Gold old in Brazil
Uma das boas coisas de se morar fora do Brasil é receber todas as semanas visitas e telefonemas de amigos brasileiros de passagem e contar-lhes as novidades que me são dadas a perceber, indicar-lhes lugares e programas que me agradam, adverti-los sobre as ciladas locais.
Se bem que, como é bem brasileiro, há abusos. Como uma desconhecida que ligou, a cobrar, de São Paulo, para se apresentar e pedir dicas. Um pouco demais, não? No mais é um prazer.
Mesmo lendo jornais brasileiros pela internet, sinto que on-line falta aquele “sabor local” que só se tem “in loco” e, no caso brasieiro, muitas vezes “in louco”, de calor e preguiça. Como de uma fundação que me contaram para “resgatar e preservar” a bossa nova (provavelmente com dinheiro público), que está completando 50 anos, contados da gravação de João Gilberto de “Chega de Saudade”. Alguém sabe a data certa?
Achei engraçado, porque não existe coisa mais preservada, nem resgatada que a bossa nova, tanto no Brasil quanto fora dele, onde virou música de elevador, aeroporto, sala de espera e salão de hotel.
Mais preservada impossível: Está numa espécie de formol virtual característico da cultura pop. Mas não se pode confundir bossa nova com bossa nova. Não escrevi errado, não. É isso mesmo, pra não dizer outra coisa.
Ou melhor, a arte e invenção de João Gilberto e Antônio Carlos Jobim, com todos os seus melhores e piores sucedâneos e diluições, com musak tropical, como loung music. O som de Tom e João não é só a mais poderosa influência em todos os grandes músicos brasileiros que vieram depois deles, como fez a cabeça de gênios como Miles Davis e Stevie Wonder e lhes garantiu lugar nobre entre os grandes criadores musicais desse século. Com a arte de Tom e João eternamente viva, diluída no tecido sangüineo do jazz, não há com que se preocupar.
Chegamos lá: a bossa nova é a maior e mais bem-sucedida, talvez única, aventura cultural brasileira na melhor música popular do Ocidente.
Agora, feitas no Brasil ou fora dele, imitações são sempre imitações, e estão fora de moda. A não ser em elevadores, aeroportos, lounges, etc.
Então, uma das coisas a evitar fora do Brasil é grupos brasileiros tocando bossa nova em barzinhos. É triste e melancólico, embora tente ser alegre e leve.
Uma coisa é a genial invenção, definitiva, perfeita, de João e Tom em “Samba de uma nota só”, outra é sua repetição mecânica, monótona e chatíssima. Uma das melhores coisas do mundo musical é a primeira, a outra é das piores. Uma espécie de Bolero de Ravel pop minimalista, um clássico da chatice.
Muitas vezes caí na cilada de um barzinho desses e senti o fantasma do Nelson Rodrigues ao meu lado me cochichando que não há nada mais velho do que a bossa nova. Claro: O samba é muito mais moderno!
João e Tom, ao contrário, são eternos, em permanente movimento.
Nair do Valle
O Texto acima é da minha mãe e como prometi a ela, está sendo publicado junto com um outro, lá no Nós por Nós.
Bom fim de semana para todos!
Beijus
Se bem que, como é bem brasileiro, há abusos. Como uma desconhecida que ligou, a cobrar, de São Paulo, para se apresentar e pedir dicas. Um pouco demais, não? No mais é um prazer.
Mesmo lendo jornais brasileiros pela internet, sinto que on-line falta aquele “sabor local” que só se tem “in loco” e, no caso brasieiro, muitas vezes “in louco”, de calor e preguiça. Como de uma fundação que me contaram para “resgatar e preservar” a bossa nova (provavelmente com dinheiro público), que está completando 50 anos, contados da gravação de João Gilberto de “Chega de Saudade”. Alguém sabe a data certa?
Achei engraçado, porque não existe coisa mais preservada, nem resgatada que a bossa nova, tanto no Brasil quanto fora dele, onde virou música de elevador, aeroporto, sala de espera e salão de hotel.
Mais preservada impossível: Está numa espécie de formol virtual característico da cultura pop. Mas não se pode confundir bossa nova com bossa nova. Não escrevi errado, não. É isso mesmo, pra não dizer outra coisa.
Ou melhor, a arte e invenção de João Gilberto e Antônio Carlos Jobim, com todos os seus melhores e piores sucedâneos e diluições, com musak tropical, como loung music. O som de Tom e João não é só a mais poderosa influência em todos os grandes músicos brasileiros que vieram depois deles, como fez a cabeça de gênios como Miles Davis e Stevie Wonder e lhes garantiu lugar nobre entre os grandes criadores musicais desse século. Com a arte de Tom e João eternamente viva, diluída no tecido sangüineo do jazz, não há com que se preocupar.
Chegamos lá: a bossa nova é a maior e mais bem-sucedida, talvez única, aventura cultural brasileira na melhor música popular do Ocidente.
Agora, feitas no Brasil ou fora dele, imitações são sempre imitações, e estão fora de moda. A não ser em elevadores, aeroportos, lounges, etc.
Então, uma das coisas a evitar fora do Brasil é grupos brasileiros tocando bossa nova em barzinhos. É triste e melancólico, embora tente ser alegre e leve.
Uma coisa é a genial invenção, definitiva, perfeita, de João e Tom em “Samba de uma nota só”, outra é sua repetição mecânica, monótona e chatíssima. Uma das melhores coisas do mundo musical é a primeira, a outra é das piores. Uma espécie de Bolero de Ravel pop minimalista, um clássico da chatice.
Muitas vezes caí na cilada de um barzinho desses e senti o fantasma do Nelson Rodrigues ao meu lado me cochichando que não há nada mais velho do que a bossa nova. Claro: O samba é muito mais moderno!
João e Tom, ao contrário, são eternos, em permanente movimento.
Nair do Valle
O Texto acima é da minha mãe e como prometi a ela, está sendo publicado junto com um outro, lá no Nós por Nós.
Pessoal, no dia 18 de Outubro minha mãe fez aniversário. E as suas memórias são carregadas de muita saudades de um tempo, que se era melhor, não sei. Era pelo menos era mais autêntico. Apareçam lá e prestigiem!
Beijus
Tomei conhecimento deste texto através da noticia de sua perda, relatada em seu ultimo post.
ResponderExcluirLamento... Imagino que seja uma dor intensa; experimentei algo parecido ao perder meu irmão gêmeo, a 5 anos.
Gostei do que li aqui.
Tentei ir ao Nós por Nós, não deu.
Abrçs apertados.