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Com que roupa eu vou? [update]

Eu hoje estou pulando como sapo,
pra ver se escapo
desta praga de urubu...

Trecho da música "Com Que Roupa?"
Composição: Noel Rosa
Desenho: Lan

"Com que Roupa?" foi o primeiro sucesso de Noel Medeiros Rosa (1910-1937). Composto em 1929, gravado em 1930 e estourou no carnaval de 1931. Traz a marca de um poeta irreverente, boêmio, coloquial, que se inspirava no cotidiano do Rio e, principalmente, de Vila Isabel, para criar obras-primas, algumas de cortante lirismo.

São várias as histórias sobre "Com que Roupa?", muitas inventadas pelo próprio Noel - como a que conta que sua mãe escondia suas roupas para ele não sair de casa: "Com que Roupa?" dizia Noel aos amigos que o chamavam para a noite.

Na época, ele integrava o Bando de Tangarás, fundado em 1929, como integrantes: o Almirante (Henrique Foréis Domingues), João de Barro (Braguinha), Henrique Brito, Alvinho e o próprio Noel. Em 1931, chegou a se matricular na faculdade de medicina, mas desistiu do curso, com uma singela alegação:

"Prefiro ser um bom sambista a um mau médico"

O jaleco branco nunca estaria entre as respostas ao refrão de seu primeiro sucesso, mas bom sambista ele foi, mesmo, aprendendo rapidamente as lições dos mestres dos morros cariocas. Foi também um dos maiores letristas da história da música brasileira.

Noel Rosa
Estátua "Conversa de Botequim", localizada na entrada de Vila Isabel (duplicada).

Com menos de 27 anos de vida - morreria de tuberculose - deixou preciosidades como "Feitico da Vila", "Três apitos" e "Último desejo", entre tantas outras popularizadas por Aracy de Almeida, Mário Reis e Francisco Alves, seus principais interpretes.

Com o rosto deformado ao nascer pelo mau uso do fórceps - o que o levaria a mastigar com dificuldade - e de saúde frágil, Noel não era talhado para a vida boêmia que levava, virando noites em botequins e muitas vezes dormindo de favor na casa do amigo Cartola, sambista pobre do Morro da Mangueira.

Para ganhar dinheiro vendeu, "por uma bagatela", muitos sambas, "que davam bons lucros" - para os outros. Em uma entrevista de 1932, Noel Rosa comentou:

"Eu era um otário. Agora (...) estou começando a compreender a vida. Não vendo mais sambas".

Até morrer foi fiel à promessa e a si: continuou boêmio, compondo samba para as suas muitas mulheres - entre elas a musa Ceci e a esposa Lindaura, com quem teve um casamento infeliz.
  • No próximo carnaval, Noel será homenageado na avenida pela Escola de Samba Vila Isabel, por ocasião do centenário de seu nascimento - com o título: "Noël: A Presença do "Poeta da Vila", da autoria de Alex de Souza e samba enredo com sua história contada e cantada (composição: Martinho da Vila) - [leia + samba enredo da Vila Isabel 2010]
  • Nesta sexta-feira, às 22hs. na quadra da Escola de Samba, Vila Isabel será apresentado show tributo em homenagem à Noel Rosa - Repertório cantado por Martinho da Vila e convidados (Mart´nália, Arranco de Varsóvia, Anjos das Lua, Diogo Nogueira, Ana Costa, entre outros).
  • A Rádio MPB FM (ouça online) - no Chat das 5, Zé Renato conversa com os internautas sobre suas regravações de Noel Rosa e o aniversário do poeta da Vila.
  • Noel Rosa, sua vida e seus amores - apresentação única no Universo Cultural da Matilde em São Caetano (Grande ABC), nesta sexta-feira, às 20h - entrada franca.
  • Fica a sugestão de filme para quem não quer sair de casa: Noel Rosa - o Poeta da Vila.
  • Para saber de mais eventos, acesse a Agenda do Samba & Choro.
  • Livros e filmes
"Deus vê tudo e tudo sabe / Mas não sabe calcular / A hipocrisia que cabe / Dentro deste teu olhar" em Verdade Duvidosa.
Festa no céu este fim de semana!

[update] - Vamos combinar! Este blogue é muito bem frequentado! O Marco Santos, meu amigo, ator, escritor, jornalista editor do Blogue "Antigas Ternuras" pediu que eu fizesse uma correção no parágrafo em que escrevo sobre os integrantes do Bando de Tangarás - do modo como eu havia exposto, dava a entender que João de Barros era almirante. Almirante era como chamavam Henrique Foréis Domingues e João de Barro, o Braguinha; duas pessoas distintas!

E a festa continua!!

Beijus,

...em quietude, sem solidão

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