Transitoriedade

A sutileza dos anos.

Em 1974, o fotógrafo americano Nicholas Nixon (1947), inspirado nas fotografias de Edward Weston e Walker Evans, fotografou sua esposa Beverly, carinhosamente chamada de Bebe e suas três irmãs. Em 1975, ele novamente retratou o grupo. Nessa época, Bebe tinha 25 anos, sua irmã Heather 23, Mimi 21 e Laurie 15 anos. Dessa vez, o fotógrafo ficou muito satisfeito com o resultado do seu trabalho e no ano seguinte, para comemorar a formatura de Laurie, ele convidou as quatro mulheres para novamente posarem para ele. Foi quando Nixon teve a ideia de nos anos seguintes reuni-las para sessões de fotos.

Em 1999, quando a série de fotografias resultantes atingiu o seu 25º aniversário, o Museu de Arte Moderna publicou o livro "The Sisters Brown", apresentando todos os retratos em sequência. Essa edição esgotou e uma nova edição foi elaborada, com anos 33 de fotografias das irmãs - um terço de século - que também inclui oito novas fotografias como bônus.

Nicholas Nixon: The Brown Sisters. Thirty-Three Years, completou em 2011, 3 anos de publicação e aqui observo os dados errados publicados em alguns locais da internet que somam, a data de publicação (2008) com mais 3 anos e erradamente escrevem que o fotógrafo clicou as irmãs por 36 anos.

Passadas mais de três décadas, essa simples ideia ainda faz sucesso.

The Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters BrownThe Sisters Brown
Imagens Fraenkel Gallery

Desde 1974, Nicholas Nixon trabalha como fotógrafo e agora é professor de fotografia no Massachusetts College of Art, em Boston. Ele se concentra em retratos e fotografia social. Sua obra mais famosa é a exposta acima, "The Sisters Brown" e seus quadros estão incluídos em coleções na National Gallery of Art (Washington), no Metropolitan Museum of Art (Nova Iorque), Los Angeles County Museum of Art e no Museum of Fine Arts, em Boston.

A série "The Sisters Brown" mostra como é difícil compreender a finitude. O tempo que corrói o corpo, que faz a retração da pele e empalidece a aparência, é o mesmo que torna o olhar mais intenso, obstinado e suave.

Não sabemos quase nada sobre essas mulheres e ainda assim é comovente ver como as suas feições mudaram com o passar dos anos, porém a essência do relacionamento fraternal se manteve durante todos estes anos. Como se assegurassem para nós que as feições mudam, mas os princípios que as imagens indicam permanecem intocados.

Em 2001, Philip Roth, escreveu "The Dying Animal" (O Animal Agonizante), um romance que também virou filme, onde David Kepesh é um professor - modelo clássico do homem que ao começar a envelhecer, procura por mulheres com um terço de sua idade - que ao se confrontar com a proximidade da morte, é atormentado com o desejo contínuo de se manter jovem - o professor se atormenta com a impotência do homem para conter sua própria finitude. Ninguém pode mudar os estágios da vida para além do palco onde se situa. Você pode mudar a sua história ou o contexto, inverter fases de vivência, mas o corpo obedece uma história natural, que você saberá depois de uma idade, que a degradação física é igual para todos, mesmo que você tente abreviar com todos os cuidados possíveis. A ferocidade da objetividade é cruel. David Kepesh, ele contempla a vida de uma posição solitária. Assim como dificilmente as pessoas fazem diante de fatos irremediáveis. Resigna-se!

O que você observou nas fotos, além das aparências?

O relógio foi inventado no final do século 13, mas o tempo existe a muito mais. Muitos processos antes eram considerados aptos para medir o tempo e a natureza cumpria muito bem essa função; o homem observava os fluxos e refluxos - o sol, a lua, estrelas, desabrochar das flores, o cair das folhas, os tons das cores do céu e a movimentação do mar. Depois o relógio assumiu a posição de guardião ditatorial.

No século 16, a ética protestante colocou o foco de atenção em como a vida era vivida antes da morte, e, doravante, desperdiçar o tempo passou a ser considerado um pecado. No século 19, o ritmo das máquinas começaram a determinar as nossas vidas e as pessoas se esqueceram do que eram capazes enquanto crianças: esquecer o tempo.

Nicholas Nixon nos torna conscientes do tempo e a câmera é o seu cronômetro; consegue conciliar atitudes contrárias: esquecer o tempo e estar obcecado com o tempo - o que reflete nos rostos das irmãs Brown como um processo de avanço do envelhecimento: o fenômeno do próprio tempo e, em última análise, provavelmente, também transitoriedade.
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Com pesar soube da morte da blogueira Renata Faria, com apenas 45 anos no início desta semana. Não sei se foi despedida, mas o seu último texto: Passa. Tempo - está muito dentro do que estou escrevendo agora e como não acredito em coincidências, aconselho a leitura. Um trecho:

"Mesmo que por algum motivo o relógio pare, o tempo não, continuará a rodar o mundo, a voar os pássaros, a nadar os peixes, as ondas vêm e vão levando areia e trazendo de volta, o sol nasce e finda pela chegada da noite, assim nada pode deter o futuro que virá presente e torna-se passado e lá fica guardado no inventário do tempo..."

Imagem roubada descaradamente do blogue da Beth/Lilás

Você mulher, tem medo de derrapar ao dobrar a esquina dos 50 anos? Você homem, tem medo de capotar junto com essa mulher? E se tiver uma ladeira depois? Esse temor ancestral vem da época em que não havia luz elétrica ou tintura para cabelo e os 50 anos de idade, representavam, também, o ponto final da existência. O tempo passou, a ciência avançou e a expectativa de vida das pessoas aumentou. Claro que esse tempo merece ser vivido da melhor forma possível.

Quer entender essa fase? Te convido a ler o livro "Na Esquina do Tempo, nº 50", da Gloria Leão. Se você mora em Niterói ou perto, no dia 03 de Junho, acontece a noite de autógrafo, lançamento do livro naquela cidade - Se tiver qualquer dúvida de como chegar, acesse o Facebook e converse diretamente com a escritora. Quem está chegando agora, a Glória é nossa amiga blogueira, editora do blogue "Café com Bolo & Glorinha".

Você acha que está longe dos 50? Tolinha, o tempo corre e quanto antes você compreender essa fase, melhor - você também deve ter mãe, avó, tia... Não é, meninos? Vamos entender esse mulherio, para melhor conviver!

Um aperitivo:
"Bem-vindos 50 anos. Bem-vinda menopausa. Que pausa o quê! Pausa de quê? Era apenas um novo começo. Tempo de avaliar o que realmente importava na vida. Fase crítica? Só se fosse pelo olhar crítico diante dos fatos, analisando, pesando, enxergando o que antes não via.
Analista e terapeuta de si mesma foi o que aprendeu a ser. Foi penoso? Claro que sim. Mas quanta lucidez descobriu que possuía!
As linhas no rosto delimitavam o que foi um dia, a separavam da mulher que apenas vivia, dessa que hoje tinha plena consciência de seus limites. Sabia o que queria, como nunca soube..."

Para comprar visite a Editora Multifoco
Um livro que trata para além das aparências.

27 comentários :

  1. Sem palavras. Simplesmente fantástico.
    Bjux

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  2. Esse trabalho do fotógrado é maravilhoso....
    Vi já nateriormente e vale a pena.



    Tristeza essa morte da blogueira...A vida prega peças...


    O livro da Glorinha está bombando e ela merece!


    Um beijo,tudo de bom,chica

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  3. Oi Luminha :)
    Que lindo e interessante o seu post ... observar o passar do tempo através dessas fotos nos faz perceber em segundos o que muitas vezes se demora anos para chegar perto. Achei lindo ... acho lindo o trabalho desse fotógrafo, muito forte. E as fotos, todas elas, apesar do tempo, transmitem serenidade, harmonia, amor fraternal, como você citou.
    Parabéns, você sempre escreve coisas super interessantes. Amo vir ao seu cantinho.
    Fique com Deus e receba um beijo na sua alma.
    Angel.

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  4. Lumita...espetacular! E não estou falando só do texto que fez sobre o meu livro, estou falando da série The Sisters Brown. Como ninguém teve essa ideia antes? Ano após ano mostrar o que o tempo fez ao rosto e ao mesmo tempo nos mostrando a alma dessas mulheres através de suas rugas, olhares, intensidades...Fiquei com inveja de não ter fotos assim que me mostrassem ano após ano, minhas mudanças, internas e externas...lindo, poético...um olhar sobre o tempo, mas tb sobre o amor, sobre a amizade, sobre tantos sentimentos...
    Estou querendo ler esse livro do Roth e não é de hj...fiquei com ainda mais vontade.
    Obrigada minha querida pela divulgação e, mais ainda, pela sua generosidade ao olhar pra dentro de mim, beijo enorme!

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  5. Luma, obrigada pela visita e pitaco, especialmente pela oportunidade de vir até aqui ler este teu artigo. O livro do Roth já está na fila dos livros para ler neste ou no próximo ano. Este assunto, a transitoriedade, levada a sério, conscientemente (razãomaisemoção-indissociáveis), tornaria a vida de cada um de nós muito mais leve, sem frescuras, como uma passagem, um passeio, com mais "ser" do que "ter", afinal daqui nada se leva.
    Quanto ao pastor... concordo. Não, demora e se apresentou (embora como e rebanho é grande acredito eu que existe mais de um).
    Abraços

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  6. Mas que barato! Fiquei observando os olhares. A mulher loura, terceira da esq para a direita tem um olhar direto para a camera em absolutamente todas as fotos. Seu corpo mudou sem dúvida , mas a força no olhar permaneceu a mesma através dos anos no matter what.

    Beijos

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  7. Sensacional, Luma. As irmãs devem esperar com ansiedade o dia de tirar a foto. Reparou que elas não se produzem, não se "emperetecam" pra foto? Estão absolutamente naturais, sem artifício algum.
    Constatação óbvia: a mais clara envelhece mais rápido.
    A mais nova está equiparada com as outras (menos a loira), enfim, o tempo é inclemente. Amei!
    Beijo!

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  8. A passagem do tempo visível nos traços, fisionomia, mas também pontua a forma de se colocarem nas fotos demonstrando as alianças.

    Como sempre junta extraordinariamente várias informações, cruzando os personagens.
    bjs

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  9. Interessante o trabalho deste fotógrafo. A essência das irmãs continuam as mesmas, mas a aparência muda com o tempo.

    Beijos, Luma.

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  10. Conforme as linhas de expressão ia mudando, a expressão do rosto era a mesma...fantástico..

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  11. Gostaria de envelhecer assim, sem o recurso dos famosos bisturis e outros recursos para esticar e esticar e depois ficar tal qual uma androgina.
    Quero envelhecer na pela mas não na alma e no espirito. É assim que eu consigo ver no olhar dessas encantadorras irmãs.
    O livro om certeza vou tentar comprar fala diretamente para mim, preciso.
    Triste pela partida de pessoa tão nova ainda.
    Beijos meus Luma!

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  12. Muito bacana mesmo!
    Impressiona ver essa sequência de fotos. Impossível não refletir.
    Esse post ficaria perfeito para a nossa coletiva fases da vida!
    Bjs.

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  13. Maravilha,beijo e bom fim de semana.

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  14. Pelas fotos me parece que eram mais unidas e felizes em 2008 que em 75. Será que a idade faz isso com a gente? Sinceramente espero que sim. No ponto em que estou perco mais tempo me questionando sobre o futuro que vivendo meu presente. Erro fatal que muitos cometem. Não é preciso ir muito longe para saber que cada segundo desperdiçado será lamentado um dia.

    Beijos.

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  15. Anônimo17:17

    Olá Cara Luma. Agradeço muito o comentário em nosso Blog. Foi extremamente proveitoso. E quanto ao post. Sempre achei muito interessante os trabalhos que repetem a mesma cena em épocas ou datas diferentes, só não sabia que dava-se o nome de Transitoriedade.

    Muito Legal...


    Att Diego Tranquilino
    Gm Page.org
    www.gmpage.org

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  16. q tudoooooooo...
    achei lindo e emocionante...

    Um ótimo fim de semana para você!!!

    /(,")\\
    ./_\\. Beijossssssssss
    _| |_................

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  17. Luma...
    como a Bel Rech percebi que certas expressões não mudaram e pareceu que nas duas ultimas fotos elas ganharam mais intimidade....

    será que o tempo contribui pra ficarmos um pouco mais "irmãos"?

    será que é isso?

    pensar que estamos indo embora favorece perceber o mais importante?

    tudo lindo...
    e o texto da Renata e as reflexões da Glorinha completam a nossa reflexão.

    obrigada de coração, pelo trabalho que você faz em produzir coisas tão intensas...

    abraço, abraço como forma de dizer que você é muito importante.

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  18. Oi, Luma,

    Fui lendo o texto e pensando: uma idéia tão simples, por que ela não ocorreu a mais gente antes?! rsrs. É realmente comovente observar a ação do tempo nas feições humanas, e as fotos também me lembraram
    um poema do Jorge Luís Borges que diz assim:

    "O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, ma eu sou o fogo...".

    Achei este post muito interessante e ele suscitou em mim várias reflexões.

    Ah, você já está participando do sorteio do meu blog! eu havia estabelecido a exigência de ser seguidor do blog, porque faço sorteios só para os meus seguidores, mas resolvi abrir mão disso, por causa da ausência da caixa de seguidores que nas últimas horas foi 'suprimida' pelo blogger, rsrs.

    Um beijo e bom fim de semana!

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  19. Achei a idéia e o trabalho simplesmente fantástico.
    Eu gosto de olhar as fotos dos anos passados e comparar com as atuais. E observar as mudanças de expressões é incrível.
    Beijos.

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  20. Luma, sempre pertinente, informativo, e preciso o que vc informa e escreve aos seus leitores! Obrigada!
    Bjka!
    ;-)

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  21. Muito interessante!!!

    bjkas

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  22. Oi Luminha! Adorei! Eu sempre quis fazer este documentário (aliás faço com meus alunos nos 4 anos que passam comigo e um deles colocou as fotos no consultório e na última comigo junto. Foi magnífico!)... Eu acho incrível poder marcar o tempo assim! Ótima postagem! Um beijo!

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  23. Luma, adorei.
    As fotos são fantásticas e sua colocação sobre as feições mudarem, mas o amor fraternal estar ali presente foi muito legal. Eu já estava observando certas coisas do genero vendo fotos de família. Vejo umas fotos antigas da minha mãe e minhas tias, minha avó, e vejo hoje, é fantástico. E caramba, como o tempo voo, parece q foi ontem... Ai, ai... Bjs

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  24. Que ideia magnífica, essa sequência de fotos é maravilhosa! Não só por podermos observar a passagem do tempo, como pela emoção que transmitem, os olhares, o contacto entre as irmãs, muito lindo! Não conhecia o fotógrafo, adorei.
    Tb sorri de saber das aventuras do seu gato, e o nome de Zé Ronaldo Gatinho é o máximo! Pelo que percebi, ele já não existe, não é? E agora vc tem gatos? Eu não passo sem eles... :)
    bjs

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  25. Luma
    Que post completo.
    Ver as fotos das irmãs Brown é fantástico. Ver a cada ano o que o tempo faz. Envelhecemos por fora, mas o interior vai se renovando. Lindo a união delas e o carinho que vemos que aumentar a cada ano.

    Fiquei sabendo sobre a partida da blogueira Renata Faria e fui até o seu blog que não conhecia. Seus último post realmente emociona e parece ser uma breve despedida.

    Parabéns a nossa escritora Glorinha e apesar de já estar na fase dos sessenta é sempre bom recordar os tempos que passaram e comparar as nossas transformações.

    Beijos

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  26. Anônimo00:48

    Eu vi essa exposiçao ha anos atras. Tinha lembrança de ter sido no Guggenhein. Mas voce fala ai no Mtropolitan, entao deve ter sido la. Muito legal essa idéia.
    Voce chegou a ver numa bienal aqui que um cara, estrangeiro tb, nao lembro o nome, fez uma sala com retratos 3x4 dele durantes anos?
    A voce o via jovem, depois num processo de envelhecimento. Muito bom. Chama o sujeito a reflexao- hei voce ai- é mortal viu? Vai pensando que a vida é looonga...
    Beijos Luminha, boa semana!
    (quem sabe esse comentario fixa)

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  27. Anônimo23:09

    Ver esse trabalho fotográfico é para mim constatar como o tempo é fugaz; como devemos aproveitá-lo bem da melhor forma que pudermos. Reparei que umas mulheres envelheceram mais que outras. Fiquei imaginando sobre suas vidas; o que passaram, como viveram; Sofreram? Foram felizes?...
    Paz e bênçãos!

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