projeto era grandioso: quatro blocos interligados, onde funcionariam a Assembléia Geral, o Secretariado, o prédio de conferências e a Biblioteca Dag Hammarskjöld. Formou-se uma comissão internacional de onze arquitetos consagrados, entre eles o suíço Le Corbusier, o brasileiro Oscar Niemeyer e o americano Wallace K. Harrison, chefe da equipe.

A ideia era que a concórdia entre as nações começasse ali: cada arquiteto apresentaria um desenho, um deles seria escolhido, talvez modificado, e o projeto final seria assinado por todos.

Muito tempo depois, Niemeyer, discípulo de Corbusier, contou que depois de seu projeto ser aprovado pela comissão, o arquiteto suíço o chamou e sugeriu algumas mudanças, que o brasileiro, apesar de constrangido, acatou. Os dois juntos apresentaram então um novo desenho, que serviu de base para a construção, com o prédio da Assembléia-Geral, como queria Corbusier, no centro do terreno, por ser hierarquicamente mais importante.

No projeto de Niemeyer, ele ficava em um canto, deixando o centro livre para uma grande Praça das Nações Unidas. "Naquele tempo a minha preocupação era apenas apoiar o velho mestre", disse mais tarde o brasileiro.

O "velho mestre", um arquiteto revolucionário, já passara por uma enorme decepção ao participar, em 1927, da concorrência para projetar a nova sede de Genebra da Liga das Nações (Palácio Völkerbund - Sede das Nações Unidas na Europa), organização que precedeu a ONU. Na época, seu desenho moderno e funcional foi desclassificado por um detalhe técnico - o tipo de tinta com que foi traçado. Considerada uma manobra das cabeças conservadoras do júri, o fato gerou um clamor internacional que destacou de vez o arquiteto suíço.

De qualquer maneira, parece não haver dúvida em identificar no prédio do Secretariado, um imponente edifício de 39 andares em concreto e vidros esverdeados, a marca de Le Corbusier, que nunca engoliu muito bem o fato de não ter sido convidado para criar, sozinho, o conjunto arquitetônico - chegando a insinuar que Harrison, a quem é atribuído o prédio da Biblioteca Dag Hammarskjöld, só concluído em 1961, teria plagiado o seu trabalho.

Vaidades à parte, o conjunto da ONU começou a funcionar em 1950, sendo, desde então, um dos locais mais visitados em Nova Iorque.

"De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte."

Oscar Niemeyer,
104 anos completados em 15 de Dezembro de 2011

– Quando o sol bater ♪♬ Na janela do teu quarto ♪♬ Lembra e vê que foi erro de projeto.

O caso contado no post é apenas um dos vários causos que o nobre e sabido homem, Oscar Niemeyer conta. Quem sabe um outro dia eu conto outros causos para você?