Preciosidades

Ontem fui procurar o livro pra Larika, maneira carinhosa de chamar Lara (Explicação para Osimar, que fez graça com o apelido da menina) e achei um para Mamy que irei degustar por tabela.

Livro: Dicionário de lugares imaginários, de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi.

"Possui clima ameno, favorável à prática de esportes como a ginástica, o ciclismo e a natação. Situada em um reino bastante liberal, dispõe de um processo seguro de impedir a concepção, prostitutas bonitas e acesso fácil a drogas como a cocaína e a morfina" (do verbete Pasárgada).

Quanto ao da Larika, foi mais simples; ela foi comigo! E adorou as ilustrações do "livro das virtudes para crianças". Bem, eu vou ter que ler o livro todo para ela.

Acredito que nenhum advento dos tempos modernos, seja a televisão ou qualquer outro, superou uma boa estória iniciada pela expressão "Era uma vez..." Mas acredito também que elas tenham resistido à prova do tempo por outro motivo. Elas vão ao encontro não só a imaginação da criança, como também de seu senso moral. Ficam marcadas na sua mente como um guia para a vida inteira.

Quando li nos jornais a suspeita que por detrás daquele roubo d' "O Grito", de Edvard Munch, estivesse um próspero colecionador norueguês (que atualmente radicado no Sul de Espanha, que fez fortuna traficando álcool e cocaína), Pareceu-me muito estranho - alguém gastar uma fortuna, arriscando ao mesmo tempo a liberdade, apenas para poder contemplar sozinho, e em segredo, uma tela famosa - do que comprar um terreno na Lua (com referência ao post de ontem, pra quem não leu).

Quem compra um terreno na lua crê que é seu algo que continua a ser de todos, e, na verdade, não pertence a ninguém. Quem quer que aceite comprar a versão roubada d' "O Grito" (conhecem-se quatro) crê que é seu algo que, todavia, continua a ser de todos, pois toda a gente conhece o quadro a partir dos milhões de cópias impressas que circulam pelo mundo, e nem sequer o pode exibir.

Consigo compreender um pouco melhor os colecionadores cujo prazer consiste não tanto em possuir um qualquer objeto ou obra de arte, mas, sobretudo, em partilhá-lo com outros. Visitei, em São Paulo, a biblioteca de José Mindlin, um homem encantador, talvez o bibliófilo mais experiente e bem sucedido do mundo lusófono, e não pude deixar de experimentar um certo alvoroço quando ele me colocou entre as mãos um exemplar da primeira edição d' "Os Lusíadas", de 1572 (ele tem dois). Não o trocaria, porém, pela edição mais barata do "Livro do Desassossego".

Acho muito bem que se valorize, até que se venere, aquele velho exemplar d' "Os Lusíadas". Trata-se, sem dúvida, de um objeto antigo e respeitável. Ainda assim prefiro lê-lo a venerá-lo. Surpreenderam-me mais os manuscritos que José Mindlin guarda na sua biblioteca. Esses, sim, são únicos, e, além do mais, a caligrafia preciosa e, em alguns casos, também as ilustrações, fazem deles legítimas obras de arte. Neles não é a palavra que brilha (a palavra pode brilhar, com idêntico esplendor, sobre o papel vulgar ou sobre o ouro); é o desenho e as cores.

Quanto a mim, se algum dia, graças a um qualquer golpe da sorte, viesse a dispor de meios suficientes para tal, preferia contratar um bom falsificador, para que me copiasse as minhas telas preferidas. Não vejo muita diferença, em termos de conteúdo, entre uma edição atual, barata, d' "Os Lusíadas", e aquelas que José Mindlin me mostrou; da mesma forma também não há diferença sensível entre uma boa cópia d' "O Grito", e os gritos originais.

Me matem os colecionadores!

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