Vou-lhe passar a minha senha.

Ontem no almoço, quando estava navegando pela carta de bebidas e nas meticulosidades da vida - completamente aérea, por assim dizer - Não, eu não tinha bebido nada. Ainda. Pensava no que tinha de escolher... Senti alguém se aproximar e colocar as mãos sobre os meus ombros, inclinar-se e dizer em meu ouvido: "Agora que te encontrei, só quero dizer para você: Foda-se!". Depois do susto, isso me fez abrir um enorme sorriso. Nós rimos e nos abraçamos como duas meninas da escola que compartilham uma ligação secreta.

A senha era: Foda-se! Sim, vamos apenas dizer "Foda-se!" Quando olharmos uma para a outra e percebermos que estamos bem, bem demais para a desgraça alheia! Foda-se!

E eu ainda estou sorrindo enquanto escrevo esse post!

Colegas de escola, longa distância nos separando, longo tempo sem nos vermos ou mesmo sem nos falarmos. O destino quis que não soubéssemos onde cada uma de nós estava nesse mundo. Um encontro ao acaso e ela ainda se lembrava da nossa SENHA.

Talvez esse seja o segredo das relações duradouras: Escutar, para zelar pela cumplicidade. 

Quando tenho conexão com alguém, mais escuto do que falo. Naturalmente não sou de falar muito ou rir alto. Meu sorriso é silencioso e algumas pessoas até dizem "misterioso". Sou bastante humilde para não falar de mim ou das minhas coisas. Me sinto "ramerame". Não é, Denise?

Nessa hora decidi que aquele encontro precisava ser brindado e juntamos todos em uma grande mesa. Lembramos situações perdidas e eu resgatei um pedaço de mim que estava também perdido no passado.

"Você se lembrou da nossa senha? E isso significa alguma coisa .... Isso não é nada mais que incrível? Mas eu também estou testemunhando o quanto as pessoas podem participar da nossa vida e mesmo assim não possuir uma cumplicidade - Estamos sozinhos em nossos pensamentos e sentimentos...".

"Mas era justamente isso que eu estava pensando um pouco antes de você tocar em meu ombro... Que estranho! Deixa te abraçar um cadinho mais para saber se é mesmo real".

(...)

-Comecei um blogue...

-Todo mundo tem blogue...

-O meu fará dez anos... Acho que é isso!

-Você é louca?

Pronto, estou diagnosticada! Sou portadora de uma doença corriqueira. Todo mundo tem blogue e haverá alguém no futuro para explicar porque é que houve a proliferação de blogues; uma doença que as outras mídias queriam banir, mas que sobreviveu ao acelerado mundo da internet?

Um dos transtornos blogais é a bipolaridade. O comportamento do blogueiro oscila entre a euforia e a falta de inspiração. Eu estou esperando pela cura, pela validação e também pela tranquilidade de que não estou navegando sozinha e aqui vejo as pessoas lutando para criar seus filhos, passando por dificuldades conjugais e financeiras... Recebo todos os tipos de confidências, de pessoas reais que muitas vezes precisam usar máscaras por enes motivos, algumas "máscaras de perfeição" que auto se impõe por causa das armadilhas da vida. É muito difícil! Mas algumas pessoas estão conseguindo e outras já estão prontas para as mudanças em suas vidas.

O mundo parece estar à procura de algo .... Alegria, felicidade, paz... Assuntos que já falei bastante por aqui e que tenho a honra de ser uma voz pequena, uma história de vida ainda pequena diante do grande movimento que temos de fazer para realinhar nossas perspectivas e ainda preciso (con)viver com essa doença, que me faz ter a necessidade de doses diárias de "vozes".

Pintura de Zoe Pawlak

Mesmo louca, fiquei feliz em saber que estou fodida! :D

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