Potências Fracionárias de um Povo
Hoje terminei de ler esse livro - Vertentes e Evolução da Literatura de Cordel - Achei que poderia ser difícil para mim que nunca tinha me interessado pelo assunto. Leitura muito fácil.
No dia 7 de setembro foi aniversário da ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel). Completou 17 anos de empenho em divulgar a literatura de cordel para o Brasil e para o mundo e a comemoração foi no Auditório da Federação das Academias de Letras do Brasil, no Rio de Janeiro. Ganhei o livro de presente de uma amiga que participou da comemoração.
A literatura de cordel já existia desde a época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões. Chegou à Península Ibérica e recebeu os nomes de "pliegos sueltos" (Espanha) e "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal). No Brasil se estende da Bahia ao Maranhão como manifestação da inteligência dos poetas de bancada e de gabinete. Futuramente nossos bardos do improviso.
Patativa do Assaré era um desses repentistas, talvez o mais famoso para nós aqui do sul.
Mas o destaque desse post vai para Severino de Andrade Silva, mais conhecido como Zé da Luz. Nasceu no início do século, em Itabaiana, PB, precisamente no dia 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965. Seu trabalho é conhecido pela linguagem matuta presente em seus cordéis. Admirado por Manuel Bandeira e por José Lins do Rego, nordestinos como Zé da Luz.
Onde ressalta o charme do Brasil interiorano. Fala das festas de vaquejada, do São João e da autenticidade dos brasileiros.
A seguir um outro texto que foi sucesso na voz de Lirinha, do grupo Cordel do Fogo Encantado, gravado ao vivo em Porto Alegre-RS. Na gravação, Lirinha diz que avisaram Zé da Luz que, para ele falar de amor deveria usar um português formal e correto, então ele escreveu o mais formal que pode, dentro da sua simplicidade:
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
Todas as gerações de poetas nordestinos têm o seu Catulo da Paixão, Seu Zé da Luz, o Seu Patativa do Assaré. Autores que reverenciam o mundo rural, dotados de memória e agilidade verbal, com o óbvio pendor para a nostalgia e axaltação dos valores do campo. Uma viagem!
O passado e o futuro interagindo, de um lado o cordel e de outro meu pocket game - vício de quem não pode deixar as pontas dos dedos sossegados!
Quem disse que pocket game não é terapia! Vai-se pensando em fatos e interligando acontecimentos. E já que estão aí relaxados podemos tocar em um assunto que passa-me seco pela goela abaixo.
Seu Adeliro de Sousa, aos 65 anos pegou os familiares de surpresa. Estava bem de saúde e Faleceu vítima de um AVC, Acidente Vascular Cerebral. "Seu" Adeliro era o pai do publicitário Marcos Valério, o responsável pelo mensalão.
Miguel do Rosário, colunista da Novae, assim escreveu:
O Marcos Valério fez escola dentro do PSDB, arrecadando dinheiro para o Eduardo Azeredo na campanha de Minas Gerais, está provado e assumido pelo próprio Azeredo, em uma cena patética na TV. Valério era sócio dum figurão do PFL, também está provado, documentado e assumido. Os contratos de Valério com o governo federal têm quase 20 anos, tendo se ampliado muito no governo FHC.
Conclui-se que, Marcos Valério era um homem bem conhecido do mercado. Isso posto, juntemos a essa informação dois comentários certeiros do Luiz Weis sobre a imprensa.
- O primeiro fala dos métodos da maior cadeia de tv do país:
É absolutamente inadmissível a participação de um jornalista – no caso o repórter César Tralli, da Rede Globo – no circo armado pela Polícia Federal ao chegar a São Paulo com o filho de Paulo Maluf, Flávio.- O segundo texto, do mesmo Weis, é sobre o modo com o que o jornal Estadão constroe suas manchetes:
O Estadão de ontem trouxe na primeira página uma foto que ocupa mais de 1/4 do espaço disponível. Com o crédito de Celso Júnior, da Agência Estado, mostra o presidente da República e outros no palanque do Dia da Pátria.
Muito bem, associe os textos - Os dois escritos de Weis são pontuais e relatam o "jeito de ser" da nossa imprensa caraquenha. O notíca sobre a morte do pai de Marcos Valério, expõe um fato devidamente engavetado pela mesma imprensa. "Seu" Adeliro, vítima de um tipo de jornalismo iniciado com o caso paulistano da Escola BASE e que nunca mais foi deixado de lado: lincha-se primeiro e apura-se depois. Se os envolvidos forem amigos do interesse privado a reportagem sai da pauta, passa-se ao largo. A dinheirama que as agências de publicidade movimentam se mantêm em uma redoma protetora, assim como os escândalos dos parlamentares amigos vivem cercados de "não me toques".
O linchamento público de Marcos Valério, único homem mau da história, seria o causador da morte do pai? Não poderia estar escrito nas estrelas que "seu" Adeliro teria um AVC em setembro de 2005?
No jornal da Band, a morte repentina de "seu" Adeliro revelou o incômodo que o apresentador Ricardo Boechat sentiu ao transmitir a notícia.
Não votamos no Marcos Valério. Ele tem algum dever para com nós. Todo cidadão, no mundo quer ganhar dinheiro. O Maior erro do Marcos Valério foi querer ganhar dinheiro fácil. Ele se prostituiu para os partidos políticos. Os maiores culpados ainda se escondem.
Tenho a impressão que se a origem da dinheirama não for descoberta, se todos os responsáveis e envolvidos pelo escândalo não forem pegos e punidos, se a imprensa fizer corpo mole e não furungar até a exaustão, a morte do seu Adeliro será debitada como homicídio doloso na conta de todos nós, platéia deste circo chamado Brasil.
Não sabia o porque de estar escrevendo sobre o Cordel e pensar em Brasília. Mas logo lembrei que;
- Podia ser por causa dos atores revelados nas CPIs
- Por causa do cineasta Wladimir Carvalho – que deu aula na Unb (Universidade de Brasília) por 25 anos, natural também de Itabaiana, terra de Zé da Luz.
Wladimir sempre teve preocupação com a memória do cinema e do Brasil e nos agraciou com vários documentários. Com percepção do olhar documentou passagens marcantes como a morte do índio Gaudino, que por obra do acaso, no dia em que morreu estava indo para uma manifestação e pintado como quem vai para uma guerra.
Na entrevista que fez com Oscar Niemayer questionou sobre a chacina na Pacheco Fernandes Dantas, construtora encarregada de várias obras na Nova Babilônia (Brasília) - Oscar titubeou e não quis falar sobre o assunto.
Brasília nasceu para o cinema, nasceu sendo filmada. Os personagens que aqui estão, estão sempre fugindo desse horizonte retilíneo
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