A estrada de Arroz
imagem Myanmar Pagoda & Temples
Kuang Zi Lian, mercador e agricultor, era rico, muito rico mesmo, e adorava fazer alarde da sua fortuna exibindo o maior e o melhor, fosse do que fosse. Era dono de milhares de terrenos, as suas roupas eram feitas com as sedas mais caras e mais requintadas, Para além de que a sua enorme casa estava repleta de tesouros inestimáveis.
Para o dia do seu aniversário, organizou o banquete mais espetacular que os vizinhos jamais tinham visto. Os preparativos estavam já adiantados: como a estrada de terra batida que levava a sua casa estava cheia de pedras, Kuang Zi Lian ordenou a um grupo de criados que tratasse de as retirar. Foi um trabalho bastante árduo, tendo os empregados carregado as pedras em cesto.
Quando esta tarefa ficou pronta, Kuang Zi Lian foi inspecionar o trabalho e descobriu que onde antes havia pedras existiam agora buracos.
- Manda encher os buracos e colocar por cima uma passadeira vermelha que vá até ao portão de entrada, passe pelos meus jardins e leve as pessoas até a porta da frente de minha casa – ordenou ele.
- E com quê se encherão os buracos? – perguntou-lhe o secretário.
- Arroz! – respondeu Kuang Zi Lian, com um sorriso de orelha a orelha.
- Mas não se limitem a encher os buracos. Quero uma grossa camada de arroz sob a passadeira, de modo a que os meus convidados possam desfrutar do mais suave de todos os caminhos!
Naqueles tempos, os pobres na China nada mais comiam a não ser arroz, e os muito pobres tinham sorte se conseguissem algum. Utilizar aquele alimento deste modo era um desperdício terrível, mas Kuang Zi Lian encarava-o como uma maneira de demonstrar como era rico e importante. Qualquer pessoa podia comer arroz, mas só ele era suficientemente rico e poderoso para mandar fazer uma estrada com aqueles grãos.
Numa altura em que havia pessoas a morrer de fome, chegaram relatos deste desperdício aos ouvidos de um magistrado de uma cidade vizinha.
O seu nome era Zhao Shen Xiao e era um homem bom e honesto, mas nada conseguia fazer acerca da estrada de arroz. Kuang Zi Lian podia dispor da sua riqueza do modo que melhor lhe aprouvesse, contudo a verdade é que Zhao Shen Xiao ficara triste ao lembrar-se de todas as pessoas famintas nas cidades e nas aldeias.
Foram chegando notícias do banquete que Kuang Zi Lian preparava aos ouvidos dos pedintes locais e estes encaminharam-se para a casa do homem, levando na mão as tigelas com que costumavam pedir. Sabiam que era arroz que estava sob a passadeira, mas não se atreviam a retirar um grão que fosse, pois sabiam que não lhes pertencia.
Não ousavam igualmente passar o portão e entrar pelos jardins, uma vez que os guardas, atentos, os observavam. Estes últimos tinham recebido de Kuang Zi Lian instruções muito claras acerca do tratamento a dar a visitantes inoportunos – deveriam, muito simplesmente, ser maltratados.
No dia do banquete, porém, houve um pedinte que entrou pela casa dentro. Passou pelas legiões de criados que corriam de um lado para o outro a cuidar dos últimos preparativos. Da cozinha vinha um aroma delicioso, as tigelas de porcelana brilhavam, dispostas em diversas filas de mesas cuidadosamente envernizadas; as estátuas recebiam um derradeiro polimento e a passadeira era varrida uma última vez.
O pedinte dirigiu-se à cozinha e estendeu a tigela.
– Poderiam arranjar-me algumas sobras? – pediu. – A minha mulher e o meu filho não comem nada há dias. Todavia, os cozinheiros não se atreveram a dar-lhe qualquer comida, com medo que Kuang Zi Lian viesse a saber.
Nesse momento, irromperam pela cozinha dois guardas e agarraram-no e um deles arrancou-lhe a tigela vazia das mãos, ao passo que outro o pegou pelo cachaço e o atirou pelos degraus abaixo, para o chão. o pedinte conseguiu ainda agarrar uma mão-cheia de arroz antes de se pôr de pé. Tinha o nariz a sangrar devido à queda.
O primeiro guarda prendeu-lhe o pulso e apertou-o com força. Deixa isso – ordenou.
O pedinte deixou escorregar os grãos de arroz por entre os dedos. Como poderá ao teu amo fazer falta uma mão-cheia de arroz se tem a estrada pavimentada com ele? – suplicou.
- Não nos questiones! – gritou o segundo guarda e de acordo com as ordens do patrão, distribuíram ao pedinte uma dose de pontapés que servissem de lição para todos os demais.
Depois foi o banquete. Todos os ricos proprietários de terras dos arredores chegando pela estrada de arroz, ficando maravilhados com um anfitrião demasiadamente rico que podia utilizar arroz para pavimentar a estrada.
imagens Xinhua - yellow river
Admiraram os magníficos jardins de Kuang Zi Lian, bem como a sua casa e tesouros, após o que se sentaram para a festa.
Exclamações de prazer por parte dos ricos convidados cedo se tornaram em terror: as tigelas de arroz começaram a transformar-se em tigelas de larvas de insetos e as massas em minhocas que se contorciam. E as próprias tigelas ficaram demasiado quentes para os convidados lhes pegar, ostentando as mãos destes bolhas dolorosas das queimaduras. E o arroz , do melhor, passou a saber a água lamacenta.
Os convidados ficaram aterrorizados, mas ninguém ficou mais do que o anfitrião.
Passa-se qualquer coisa estranha aqui! – gritou, pondo-se de pé. – Os meus guardas relataram-me um incidente com um pedinte. Deve ter lançado uma maldição sobre nós, mas descansem que será punido!
Kuang Zi Lian, furioso, deixou o local do banquete e ordenou aos guardas que o levassem até ao pedinte, que ainda se encontrava a sangrar no chão. Um grupo de pedintes tinha entretanto entrado nos jardins para o socorrer.
– Foste tu o autor disto! – vociferou Kuang Zi Lian e deu um pontapé ao pobre pedinte, que inspirou uma última vez e morreu.
Alguns pedintes conseguiram reunir coragem suficiente para relatar o homicídio ao magistrado Zhao Shen Xiao, que ficou furioso e logo se fez ao caminho pela estrada de arroz, acompanhado de polícias, rumo à casa de Kuang Zi Lian.
Ao chegar, ficou surpreendido por ver que o corpo do pedinte ainda ali estava. Era de esperar que Kuang Zi Lian o tivesse mandado tirar dali para o caso de vir a haver uma investigação. Não tardou a descobrir a razão por que não fora retirado: nenhum dos criados conseguia levantar dali o cadáver; o corpo estava incrivelmente pesado.
Zhao Shen Xiao curvou-se e revistou os bolsos do pedinte, tendo apenas encontrado um pedaço de papel. Desdobrou-o, leu as poucas palavras nele escritas e voltou a dobrá-lo.
– Tragam-me Kuang Zi Lian – ordenou aos polícias que o acompanhavam. Dali a pouco o homem mais rico de toda a província estava diante de si.
– Mataste este homem – acusou Zhao Shen Xiao, – Tenho testemunhas.
– Era um ladrão e invadiu a minha propriedade – respondeu Kuang Zi Lian, com desdém.
– Enganas-te – acrescentou o magistrado. – Não era nem um ladrão nem um pedinte. Tratava-se de Li Xuan.
Uma expressão de horror e surpresa invadiu o rosto dos presentes. Li Xuan (por vezes chamado Tie Gual Li) era um dos Oito Imortais, um dos oito seres humanos extraordinários que tinham encontrado o caminho da verdade e do conhecimento através da prática do bem. Aquele homem vestido como um pedinte, que se encontrava morto no chão, era quase um deus.
Kuang Zi Lian prostrou-se de imediato aos seus pés e à mercê do magistrado.
– Não sabia… Não sabia… – lamentava-se pateticamente.
Claro que não sabias – confirmou Zhao Shen Xiao. – Veio aqui para te submeter a um teste, que tu falhaste e que lhe custou a vida. O que me impede de mandar matar-te?
Poupa-me! – balbuciava Kuang Zi Lian. – Distribuirei tudo o que tenho. Tudo, a começar pela estrada de arroz. Que a comida seja dada aos pobres! Que as minhas riquezas sejam vendidas e o dinheiro seja aplicado em beneficência!
Muito bem! – declarou Zhao Shen Xiao. – Se fizeres isso, poupo-te a vida, desde que passes o resto dos teus dias como varredor de estradas!
Faço o que tiver de ser! – implorou Kuang Zi Lian. – Muito obrigado. Zhao Shen Xiao sorriu, lembrando-se do pedaço de papel que estava no bolso de Li Xuan. Dizia assim: «Poupa a vida de Kuang Zi Lian. Condena-o a varrer as estradas.» Depois estava assinado. Ninguém obrigara Kuang Zi Lian a alienar as suas riquezas. Fizera-o de sua livre vontade.
Quando os pedintes vieram retirar o corpo de Li Xuan, este pesava como uma pena. Logo depois de o colocarem num caixão, desapareceu. É preciso muito mais do que aquilo para destruir um dos Oito Imortais. Li Xuan estava reunido com os outros sete, a contar-lhes as lições que dera naquele dia.
imagens China, The Middle Country 中国
Este mito taoista demonstra o grande fosso existente entre os ricos e os pobres, e o modo como um magistrado honesto foi ajudado por um dos Oito Imortais, conseguindo tornar humilde um homem avarento.
Do livro: Mitos e Lendas Chinesas, contadas por Philip Ardagh.
As imagens do post são do Yellow River, chamado "O Berço da Civilização Chinesa". Os chineses o chamam de "Rio Mãe" - Ao mesmo tempo que o acham uma 'benção', acham-no uma 'maldição', orgulho e tristeza - Nada contra as mães, pelamordedeus!!
Não consegui nenhuma página em português que falasse do Yellow River, pois que existe um música dos anos 60 de Tony Christie e também cantada por brasileiros do Pholhas. Devem ter feito muito sucesso na época, porque só dão eles no sistema de pesquisa brazuca, cantando uma música com este nome.
Escolhi as imagens do Yellow River para colorir o meu Dia de Amarelo - Sol, luz e energia - Dia de Colorir a Vida e Iluminar o mundo! Convite aceito da Glorinha e de co-autoria da Açuti, para nos trazer mais alegria aos dias blogais, participe!
A lenda veio a calhar para ilustrar o dia, por nos lembrar valores universais que transcendem filosofias ou religiões e que deve, por 'humanidade' estar no íntimo de cada um.
Ontem teve início a Semana Santa e o chamado "Domingo de Ramos" onde revivemos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém sobre um burrinho e independente de escolhas religiosas, se a história é encarada como apenas uma lenda, delas devemos tirar ensinamentos. Como disse São Josemaría:
«Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma».
O sábio tem dúvidas, o ignorante certezas absolutas e o sensato prefere refletir sobre tudo isto.
Para o dia do seu aniversário, organizou o banquete mais espetacular que os vizinhos jamais tinham visto. Os preparativos estavam já adiantados: como a estrada de terra batida que levava a sua casa estava cheia de pedras, Kuang Zi Lian ordenou a um grupo de criados que tratasse de as retirar. Foi um trabalho bastante árduo, tendo os empregados carregado as pedras em cesto.
Quando esta tarefa ficou pronta, Kuang Zi Lian foi inspecionar o trabalho e descobriu que onde antes havia pedras existiam agora buracos.
- Manda encher os buracos e colocar por cima uma passadeira vermelha que vá até ao portão de entrada, passe pelos meus jardins e leve as pessoas até a porta da frente de minha casa – ordenou ele.
- E com quê se encherão os buracos? – perguntou-lhe o secretário.
- Arroz! – respondeu Kuang Zi Lian, com um sorriso de orelha a orelha.
- Mas não se limitem a encher os buracos. Quero uma grossa camada de arroz sob a passadeira, de modo a que os meus convidados possam desfrutar do mais suave de todos os caminhos!
Naqueles tempos, os pobres na China nada mais comiam a não ser arroz, e os muito pobres tinham sorte se conseguissem algum. Utilizar aquele alimento deste modo era um desperdício terrível, mas Kuang Zi Lian encarava-o como uma maneira de demonstrar como era rico e importante. Qualquer pessoa podia comer arroz, mas só ele era suficientemente rico e poderoso para mandar fazer uma estrada com aqueles grãos.
Numa altura em que havia pessoas a morrer de fome, chegaram relatos deste desperdício aos ouvidos de um magistrado de uma cidade vizinha.
O seu nome era Zhao Shen Xiao e era um homem bom e honesto, mas nada conseguia fazer acerca da estrada de arroz. Kuang Zi Lian podia dispor da sua riqueza do modo que melhor lhe aprouvesse, contudo a verdade é que Zhao Shen Xiao ficara triste ao lembrar-se de todas as pessoas famintas nas cidades e nas aldeias.
Foram chegando notícias do banquete que Kuang Zi Lian preparava aos ouvidos dos pedintes locais e estes encaminharam-se para a casa do homem, levando na mão as tigelas com que costumavam pedir. Sabiam que era arroz que estava sob a passadeira, mas não se atreviam a retirar um grão que fosse, pois sabiam que não lhes pertencia.
Não ousavam igualmente passar o portão e entrar pelos jardins, uma vez que os guardas, atentos, os observavam. Estes últimos tinham recebido de Kuang Zi Lian instruções muito claras acerca do tratamento a dar a visitantes inoportunos – deveriam, muito simplesmente, ser maltratados.
No dia do banquete, porém, houve um pedinte que entrou pela casa dentro. Passou pelas legiões de criados que corriam de um lado para o outro a cuidar dos últimos preparativos. Da cozinha vinha um aroma delicioso, as tigelas de porcelana brilhavam, dispostas em diversas filas de mesas cuidadosamente envernizadas; as estátuas recebiam um derradeiro polimento e a passadeira era varrida uma última vez.
O pedinte dirigiu-se à cozinha e estendeu a tigela.
– Poderiam arranjar-me algumas sobras? – pediu. – A minha mulher e o meu filho não comem nada há dias. Todavia, os cozinheiros não se atreveram a dar-lhe qualquer comida, com medo que Kuang Zi Lian viesse a saber.
Nesse momento, irromperam pela cozinha dois guardas e agarraram-no e um deles arrancou-lhe a tigela vazia das mãos, ao passo que outro o pegou pelo cachaço e o atirou pelos degraus abaixo, para o chão. o pedinte conseguiu ainda agarrar uma mão-cheia de arroz antes de se pôr de pé. Tinha o nariz a sangrar devido à queda.
O primeiro guarda prendeu-lhe o pulso e apertou-o com força. Deixa isso – ordenou.
O pedinte deixou escorregar os grãos de arroz por entre os dedos. Como poderá ao teu amo fazer falta uma mão-cheia de arroz se tem a estrada pavimentada com ele? – suplicou.
- Não nos questiones! – gritou o segundo guarda e de acordo com as ordens do patrão, distribuíram ao pedinte uma dose de pontapés que servissem de lição para todos os demais.
Depois foi o banquete. Todos os ricos proprietários de terras dos arredores chegando pela estrada de arroz, ficando maravilhados com um anfitrião demasiadamente rico que podia utilizar arroz para pavimentar a estrada.
imagens Xinhua - yellow river
Admiraram os magníficos jardins de Kuang Zi Lian, bem como a sua casa e tesouros, após o que se sentaram para a festa.
Exclamações de prazer por parte dos ricos convidados cedo se tornaram em terror: as tigelas de arroz começaram a transformar-se em tigelas de larvas de insetos e as massas em minhocas que se contorciam. E as próprias tigelas ficaram demasiado quentes para os convidados lhes pegar, ostentando as mãos destes bolhas dolorosas das queimaduras. E o arroz , do melhor, passou a saber a água lamacenta.
Os convidados ficaram aterrorizados, mas ninguém ficou mais do que o anfitrião.
Passa-se qualquer coisa estranha aqui! – gritou, pondo-se de pé. – Os meus guardas relataram-me um incidente com um pedinte. Deve ter lançado uma maldição sobre nós, mas descansem que será punido!
Kuang Zi Lian, furioso, deixou o local do banquete e ordenou aos guardas que o levassem até ao pedinte, que ainda se encontrava a sangrar no chão. Um grupo de pedintes tinha entretanto entrado nos jardins para o socorrer.
– Foste tu o autor disto! – vociferou Kuang Zi Lian e deu um pontapé ao pobre pedinte, que inspirou uma última vez e morreu.
Alguns pedintes conseguiram reunir coragem suficiente para relatar o homicídio ao magistrado Zhao Shen Xiao, que ficou furioso e logo se fez ao caminho pela estrada de arroz, acompanhado de polícias, rumo à casa de Kuang Zi Lian.
Ao chegar, ficou surpreendido por ver que o corpo do pedinte ainda ali estava. Era de esperar que Kuang Zi Lian o tivesse mandado tirar dali para o caso de vir a haver uma investigação. Não tardou a descobrir a razão por que não fora retirado: nenhum dos criados conseguia levantar dali o cadáver; o corpo estava incrivelmente pesado.
Zhao Shen Xiao curvou-se e revistou os bolsos do pedinte, tendo apenas encontrado um pedaço de papel. Desdobrou-o, leu as poucas palavras nele escritas e voltou a dobrá-lo.
– Tragam-me Kuang Zi Lian – ordenou aos polícias que o acompanhavam. Dali a pouco o homem mais rico de toda a província estava diante de si.
– Mataste este homem – acusou Zhao Shen Xiao, – Tenho testemunhas.
– Era um ladrão e invadiu a minha propriedade – respondeu Kuang Zi Lian, com desdém.
– Enganas-te – acrescentou o magistrado. – Não era nem um ladrão nem um pedinte. Tratava-se de Li Xuan.
Uma expressão de horror e surpresa invadiu o rosto dos presentes. Li Xuan (por vezes chamado Tie Gual Li) era um dos Oito Imortais, um dos oito seres humanos extraordinários que tinham encontrado o caminho da verdade e do conhecimento através da prática do bem. Aquele homem vestido como um pedinte, que se encontrava morto no chão, era quase um deus.
Kuang Zi Lian prostrou-se de imediato aos seus pés e à mercê do magistrado.
– Não sabia… Não sabia… – lamentava-se pateticamente.
Claro que não sabias – confirmou Zhao Shen Xiao. – Veio aqui para te submeter a um teste, que tu falhaste e que lhe custou a vida. O que me impede de mandar matar-te?
Poupa-me! – balbuciava Kuang Zi Lian. – Distribuirei tudo o que tenho. Tudo, a começar pela estrada de arroz. Que a comida seja dada aos pobres! Que as minhas riquezas sejam vendidas e o dinheiro seja aplicado em beneficência!
Muito bem! – declarou Zhao Shen Xiao. – Se fizeres isso, poupo-te a vida, desde que passes o resto dos teus dias como varredor de estradas!
Faço o que tiver de ser! – implorou Kuang Zi Lian. – Muito obrigado. Zhao Shen Xiao sorriu, lembrando-se do pedaço de papel que estava no bolso de Li Xuan. Dizia assim: «Poupa a vida de Kuang Zi Lian. Condena-o a varrer as estradas.» Depois estava assinado. Ninguém obrigara Kuang Zi Lian a alienar as suas riquezas. Fizera-o de sua livre vontade.
Quando os pedintes vieram retirar o corpo de Li Xuan, este pesava como uma pena. Logo depois de o colocarem num caixão, desapareceu. É preciso muito mais do que aquilo para destruir um dos Oito Imortais. Li Xuan estava reunido com os outros sete, a contar-lhes as lições que dera naquele dia.
imagens China, The Middle Country 中国
Este mito taoista demonstra o grande fosso existente entre os ricos e os pobres, e o modo como um magistrado honesto foi ajudado por um dos Oito Imortais, conseguindo tornar humilde um homem avarento.
Do livro: Mitos e Lendas Chinesas, contadas por Philip Ardagh.
As imagens do post são do Yellow River, chamado "O Berço da Civilização Chinesa". Os chineses o chamam de "Rio Mãe" - Ao mesmo tempo que o acham uma 'benção', acham-no uma 'maldição', orgulho e tristeza - Nada contra as mães, pelamordedeus!!
Não consegui nenhuma página em português que falasse do Yellow River, pois que existe um música dos anos 60 de Tony Christie e também cantada por brasileiros do Pholhas. Devem ter feito muito sucesso na época, porque só dão eles no sistema de pesquisa brazuca, cantando uma música com este nome.
Escolhi as imagens do Yellow River para colorir o meu Dia de Amarelo - Sol, luz e energia - Dia de Colorir a Vida e Iluminar o mundo! Convite aceito da Glorinha e de co-autoria da Açuti, para nos trazer mais alegria aos dias blogais, participe!
A lenda veio a calhar para ilustrar o dia, por nos lembrar valores universais que transcendem filosofias ou religiões e que deve, por 'humanidade' estar no íntimo de cada um.
Ontem teve início a Semana Santa e o chamado "Domingo de Ramos" onde revivemos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém sobre um burrinho e independente de escolhas religiosas, se a história é encarada como apenas uma lenda, delas devemos tirar ensinamentos. Como disse São Josemaría:
«Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma».
O sábio tem dúvidas, o ignorante certezas absolutas e o sensato prefere refletir sobre tudo isto.
Coisas que me deprimem, gente que me faz sentir vontade de não existir...
ResponderExcluirEu sobrevivo das lições que me fazem crescer e da minha família que me ensina a amar.
Obrigada pela lição.
Lindo Luminha!
ResponderExcluirMeu dia ficou, além do amarelo radiante de suas imagens, mais completo com a reflexão que fiz sobre esta história taoísta. Amei!
beijos cariocas
Muito bonita a história.
ResponderExcluirLuma! Estou encantada! Você conseguiu iluminar meu dia, a blogosfera e o mundo! Não fosse vc Luma = Lume, Luz, que nos ajuda a todos a clarear as ideias, a iluminar os pensamentos, a refletir!
ResponderExcluirYes Luma, you did it!
Sabedoria pura.
Beijos querida!
Olá Luma :)
ResponderExcluirSem dúvida de que fiquei enriquecido ao ler este texto, está repleto de ensinamentos. A cultura Chinesa é implacável em lições como esta. Excelente!
Sobre Jesus Cristo e a Bíblia, pelo meu entendimento da vida, é fascinante como 2 milénios após a Sua "ida", os ensinamentos continuam mais actuais como nunca antes estiveram... Ou melhor, a mente humana consegue evoluir tão lerdamente que só agora começa a perceber qualquer coisa de que Jesus falou há 2 mil anos.
Abraço.
Olá amoreco estamos completando 100 mil visitas, ops! mordidas e é claro que vc faz parte da festa, por isto tem presentinho para você! bjinhos da Madrasta!
ResponderExcluirLuma,
ResponderExcluirDiante da morte, verificamos que nossa maior riqueza é a vida. Uma vida só é realmente rica se for pobre de egoísmo.
beijo, menina
denise rangel
Luma,
ResponderExcluirEssa história dá margens a diversas "lições", mas, para mim, a melhor é:
muitas vezes, o que guardamos em demasia e não dividimos, estraga sem que, posteriormente, aproveitemos nada.
Beijos e uma ótima semana.
Luma,
ResponderExcluirSão textos como esses que nos faz ver o quanto somos pequenos e precisamos crescer em aprendizado... Chineses sempre tem muito a ensinar eu aproveito tudo sabe que só assim poderemos vencer certas barreiras e viver de maneira produtiva e honesta.
Meu dia ficou iluminado e por consequencia poderei iluminar o dia de outros que me cercam...
Bjs carinhosos e linda semana
Márcia
Luminha,
ResponderExcluirse você procurasse em "Rio Amarelo", acharia muita informação. Este rio, chamado na China de Hwang Ho, junto com o Rio Azul (Yangtzé), são os dois principais mananciais dos chineses. Pena que o Amarelo esteja totalmente poluído, dizem até que de modo irreversível.
A sua história é deliciosa. Eu adoro histórias. Lembro de meus tempos de guri quando eu vivia pedindo aos mais velhos que contassem histórias. Eu gosto de contar histórias para os meus sobrinhos. Conto para eles algumas já tradicionais, mas muitas vezes eu invento uma história na hora. E represento, fazendo vozes, gestos, olhares... Minha irmã, quando pedia para eu fazer meu sobrinho dormir, dizia que ele não tinha vontade de dormir depois de ouvir minhas histórias, ficava ainda mais aceso.
A sua história é muito legal e a forma que você a envolveu nesta postagem sobre humildade, pobres e ricos, foi muito legal.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Luma
ResponderExcluirGostei muito da história. De resto, gosto de mitos e lendas, sempre nos ensinam alguma coisa. Neste caso, fez-me pensar que hoje a situação não é muito diferente: nós desperdiçamos tanto e há tanta gente a precisar de alguma coisa!
Bjs
belíssimo texto, sem dúvidas!
ResponderExcluirLuma:
ResponderExcluirMinha sintonia em azul...que escreveu em amarelo hoje. Duvida? Então, dá uma olhada...
Parabéns pelo texto!
Adoro histórias que nos ensinam pequenos ou grande pedaços que esquecemos de nós mesmos. Formando este enorme quebra-cabeça somos.
Beijos.
Anny.
Oi Luma.
ResponderExcluirSimplesmente sensacional, a história. Valeu (e muito) a divulgação.
***
Dancei muito ao som de Yellow River, inclsuive na versão brazuca:
Amarelo, amarelo
era o rio que eu encontrei
Já era noite escura quando dei por mim
Amarelo, amarelo...
Beijo.
Eu adoro lendas e a força que cada uma delas. A maioria trás o avesso de suas civilizações e um teste para nossas mentes tão apegadas ao real. As vezes é preciso abrir mão da realidade para navegar por esse mundo. Boa semana pra vc
ResponderExcluirNão tô conseguindo ler de novo... O texto fica por baixo das fotos.
ResponderExcluirO importante por trás de tantas mensagens e lendas que recebemos sempre, está a lição que podemos tirar delas.
ResponderExcluirEssa é ótima, bela participação!
Luma,
ResponderExcluirPost sensacional. O homem avarento aprendeu da pior - porém, para ele - única forma, a respeitar o próximo e partilhar seus bens.
Grande abraço.
Adoro seus textos, sempre.
ResponderExcluirUauuuuuuuuu !!! Adorei !!! fiquei presa na historia do começo ao fim !!!
ResponderExcluirLindo dia amarelo....
lindo ensinamento...
nunca a riqueza tem que ficar acima da pobreza...
Parabens, vc realmente é uma mulher fantastica.
Bjks
Um primor de postagem! A começar pelas imagens, capazes de iluminar a minha noite de hoje! A lenda é uma confirmação dos valores morais que devemos trazer em nosso coração, seja ele cristão ou budista... o que for!
ResponderExcluirCerta vez ouvi dizer que só enriquece quem não sabe partilhar... Aquilo que guardamos de forma egoísta apodrece... e o que partilhamos prospera e frutifica!
Beijos, Luma! Uma Santa Semana prá ti e os teus!
Linda postagem Luma.
ResponderExcluirParabéns!
bjs.
Um post de excelência. Amei. As imagens encheram meus olhos. A lembrança de Jesus montado em um animal tão simples, nós faz viver a humildade...
ResponderExcluirBeijos querida
Mah
Oi Luma,
ResponderExcluirFaz tempo nao passava por aqui, valeu a pena! bela parabola....
bj, muita luz!s
Mesmo pra quem não tem fé,basta ler qualquer texto,seja do evangelho,seja de outros livros sábios,para aprender sobre a nossa natureza;os mesmos que proclamavam hosana ao filho de davi,bendito o que vem em nome do senhor,são os mesmos que depois gritam a plenos pulmões:crucifica-o!solta barrabás!Belíssimo post.Ah,me lembro da canção;é do meu tempos,rs.
ResponderExcluirSabedoria aliada à cor amarela.LINDO! Adorei tua participação!beijos,lindo dia!chica
ResponderExcluirMulher,
ResponderExcluirque capricho está esta sua postagem. Daqui, tiro como essência o valor que devemos dar ao que de fato somos, enquanto passamos por esse planeta. O acúmulo, seja do que quer que seja, acaba por adoecer as relações, os encontros... A Vida.
PS: não sei o que aconteceu. Aqui no meu pc, o texto que escrevi com o título NO TERNO AMARELO DA FLOR, aparece normalmente. Mas, de todo o modo, que bom que vc leu minha declaração de admiração a uma flor que tanto gosto. A ALAMANDA AMARELA.
Bjs
Tenho que concordar com o Luciano, Luma! Este post é sensacional!
ResponderExcluirMto se vê que as pessoas mto ricas, tem mto orgulho e ambição no coração!
Eu prefiro a pobreza a toda uma riqueza...
Venha até o Ideias participar ada brincadeira: "Vc acredita em anjos?"
bjão
Olá!
ResponderExcluirFiquei feliz com sua doce presença no Meu Cantinho!
Essa blogagem coletiva foi um sucesso, parabéns á todas nós blogueiras, por incríveis postagens!!
Beijos e muita luz para nós!
[outra coisa bacana de ler aqui sempre é como o começo ou o final de suas postagens conduzem a linha de comentários, variando muito pouco conforme o "miolo" de cada luz sua, heheheh...]
ResponderExcluirÉ uma história que mostra que "gente é gente" há bastante tempo. E quanto mais das coisas a gente tem [e mais as coisas a gente valoriza], menos da essência somos capazes de perceber. Me fez lembrar de outro post seu, e de algo que comentei por aqui, não só quanto ao que e quem somos, mas o que temos deixado e o que vamos deixar enquanto estivermos por aqui.
Ah, respondi seu comentário por lá mesmo :) Beijo!
Olá, eu gosto muito de contos e lendas e a maneira como, nos marcam. Agradeço a leitura, adorei. beijitus
ResponderExcluirAdorei seu post, também gosto desse tema e acho que há sempre algo a ser apreendido!
ResponderExcluirQuanto à "Não trate o seu cão como gente" será que não caberia "Não trate seus próximos como animal"???
:D
Beijos
Minha cara amiga Luma, texto lindo e filosófico, e com belas e suaves imagens, parabéns.
ResponderExcluirPaz e harmonia,
forte abraço
C@urosa
Luma que beleza de mansagem. E as fotos então, que coisa! Obrigada pela visita. Vou te seguir agora. Bjs
ResponderExcluirEspetacular essa historia, parte fundamental da tragedia humana: os ricos, os miseraveis, os ricos miseraveis de coração, as contradições sociais. Da para imaginar que o ser humano escolhe essa realidade de contrastes para si todo o tempo? Como diria Clinton e como diria Stalin, ( misericordia, falar desse asassino!) é preciso criar mais abundancia no mundo para poder dividir. Todo mundo chora diante de uma historia triste mas vai mexer com o bolsinho das emotividades para ver se quase todos nao viram feras, né Lumitcha? Os mitos estao ai por que desde que o mundo é mundo que o ser humano tem dificuldade enorme de entender a vida, de aprender a ser gente.
ResponderExcluirBeijos e o carinho da Cam
A sua história me deixou até mais leve hoje.. ainda bem que passei por aqui!
ResponderExcluirParabéns! Parece até os contos do Paulo Coelho - genial essa do Yellow River!
Fantástica história Luma.
ResponderExcluirBig Beijos
Eu já tinha lido o post, mas voltei pra ver novamente as imagens...
ResponderExcluirViajei!
Bom feriado,
Michelle.
qu e lindo texto! obrigada por postar!
ResponderExcluirbeijos
O mais sabios se tornam mais simples, apenas isto realmente dá a verdadeira riqueza...
ResponderExcluirFique com Deus, menina Luma.
Um abraço.