O valor das palavras no Natal

Luma com amigos

Dia 28 de novembro de 2005. Telefone toca e do outro lado escuto: “A bolsa estourou”. Após vários sinais de “pare” desrespeitados, encostei o carro em frente de casa. Sim, Elisa nasceria. Três meses antes do previsto, fizemos um caminho que esperávamos fazer apenas depois do Carnaval.

Primeira parada, hospital do convênio. Não cobriam, pois havia mais um mês de carência. Não teríamos condições de pagar, pois Elisa precisaria de UTI-Neo e me custaria os olhos da cara. Dois telefonemas depois, estávamos em frente ao Hospital Municipal de SJC. Entramos, saí, voltei quatro horas depois e lá estava minha filha. Esperei mais um tempo ainda para vê-la. Não tinha noção da gravidade da situação quando “Dircéia” mostrou-me Elisa pela primeira vez. Minúscula, frágil, indefesa.

Ali começou uma luta de três meses. Elisa teve várias paradas respiratórias, precisou fazer diálise, precisaria de uma operação no coração, corria o risco de ficar cega… O panorama era tão assustador que era difícil acreditar que ela seria uma criança normal. MAS NÓS ACREDITAMOS.

Imagens dela pequenina.

Vocês têm dúvidas de que ela era pequenina?

Passamos o Natal ao lado dela ali na incubadora da UTI-Neo, passamos o Ano Novo no mesmo lugar. Íamos três vezes ao dia e já conhecíamos a história das enfermeiras. Esse tratamento humanizado aquecia nossos corações e nos fazia acreditar mais ainda. No entanto, muitos foram os sustos, mas diante das situações vistas com outros bebês, nem nos abalávamos como aconteceria com qualquer “casal normal.” Lembro-me, por exemplo, de um domingo em que ainda fazíamos os procedimentos de higiene para entrar na UTI e uma das enfermeiras passou ao nosso lado e disse “conversem bastante com ela, pois ela (sic) deu trabalho essa noite”. Entendiamos muito bem esses eufemismos e nesse aspecto cabe outro comentário.

[Imagem: carinho materno]

Damos valor às palavras conforme associamos a elas nossas experiências. Pra nós aqui em casa, palavras como “intercorrência”, “estável” e “bem” nunca terão o mesmo valor que tinham antes de nossa primeira filha.

Por fim, algum amigo que porventura leia esse post vai pensar que apostatei da fé. Não meus caros. Acredito piamente que a cura da Elisa estava nos planos de Deus. Assim como estava colocar médicos competentes que estudaram para atendê-la e se dedicaram noites a fio. Sem eles, certamente, grande parte dos meus momentos mais felizes não existiriam.

[imagem das enfermeiras]
Aniversário de 1 ano da Elisa.
As enfermeiras que cuidaram dela estavam presentes.

Convidado: Rogério Bauru é editor do blogue "Análise de Texto", onde assina @profBauru.

A publicação desse texto, nessa época do ano é justo para nos atentarmos mais para a valorização da vida, da família, da solidariedade e principalmente do amor em suas diferentes formas.

Sei que o bichinho anda um pouco apagado,
Mas não seria de todo mal
Se carregassem no peito o espírito do natal.
Ele está aí do lado querendo entrar em vosso coração.

“Rezei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu… confirma nela os teus irmãos“
(Jesus à Pedro)

Muita luz no seu Natal!
Com carinho,
Luma.