Do que se alimenta seu cérebro?

Se você colocar no Google "treinamento cerebral direito", visualizará aproximadamente 418.000 resultados em 0,38 segundos... Essa procura se baseia na crença de que os hemisférios, esquerdo e direito são polos opostos. O lado esquerdo do cérebro é muitas vezes caracterizado como o lado inteligente: racional, lógico e analítico. Em contraste, o lado direito do cérebro é estereotipado como o hemisfério artístico, criativo e emocional.

Tais estereótipos têm levado teóricos a sugerir que as pessoas podem ser classificadas de acordo com sua "hemisfericidade". Mas creia, essa noção de "hemisfericidade" que alimenta a imaginação popular, não é suportada pelas pesquisas da neurociência. Nós usamos os dois lados do cérebro ao executar qualquer tarefa e a ideia da "hemisfericidade" do cérebro foi desmascarada na literatura científica na década de 1980 e mesmo assim, os programas de treinamento cerebral parecem estar ganhando popularidade. Tais tentativas estão condenadas porque os dois hemisférios estão fortemente interligados e em constante comunicação. Uma informação do lado direito para o lado esquerdo é transmitida em 20 milissegundos, ou seja, dois centésimos de segundo!

A imagem abaixo não mostra a realidade atual, mas é de uma artista reconhecida. Belle Yang, assim como aqueles que não possuem curiosidade sobre o assunto, podem ser facilmente levados a acreditar em informações erradas veiculadas por oportunistas.

Algumas informações sobre o comportamento feminino e masculino também são fonte de oportunismo, baseadas também na forma como processamos o nosso pensamento. Veja essa afirmativa:

"Ao contrário da sabedoria popular, as mulheres são mais lógicas do que os homens e os homens são mais intuitivos do que as mulheres (em média). Parece errado, não é mesmo?"

Você acha que a afirmativa acima é certa ou errada? Ela está correta, apesar de que "socialmente" é esperado que seja o contrário. Você já parou para pensar porquê a sociedade dita que o homem é "assim" e a mulher é "assado"?

Criança tem resposta para tudo e quando entrevistei um menininho sobre as tais diferenças de comportamento entre homens e mulheres, a resposta veio rápida: "A diferença está em como os homens usam seus pés e suas mãos. Desde pequeno o menino usa mais o pé que a mão. A menina, usa mais as mãos; ela borda, costura, pinta, é mais caprichosa nos cadernos, aprende a cozinhar mais cedo... Nós, os meninos, desde pequenos só pensamos em jogar bola. Por isso desenvolvemos mais os músculos e somos durões. As mulheres são mais jeitosas para as coisas e delicadas".

Hum... faz sentido! Mas... durões x delicadas é para se conversar!

Mudando de assunto ou não, você sabe como a linguagem é processada em nosso cérebro?

No cérebro, quase tudo que lá se processa é um enigma e só recentemente os cientistas começaram a entender como as palavras ganham significado antes de serem formadas as frases. Imagino o quanto deve ser difícil entender a química cerebral, afinal, nessa caixinha cinzenta cabem aproximadamente 86 BILHÕES de neurônios, 1 MILHÃO de conexões cerebrais realizadas a CADA SEGUNDO e pasme, a energia que o nosso cérebro consome para realizar todas essas conexões é de 12 WATTS - menos do que uma lâmpada pequenina de refrigerador.

Tudo muito rápido e se não dá para congelar a imagem, muito menos que essa energia seja cortada... Cortada? Acho que aqui cabem os lapsos de memória, os esquecimentos definitivos, perda da coordenação motora, paralisias... - mas os cientistas deram o seu jeitinho e descobriram que ao contrário do que era dito anteriormente, usamos toda a nossa capacidade cerebral e não os 10% que eram veiculados antes. O problema está em como usamos o nosso banco de dados.

O músculo cerebral se torna forte conforme ele é treinado, através de DESAFIOS. Você pode ler ou estudar, mas se for em um processo repetitivo, esses podem ser esquecidos rapidamente - a repetição (decoreba) treina até animais irracionais - Para ativar o raciocínio, precisamos de muito mais do que percorrer o mesmo caminho. É preciso dinamizar e intercalar ações com informações novas. Aqui entram outros mecanismos de aprendizado, pois não sei se percebe, mas ao transcrever o que você aprendeu para o papel com suas próprias palavras, a informação é mais fácil de ser assimilada. 

Escrever é gesto simultâneo com o raciocínio que força os seus neurônios a praticar uma espécie de musculação cerebral. Esse processo se torna inviável quando você não tem uma boa circulação sanguínea - Não entendeu?  Como um músculo, o cérebro precisa de oxigênio para trabalhar e esse só chega no topo, se a sua circulação estiver ok. Daí entram os exercícios físicos que ajudam a "oxigenar" os neurônios.

Da mesma forma, quem não pratica exercícios físicos e somente tem leitura fútil, tornará com mais rapidez o cérebro ineficiente. Encher seu cérebro com conteúdo ruim, como certos programas de TV, informações inúteis na internet... entedia o cérebro e isso é bem danoso! Mas, com o propósito de relaxar, pode ser feito vez ou outra, porém se fizer disso um hábito diário, todo o seu processo de raciocínio poderá ser colocado em risco.

Duas pessoas podem exercitar seus cérebros de forma igual, mas por que suas formas de raciocínio são diferentes? Aí depende, não só da estrutura cerebral que possuem, mas do que elas fazem em seus momentos de lazer.

Leia sempre mais assuntos diversificados e coloque em prática o seu conhecimento. Conte no seu blogue ou para alguém próximo a você. Muitos estudantes se dão bem nos estudos, quando ensinam para os seus colegas de classe. Ajudar nos enriquece!

• Leitura recomentada: Aprendizagem e mudanças cerebrais

O treino é fundamental para qualquer especialidade. Quem quer ser um escritor, precisa ensaiar para entrar para esse universo. Ninguém nasce escritor ou matemático, cozinheiro ou bom pai (mãe). Tudo é exercício com grande dose de paciência.

A escrita propiciou ao ser humano seu desenvolvimento cerebral, mas antes desse fato, a aprendizagem da escrita começa em nossa vida muito antes de qualquer tentativa formal de ensino (Marchesan & Zorzi 1999/2000). É preciso primeiro aprender a falar e ter uma boa noção das relações entre os sons, por exemplo.

A "nossa história" começa com a utilização da escrita. Antes disso, a "nossa história" não é nossa, ela é a "história de nossos pais", pois eles que possuem o testemunho da nossa vida. Quando começamos a ensaiar a escrita com os primeiros rabiscos, começamos também a ensaiar a nossa independência intelectual. Antes disso, as nossas reações físicas são as que traduzem os nossos sentimentos e as crianças muitas vezes não conseguem traduzir esses sentimentos através de reações físicas. Algumas se calam, outras choram demais, são arteiras, não dormem direito a noite, não socializam  ou acontece o oposto, falam demais, choram de menos, são apáticas, dormem demais, assumem comportamento adulto... A arte nos salva!! Através do desenho ou de rabiscos, a criança começa a se expressar. Ironia, porque a aproximadamente 3500 anos antes do nascimento de Cristo - quando se tem registro do surgimento da escrita - esse marco histórico fez dividir o tempo e o que ficou para trás, denominou-se Pré-história.

A "nossa pré-história" é um período nebuloso. Quem se lembra de quando ainda era bebê? Talvez alguém se lembre de quando falou papá, mamã...? Você se lembra mais do período escolar, não é mesmo? Isso não é coincidência... Você trabalhava bastante as mãos. Pintava, modelava massinhas, empilhava blocos, montava quebra-cabeças... treinava sua coordenação motora fina e o movimento de pinça, o que possibilitou a escrita.

“Quanto mais conhecermos a respeito da natureza e complexidade da escrita, mas poderemos entender as transformações que ela exige no modo de funcionamento mental da criança” (Zorzi, 2002)

Além da escrita, o nosso cérebro precisa do impresso. Não à toa, alguns escritores que escrevem no computador, imprimem seus escritos antes da correção, pois no computador o olho precisa montar um mosaico de pixels para formar a imagem de cada letra e depois transformar essas imagens em palavras e frases. Esse tráfego dificulta a concentração e a imersão, tornando a leitura cansativa. Por outro lado, nos livros impressos não temos o hiperlink que torna a leitura mais dinâmica, não deixando o cérebro entediar.

Por ser mais confortável visualmente, os livros impressos jamais deixarão de existir. Quem pensou que os livros iriam acabar do mesmo modo que acabaram os cds, estão enganados. Segurar um livro nas mãos exige um vínculo muito maior com o objeto.

"Ao contrário do que sonham os próceres da inteligência artificial e da realidade virtual: sem a interação com o ambiente não se produz vida humana. A vida está nos processos biológicos, e a mente é um estágio que resulta da soma do cérebro com a linguagem" (Robert K. Logan)

Diversifique seu conhecimento.
Liberte o livro que já leu.
Seu cérebro agradecerá!

Obrigada aos participantes do BookCrossing Blogueiro!!

Foram mais de 955 livros libertados!

Até Novembro com a Sétima Edição!!